Filme com Cauã Reymond relembra feridas de guerra

Ator larga o lado galã para viver o príncipe dos bad boys no drama nacional Não Devore Meu Coração

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  • Doris Miranda

Publicado em 23 de novembro de 2017 às 06:06

- Atualizado há um ano

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O sorriso largo, o jeitão de bom moço, a simpatia sedutora não estão lá. E nem poderiam mesmo. Em Não Devore Meu Coração, primeiro longa do diretor carioca Felipe Bragança, Cauã Reymond não vive nada de bom. Angustiado com o desajuste familiar, recalcado com escolhas que não foram suas e dono de uma ética bastante questionável, ele é o príncipe dos bad boys que habitam o lado brasileiro da fronteira que divide o Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

Assim, amarra a cara do início ao fim para encarnar o motoqueiro Fernando no filme que recria de forma muito peculiar as agruras da Guerra do Paraguai (1864–1870), a mais sangrenta da América Latina. “Gosto de encarar o Fernando como uma pessoa que cruza uma fronteira sem volta, bem violenta, faca na caveira”, explica o ator, a quem coube conduzir o lado realista da trama.

A parte lúdica, em tom de fábula, está na mão dos estreantes Eduardo Macedo e Adeli Gonzales, que vivem, respectivamente, Joca (irmão caçula de Fernando) e a índia Basano, espécie de símbolo da resistência guarani até hoje. Juntos, vivem um amor impossível. Inimigos por herança cultural e política até hoje.

O elenco, a propósito, é quase todo formado por não atores, recrutados depois de uma pesquisa de quatro anos. “Comecei a visitar o local para saber o quanto da guerra ainda está presente no imaginário da região. E percebi que a Guerra do Paraguai não acabou, ainda está muito presente na atitude das pessoas. O Brasil ainda está querendo se impor ali”, conclui Bragança. O jovem Joca (Eduardo Macedo) vive as angústias do primeiro amor com a índia Basano (Adeli Gonzales) (foto/divulgação) O combate propriamente dito está na rixa entre os motoqueiros. No lado brasileiro, a Gangue do Calendário, em nome da qual Fernando defende o extermínio dos “instrusos”. No lado guarani, há a gangue do primo de Basano, que também não alivia a pressão. Cauã diz estar ciente da tensão e que foi bem recebido no Paraguai, mas preferiu não se inserir: “No filme, fica claro que a guerra atrapalha muito a relação dos personagens”.

Ao contrário de outros filmes que usam atores amadores e intensificam o saber intuitivo com oficinas técnicas, em Não Devore Meu Coração o trabalho de ator é primário. Felipe Bragança (corroteirista de Praia do Futuro, de Karim Aïnouz) expôs o sentimento genuíno daquela população, o que acabou atrapalhando o processo mas não o desfecho dramático.

 Cotação - REGULAR

Horários de exibição:

 UCI Orient Shopping da Bahia 2  14h40 | 17h | 19h20 | 21h40  UCI Orient Shopping Barra 6 (delux)  10h40 (M) | 13h | 15h20 | 17h50 | 20h10 | 22h30  UCI Orient Shopping Paralela 1  13h50 | 16h10 | 18h30 | 20h50 | 23h10 (S)  Cinépolis Bela Vista 5  14h (exceto sábado e domingo) | 16h30 | 19h10 (sábado e domingo) | 21h30