Faça o seu pé-de-meia

Hábito de poupar facilita a formação de reserva para emergências; CORREIO ensina como fazer

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 23 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

À primeira vista, os números parecem otimistas quando o assunto são as reservas financeiras para emergências: 85% dos brasileiros sabem da importância de ter um pé de meia. O problema começa quando essa consciência não sai da teoria, afinal mais da metade (52%) da população não tem fundos para despesas inesperadas. A novidade é que esse comportamento tem relação direta com as gerações: quanto mais novos, mais preocupadas as pessoas estão com o planejamento financeiro (veja infográfico). 

Os dados são de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A explicação para a idade ser inversamente proporcional à preocupação pode estar em uma mudança na visão dos jovens. Para Reinaldo Domingos, educador financeiro do canal no Youtube Dinheiro à vista, “eles estão mais atentos, veem notícias de que é preciso ter reserva e sabem que não querem seguir o caminho dos mais velhos”. Por outro lado, a cultura que mais prevalece ainda é a do “ganha, gasta e, se sobrar, faz”. A solução, aponta Domingos, é a mesma independente da idade: educação financeira.

O técnico em eletrônica Rodrigo Gomes, 22 anos, faz parte dessa nova geração mais ligada nas finanças pessoais. Há cerca de quatro anos ele guarda mensalmente uma parte do salário tanto para emergências quanto para os planos do futuro. “Moro com os meus pais, não tenho despesas fixas e consigo guardar quase 70% do que eu recebo”, explica. A longo prazo ele espera se estabilizar e casar, mas enquanto isso o pé de meia já ajudou em um momento inesperado, a doença da mãe; e na realização de um sonho que está por vir, a formatura da irmã.

Dificuldade

Independente do uso da reserva, ela corresponde ao hábito de poupar. De acordo com o Indicador de Reserva Financeira, calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), apenas 33% dos brasileiros têm essa prática. Os motivos variam. Em primeiro lugar aparece justamente o fundo para imprevistos (36%). Na sequência vem a realização de um sonho de consumo (25%), viagens (25%) e para enfrentar o desemprego (24%). A lista encerra com a segurança para a família (23%) e a aposentadoria (11%).

A dificuldade dos outros 2/3 de brasileiros em guardar dinheiro está, entre outros, no hábito. Para Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, “é muito mais fácil pensar no curto prazo e ter o prazer de consumir do que fazer o sacrifício de guardar dinheiro”. Porém, é importante que haja, no geral, uma reserva de emergência equivalente ao total de gastos calculado para seis meses. 

Em outra perspectiva, ela aponta que a dificuldade em economizar reside no desemprego e na renda per capita baixa. Apesar disso, “mesmo o que ganha pouco, se guardasse R$ 30 todo mês, teria. em algum tempo, uma reserva igual ao que ele recebe”.  

Nesse sentido, a pesquisa ainda aponta que 6% dos poupadores separam sempre a mesma quantia e 28% guardam o que sobra do orçamento. No segundo caso está Dayane Ferraz, 33, coordenadora de cursos de um sindicato de Salvador. Casada e com filhas gêmeas de 5 anos, ela sempre separa o dinheiro que resta no fim do mês. “Temos um controle mensal e sabemos o que vai ser gasto. O extra a gente guarda para momentos de imprevisto”. O segredo de Dayane é ter uma planilha com as receitas e despesas.

Porém, nem todos possuem esta disciplina. De acordo com Ana Leoni, superintendente de Educação e Informações Técnicas da Anbima, “um dos fatores que as pessoas não conseguem (economizar) é porque deixam para o final da lista”. Uma forma de fazer a reserva é separar o dinheiro no início do mês, como se fosse uma conta a pagar. Mas ela alerta que talvez isso não funcione para todos. “A outra linha é a aprender a poupar, criar o hábito e materializar; fazer com que haja um estímulo”.

Dica da semana: como criar reservas para o fim e início de ano

Onde apertar É preciso saber onde pode haver economia. Para isso, faça um diagnóstico das suas finanças durante um mês - caso sua renda varie, vale durante 90 dias. Dessa forma você saberá para onde está indo o dinheiro e onde pode cortar. Vale usar uma planilha para facilitar.

Revise as despesas fixas Aquelas contas que chegam mensalmente na sua casa também podem ser revistas, já que algumas cabem descontos ou novos pacotes. Um exemplo são os pacotes de internet e telefone. Os consumos básicos como o de água e energia elétrica podem ser regulados com economia.

Defina o que quer Viajar para o exterior no final do ano ou pagar a mensalidade da escola dos filhos com antecedência. Independente do objetivo, é preciso  definir quanto será gastado. Dessa maneira ficará mais simples fazer o cálculo para descobrir quanto deve ser economizado mensalmente.

De pernas pro ar Para quem quer viajar, é importante saber com antecedência quanto irá gastar. Não esqueça do transporte, hospedagem, alimentação, lembrancinhas e passeios. Caso o cálculo saia muito do orçamento, aproveite o tempo até lá para cortar algumas programações e refazer o roteiro.

Invista Falta pouco tempo para 2018, então não é aconselhado investir com alto risco. O ideal é colocar o dinheiro em investimentos de liquidez diária. Algumas opções são a caderneta de poupança ou o Tesouro Direto indexado à Taxa Selic.

Poupe antes Para evitar começar o ano com dívidas, poupe enquanto ainda há tempo e deixe o mínimo de dívidas para depois. Para isso, defina ‘parcelas’ para colocar o seu plano em ação até a data pretendida. Assim que receber o salário, separe esse valor. Evite esperar o mês acabar para descobrir quanto sobrou.