Estudante baiana desenvolve mecanismo para tratar água de cisternas

Jovem comanda startup com 12 outros voluntários

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  • Thais Borges

Publicado em 16 de novembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Aos 15 anos, Anna Luísa Beserra assistiu Morte e Vida Severina, filme baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, que conta a história de um sertanejo que deixa a vida no interior para buscar dias melhores no litoral. Para ela, que nunca tinha tido contato com a realidade do semiárido, aquele foi um divisor de águas.

Mesmo adolescente, pensou em criar uma solução – prática, rápida e barata – para amenizar a vida de quem vive sem acesso à água. Chegou a submeter a ideia, ainda inicial, ao Prêmio Jovem Cientista, em 2013, mas não foi selecionada. O pontapé para o projeto sair do papel veio mesmo aos 18 anos, ao entrar no curso de Biotecnologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“No curso, tive a oportunidade de transformar a ideia num negócio de impacto social, numa startup”, conta Anna Luísa, referindo-se ao programa Inovapoli, incubadora (projeto para desenvolver empresas) da Ufba. 

Foi assim que nasceu a Safe Drinking Water for All (SWD), startup soteropolitana que criou uma alternativa para o tratamento de água.

A partir de agora, Anna Luísa e um time de 12 pessoas devem dar passos maiores. A SWD foi uma das quatro iniciativas selecionadas para participar da Aceleradora AMA – Inovação para Acesso à Água, programa lançado pela água mineral AMA, da Ambev, que destina 100% do lucro para projetos de acesso à água no semiárido.

Sócio-voluntário Além da startup soteropolitana, outros três negócios foram escolhidos: um brasileiro, um americano e um italiano. Ao todo, foram 72 inscritos entre setembro e novembro. 

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Na SWD, a equipe é formada por voluntários de diferentes áreas do conhecimento. De Direito a Engenharia, passando por Administração e Jornalismo. Foram os próprios voluntários que escolheram aquele que, dentre eles, será sócio do empreendimento: Thiago Vasconcelos, que está concluindo o curso de Engenharia Mecânica.

Juntos, estão levando a SWD – e seu produto, a Aqualuz – para o município de Valente, no nordeste do estado. Em dezembro, serão implantados dois sistemas na cidade, como o primeiro protótipo da empresa.  Thiago e Anna Luísa: parceiros contra a seca (Foto: Marina Silva/CORREIO) “Depois de validados, em meados de janeiro, vamos implantar mais, como usuários beta, talvez uns 10, para que mais pessoas  tenham acesso”, explica Anna Luísa.

A ideia de fazer uma experiência piloto em Valente é justamente porque o protótipo funcional  requer ajustes.

Cisternas Para funcionar, o Aqualuz, um sistema de pouco mais de 2,5 quilos, precisa ser instalado ao lado da cisterna da casa da pessoa, que já vem com uma bomba manual. “Ela (a cisterna) bombeia a água que vai passar por um filtro. Temos a proposta desse filtro ser de  sisal, mas pode ser de outro tipo”, explica Anna.Com capacidade para até 10 litros, o Aqualuz tem um sistema de monitoramento que identifica se a água atingiu a temperatura necessária. Depois, uma luz verde e um sinal sonoro vão apontar quando a água estiver pronta para consumo. Por dia, eles indicam que os usuários tratem até 40 litros de água. 

Para implementar essa tecnologia, os custos são de R$ 800 por cada sistema. “O preço que a gente quer chegar é de R$ 500, sendo que vamos focar em governos e empresas que vendem cisternas”.

As possibilidades no estado são muitas já que, só com o programa Água Para Todos, iniciado em 2007, foram construídas 221.810 cisternas abrangendo cerca de 65% dos municípios baianos. De acordo com a Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb), coordenadora executiva do programa, a iniciativa já beneficiou 783 mil pessoas residentes no meio rural. Segundo o órgão, o Água Para Todos "fomenta a implementação de um conjunto de ações integradas, uma nova forma de gestão participativa transversal e articulando as áreas do saneamento para benefício público". 

Na Aceleradora AMA, uma das propostas é que seja feito outro piloto, além daquele em Valente, diz a gerente nacional de sustentabilidade da Ambev, Andrea Matsui. “(O SDW) É um projeto inovador, que está super bem adaptado ao semiárido com foco nas famílias com cisternas. É um projeto que já usa algo existente no semiárido e é grande a possibilidade de dar certo”, explica Andrea.Um dos critérios para ser selecionado para a Aceleradora AMA era justamente funcionar no semiárido. “A gente também levou em consideração o quão replicável é a ideia, se ela só pode ser feita em um lugar e não funciona em outro, principalmente no caso dos empreendedores de fora. Pode ter uma ideia trabalhando fora, mas com a possibilidade  de fazer um piloto no Brasil”.

Além da SWD, as selecionadas foram a Tenkiv Nexus for Water Purification, do Vale do Silício (Estados Unidos), que tem protótipos para dessalinização de água com energia solar; a Warka Water, da Itália, com protótipos testados na África para condensar o ar e transformar a umidade em água potável; e o Projeto Mudas, do Ceará, que combina irrigação de baixo custo e alta eficiência, aliada a um sensor de umidade do solo.