Flica, Flipelô, Fligê: Feiras e festas literárias ganham espaço na Bahia

Eventos têm como desafio conquistas leitores, popularizar autores e se firmar no calendário do estado

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  • Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2017 às 09:15

- Atualizado há um ano

Falar em festa sem música, sobretudo na Bahia, além de soar uma grande contradição pode parecer impossível. Mas há algum tempo o estado tem sido palco de festas cuja grande atração é, na verdade, a literatura. A mais nova delas é a Festa Literária do Pelourinho, a Flipelô.Realizada pela Fundação Casa de Jorge Amado, que este ano completa 30 anos, a Flipelô vai extrapolar os domínios do famoso casarão do Largo do Pelourinho e levar mesas de debates com escritores, lançamentos de livros, saraus, teatro e, por que não, música para ruas e outros espaços culturais do Centro Histórico de Salvador entre os dias 9 e 13 de agosto. A programação completa pode ser conferida no site www.flipelo.com.br.

Leia também:Com Centro de Convenções fechado, Bienal do Livro da Bahia não acontece desde 2013Realizada pela Fundação Casa de Jorge Amado, a Flipelô ocupa diversos espaços e ruas do Centro Histórico entre os dias 9 e 13 de agosto (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO)Na abertura, restrita a convidados, a cantora Maria Bethânia, apresenta o sarau Maria Bethânia e As Palavras, na Igreja de São Francisco. Outros destaques da programação  são a mesa com Josélia Aguiar, biógrafa de Jorge Amado e curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano; o bate-papo sobre poesia e protesto com o rapper paulista Emicida e as presenças dos escritores Antônio Torres e Ronaldo Correia de Brito. "Nossa intenção é chamar atenção para a literatura, assim, todas as outras atividades foram pensadas de modo a complementar", diz Angela Fraga, gestora da Fundação Casa de Jorge Amado.Cancelada em 2014 por falta de recursos, a Flipelô chega para fortalecer um cenário de explosão de festas e feiras literárias em toda a Bahia: Salvador, Itabuna, Barreiras, Cachoeira e Mucugê são algumas da cidades que sediam eventos do tipo. “É a realização de um sonho antigo, mas diversas vezes a gente se perguntou se com tantas festas e feiras literárias no país, o formato ainda interessava, se não estaria desgastado. Só que a cada ano cresce o número de eventos e também de público. Apesar de a Flipelô ser mais uma, ela vai ser a única a ser desse jeito”, comenta Fraga.Antônio Torres, Josélia Aguiar e Emicida são destaque da programação da FlipelôExplosãoPioneira do formato no estado e hoje reconhecida como um dos maiores eventos literários  do país, a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) chega em outubro  à sua sétima edição. A programação completa, incluindo as datas, devem ser divulgadas ainda em julho. Até lá, o burburinho em torno dos convidados e dos homenageados deste ano continua. Para o escritor e jornalista Tom Correia, que pelo primeiro ano assume a curadoria da Flica, depois de ir como espectador, mediador e também autor convidado, quanto mais eventos do tipo melhor. “Isso é importantíssimo para colocar a Bahia no cenário de destaque. É bom para todo mundo: para os autores, para os leitores. Nas festas, toda movimentação se dá em torno desse encontro, enquanto nas bienais e feiras o grande objeto é o livro”, diferencia.Já consolidada no calendário baiano, a Flica, em Cachoeira, chega à sétima edição em outubro; programação será divulgada ainda este mês (Foto: Evandro Veiga/ Arquivo CORREIO)Inspirada na Flica, Salvador recebe há três anos consecutivos a Flicaixa, na Caixa Cultural. O evento que costuma ocorrer no primeiro semestre e até o ano passado era uma prévia da festa de Cachoeira, agora tem vida própria. Segundo Emmanuel Mirdad, idealizador dos dois eventos, a Flicaixa é viabilizada por um edital da própria Caixa Cultural e, por isso, passa a circular para outras cidades do país. Em Salvador, o propósito do evento é unir escritores de abrangência nacional a escritores locais. “É importante que a gente promova esse diálogo. Sempre acontece  em eventos desse tipo os escritores baianos se saírem muito bem e ficarem conhecidos entre o público que até então não tinha ouvido falar desses nomes”, diz.Além da capital e do Recôncavo, a região da Chapada Diamantina  também tem um evento para chamar de seu. Em sua segunda edição, a Feira Literária de Mucugê (Fligê) acontece entre os dias 10 e 13 de agosto homenageando Euclides da Cunha, autor do célebre Os Sertões. Os pontos altos da programação prometem ser o debate com o deputado federal Jean Wyllys e a aula concerto do cantor, compositor e escritor Elomar Figueira de Melo, que também lança o seu segundo livro na ocasião. Apesar de ser batizada como uma feira, a Fligê se configura mais como uma festa. “A bem da verdade, a  Fligê é uma festa mesmo, já que a perspectiva é mais de celebrar esse encontro que vender livros. O foco é a educação literária para um público bastante diverso, composto pela comunidade, por  professores, estudantes”, diz  Ester Figueiredo Souza, curadora do evento. DesafioCom a realização de tantos eventos literários, sobretudo no segundo semestre, o desafio é melhorar o diálogo entre os curadores e organizadores a fim de que criar um calendário. “Como dependemos das agendas dos escritores e sempre temos pouco tempo e recursos financeiros, a interlocução entre os eventos fica um pouco de lado. Isso não quer dizer que não haja diálogo, mas no momento da montagem do conceito, da escolha dos homenageados, da formação das mesas, a gente fica concentrado mesmo no trabalho. A interlocução é bem-vinda”, diz Tom Correia, da Flica. Desafio de estas e feiras literárias ainda é fazer circular o objeto livro; livraria oficial da maior parte deste tipo de evento na Bahia, a LDM diz que mais vendidos são títulos dos autores da programação (Foto: Evandro Veiga/ Arquivo CORREIO)Outro desafio é fazer circular o objeto livro. Livraria oficial de todas as festas literárias citadas nesta matéria, a LDM chegou a ver o estoque dos livros de Conceição Evaristo esgotar na Flica do ano passado. “Apesar de atrair muita gente, esse tipo de evento costuma contar com uma livraria oficial cujo atrativo não está no preço. Em termos do que sai, são mesmo os livros dos autores da programação, que as pessoas compram para serem autografados durantes as festas. A gente viu livros esgotarem na Flica do ano passado, mas geralmente a saída não é tão grande quanto em bienais e feiras, onde há vários expositores e as pessoas vão em busca dos preços”, diz Luana Maldonado, gerente de eventos da livraria.Para Angela Fraga, da Flipelô, o livro ainda tem seu lugar de destaque e, por isso, além de ocupar o Terreiro de Jesus com bibliotecas itinerantes durante o evento, o Museu da Cidade (casarão amarelo ao lado da Fundação Casa de Jorge Amado) está aberto à exposição de editoras baianas que queiram vender seus títulos. Na Fligê, o espaço também estará aberto para estas pequenas empresas.Para Emmanuel Mirdad, da Flicaixa, os eventos literários devem ser encarados como eventos de formação e de despertar interesse para autores e livros. “As festas colocam a literatura em pauta, faz conhecer diversos autores e obras que muita gente nunca ouviu falar e que essas pessoas passam a seguir, acompanhar. Celebra a literatura, tira ela das bibliotecas. O próprio ato de colocar a literatura em evidência faz as pessoas quererem e lerem mais. É excelente termos esse momento e isso forma leitor sim”, defende. “É importante estar atento ao que acontece no mundo, para além da literatura, mas também em relação a ela. A literatura não é algo isolado”, complementa Tom Correia, da Flica.