Faz de conta que sou o primeiro

Flavia Azevedo é produtora e mãe de Leo

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 23:40

- Atualizado há um ano

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No meio da saliência:

Ele - Diz que eu sou o primeiro homem da sua vida, diz...

Ela - Então era isso! Bem que eu achei que te conhecia de algum lugar!

(E essa piadinha ainda me faz rir porque nunca deixou de ser atual)

(O desejo masculino ainda anseia por "inaugurações" de corpos nunca dantes penetrados. Ainda há a fantasia de que ser "o primeiro" tem alguma importância, é alguma honra por si só. Que introduzir o órgão sexual na vagina de uma mulher é o que a faz virar... mulher. E que a dignidade feminina é inversamente proporcional à quantidade de homens com quem ela já transou. Mais isso ainda? Ah, é...)

Há pessoas que gostam de sexo. Há pessoas que não gostam. Tem gente que gosta de sexo caseiro. Há pessoas que preferem sexo mundano. Há pessoas que se excitam com pornografia, unicórnios, novela das seis, música clássica, suvaco suado, finais de tarde. Tem gente que não se excita nem a pau.

Há pessoas que acordam e dormem com vontade de transar. Tem gente que nem beijo de língua dá. Há pessoas que preferem dormir a fazer sexo. Há pessoas que passam por todas essas fases, ou por algumas. Tem gente que amarra, lambe com sorvete, se veste de bombeiro, enfermeira e bailarina. Tem gente que finge ser cavalinho. E pode, basta o(a) parceiro(a), adulto, também querer.

Às vezes, tudo o que se quer é aquela rapidinha, sem papo. Ou só a própria mãozinha lá, pra relaxar com autonomia. Tem gente que parou numa pessoa e “só faço com você”. Forever ou não. Seja homem com homem, mulher com mulher, homem com mulher ou mais gente junta. Taí um assunto que é pessoal. Ninguém - fora os envolvidos - tem nada a ver.

Obviamente, você sabe que nada – absolutamente nada - disso tem a ver com o fato de a pessoa ser um homem ou uma mulher. E, com certeza, também sabe que nenhum desses gostos íntimos e pessoais faz uma com que uma pessoa seja mais ou menos respeitável. Seja a pessoa homem, mulher ou de qualquer outro gênero. 

Mulher também pode tudo que quiser. E não fica mais sujinha do que ninguém. Também em nossos corpos, "lavou tá novo". Não muda nada, não gasta nada, não deixa nada melhor ou pior. Os métodos de prevenção contra DSTs e gravidez indesejada estão aí (para homens e mulheres). Basta usar. Normalmente, dá certo.

(E quando não? Outro papo, outra discussão)

Esses são os fatos. O mais é moralismo de quem acha que pênis são bandeiras, que vaginas são territórios, que penetração é conquista, que "comer" (faz- me rir!) uma mulher é ato de dominação. Papo de quem continua insistindo no texto do tempo da vovó: mulher "rodada" vale menos. Que é isso, rapá? Só pode ser medo de comparação.

O primeiro homem com quem eu transei não tem a menor importância. Até poderia coincidir de ter sido o primeiro E importante. Não foi. Boa parte não é. Assim como não são inesquecíveis as primeiras mulheres das vidas de homens, apenas por terem estado presentes nas inaugurações. Tecnicamente, é tudo igual. O mais, é construção social. Podemos (e devemos) demolir.   

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