Freelancers na era da economia

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil.

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Publicado em 17 de novembro de 2017 às 03:28

- Atualizado há um ano

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As duas primeiras revoluções industriais (motor a vapor e eletricidade) induziram uma grande migração de pessoas do campo para trabalhar nas fábricas, em cidades, perto de casa, com horários definidos, mudando o perfil demográfico da civilização humana. O estudo da geografia da população e suas dinâmicas revela lógicas e tendências, inclusive sócio-econométricas.

Em 1900, globalmente, apenas 150 milhões de pessoas habitavam cidades. Um século depois, em 2000, a população urbana saltou para 2.8 bilhões de habitantes. Em 2017, na segunda década do Século XXI, mais de 4.5 bilhões de seres urbanos amontoam-se em cidades ao redor do planeta, consumindo vorazmente produtos e serviços em volumes e velocidades sem precedente, presos a um modelo econômico do qual tentam, desesperadamente, livrar-se.

Profissionais freelancers, que aumentam exponencialmente, já formam um terço dos trabalhadores da Europa e EUA, e movimentaram US$ 1,4 trilhão só nos EUA, em 2016, 8% do PIB americano, com crescimento de 25% entre 2016-17, conforme estudos do McKinsey Global Institute mostrados no Web Summit, realizado entre 7 e 9 de novembro, em Lisboa.

Conhecido popularmente no Brasil como freela ou frila, freelancer é o termo inglês para denominar o profissional autônomo que se autoemprega em diferentes empresas ou, ainda, guia seus trabalhos por projetos, captando e atendendo seus clientes de forma independente. Altamente qualificados, apostam na formação contínua e “querem trabalhar com os outros, não para os outros”, disse Stephane Kasriel, CEO da UpWork, plataforma online que coloca freelancers em contato com quem os procura.

Kasriel aconselha as empresas a mudar. “Empresas devem procurar as pessoas onde elas estão, dar-lhes trabalho, o que gera outros empregos a jusante”. Desse modo, “a sua empresa será melhor, porque terá acesso a talento que permitirá ao seu negócio crescer, contribuindo simultaneamente para resolver a desigualdade salarial global e para um melhor futuro da sociedade”.

“Os líderes da nova economia global têm que recriar postos de trabalho onde eles costumavam existir antes das primeiras revoluções industriais: fora das grandes cidades”. O trabalho freelance permite relaxar as obrigações de horários e localização: “Não precisa ser na empresa ou na cidade, pode ser feito em qualquer lugar”, concluiu.

50% do PIB mundial (US$80 tri) é oriundo de apenas 200 grandes cidades, embora a maioria da população não resida nelas. Mesmo com menos acesso às (des)vantagens inerentes à vida cosmopolita - onde se pode ganhar mais, com custos muito mais elevados - viver fora dos grandes centros urbanos, virtualmente conectado, melhora a qualidade de vida.

Na era da eco-nomia digital, com a 4ª revolução industrial em curso determinando tendências desmaterializantes e descarbonizantes, que incluem a robótica, a automatização e a inteligência artificial, não só empresas como trabalhadores estão inovando e ajustando-se.

Trabalhos que envolvem conhecimento podem ser feitos remotamente, pelas nuvens, eliminando idas e vindas de massas humanas que travam o tráfego, exaurem os profissionais, roubando-lhes horas sadias de trabalho produtivo. Os freelancers estão mais bem equipados para o futuro.

A tendência da próxima década, nos EUA e União Europeia, é ter a maioria das pessoas trabalhando na chamada “freelance eco-nomy”, de baixo carbono. Dois terços dos freelancers trabalham assim por opção, não porque não tenham outra solução, são mais felizes no trabalho do que os que têm trabalhos tradicionais e mais da metade dos freelas afirmam que “não há dinheiro que os convença a trabalhar como antes, o tempo inteiro”.