Fora de controle

Editorial

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Publicado em 21 de outubro de 2017 às 23:01

- Atualizado há um ano

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Dois casos retratados essa semana nas páginas do CORREIO revelam o alcance da violência enfrentada diariamente pelos cidadãos baianos. O primeiro detalha com riqueza narrativa a criação de uma central de tortura e extorsão mantida em um casebre abandonado de Salvador por PMs, justamente aqueles que são pagos pelo poder público para proteger a população dos criminosos, ou seja, deles mesmos. O segundo mostra a ação de assaltantes dentro do Diretório Acadêmico de Matemática no campus da Universidade Federal da Bahia (Ufba) em Ondina. Ambos deixam claro que as forças de segurança do estado perderam controle sobre o banditismo e se somam a um cardápio farto de episódios do crime desenfreado na capital e interior. Recentemente, uma mulher havia se atirado para a morte na tentativa de fugir de assaltantes que pilhavam passageiros de um ônibus em Salvador, praga diária nas ruas da cidade. Toques de recolher deixaram há muito de ser raridade, levando à paralisação de aulas em escolas situadas nos bairros controlados por facções do tráfico. Nos últimos estudos e pesquisas sobre a violência no Brasil, a Bahia ocupou as primeiras posições em praticamente todos os rankings, numa espiral que se tornou crescente a partir da última década. A má performance evidencia o fracasso das ações do governo para conter a criminalidade, quase todas baseadas em modelos importados de outros estados, sobretudo Pernambuco e Rio de Janeiro, como o Pacto pela Vida, Bope, Patamo e congêneres. Mesmo as ideias originais adotadas pela Segurança Pública baiana, como o Baralho do Crime, têm muito mais apelo de marketing do que efetividade. Servem, na maioria das vezes, para aliviar a imagem de uma polícia ineficaz no combate à violência e com alto grau de corrupção. Enquanto isso, a população vai se tornando cada vez mais refém do medo, sem saber em que deve confiar para se proteger em sua odisseia diária. É claro que mudar um quadro dessa magnitude não ocorre da noite para o dia, mas dez anos foram mais que suficientes para que o grupo atualmente no poder fizesse o mínimo no sentido de evitar a escalada do crime. A saber, elaborar um plano de segurança sólido capaz de dar conta da realidade local, em especial nas comunidades mais carentes de Salvador e cidades onde a Segurança Pública quase inexiste. Isso, sim, é possível fazer em um curto prazo de tempo, com envolvimento de outros atores igualmente responsáveis – Justiça, sociedade civil organizada e iniciativa privada. Basta ter vontade política e pressa.