Florestas e cidades sustentáveis

Elizabeth de Carvalhaes é presidente Executiva da Ibá

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  • Da Redação

Publicado em 22 de março de 2018 às 01:21

- Atualizado há um ano

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A Organização das Nações Unidas (ONU) criou em 2012 o Dia Internacional das Florestas, definido para o dia 21 de março. Neste ano, o tema é Florestas e Cidades Sustentáveis, um debate fundamental para ser trazido para todos, já que tradicionalmente, quando falamos em floresta, mesmo no Brasil com uma cobertura de cerca de 61% de mata nativa preservada, temos 84,4% da população vivendo em centros urbanos e que se sente distante da vida do campo, e portanto, das florestas.

No entanto, as florestas estão no dia a dia da população urbana, tanto por questões climáticas e bolsões de árvores ou por meio dos produtos de base florestal. As florestas no entorno ou em áreas urbanas ajudam a regular a água, contribuindo para a qualidade e a oferta de água para a população. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ao plantar árvores em locais estratégicos nas cidades, é possível tornar o ambiente mais agradável reduzindo a temperatura em até 8°C, diminuindo a necessidade de ar-condicionado em até 30%.

Ainda segundo a ONU, há uma previsão de crescimento populacional para 9,1 bilhões de pessoas no mundo até 2050. Com isso, o mundo tem o desafio de repensar a sustentabilidade urbana para conseguir diminuir os impactos das mudanças climáticas e ainda absorver esse novo fluxo de pessoas. E para cidades mais inteligentes e sustentáveis, a floresta tem um papel fundamental.

O arquiteto canadense Michael Green, que vem sendo um dos visionários na construção com madeira estrutural e já entregou um arranha-céu de 30 andares na cidade de Vancouver (Canadá) com esse material, explica que o setor construtivo precisa se reinventar e buscar formas de ser menos tóxico para o meio ambiente. Para isso, vai precisar usar materiais com menor pegada de carbono.

A WWF-Brasil, em campanha sobre madeira na construção civil, defendeu que os processos construtivos tradicionais respondem por quase metade das emissões de carbono e 60% dos resíduos sólidos das cidades. A madeira na estrutura pode virar esse jogo, já que um metro cúbico de madeira captura uma tonelada de CO2, segundo Green.  No Brasil, já temos um projeto anunciado de 13 andares a ser construído em São Paulo e, recentemente, o Japão prometeu construir um prédio de mais de 70 andares em madeira.

A madeira traz sustentabilidade na estrutura e dentro da casa. Os produtos de base florestal estão muito presentes na vida urbana e vão desde os mais curiosos como molho Barbecue, sorvetes, xaropes, cremes de leite, sucos, ração canina, esmaltes, cápsulas de remédios, repelentes naturais, desinfetantes, sabão, filtros de purificação, roupas, tecidos, cosméticos e fraldas, até os mais evidentes como lápis, papéis, embalagens, painéis de madeira, pisos laminados, livros e cadernos.

O setor de árvores para fins industriais no Brasil, representado pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), é responsável por 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, com receita bruta de R$ 71,1 bilhões em 2017, e exportações de US$ 8,9 bilhões, ocupando apenas 0,9% do território nacional. Além das funções produtivas, os plantios de árvores desempenham importante papel na prestação de serviços ambientais: evitam o desmatamento de hábitats naturais, protegendo assim a biodiversidade; preservam o solo e as nascentes de rios; recuperam áreas degradadas; e contribuem para a redução das emissões de gases causadores do Efeito Estufa por serem estoques naturais de carbono.

Entender que a vida de todo mundo está conectada e que as escolhas de um impactam nos outros é uma importante mensagem do Dia Internacional das Florestas. E nesse ponto é importante lembrar que o consumo consciente, com a escolha de produtos melhores para o meio ambiente, desde a embalagem no supermercado até o material usado na construção civil, é uma ação que cada cidadão pode começar a adotar.

Elizabeth de Carvalhaes é presidente Executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Energia da International Chamber of Commerce (ICC) do Brasil