Garotinho e o queijo na cueca

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  • Malu Fontes

Publicado em 27 de novembro de 2017 às 08:29

- Atualizado há um ano

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O Brasil não é para principiantes. As coisas nesse pedação de mundo do lado de baixo do equador são tão surrealistas que na semana passada pesquisadores descobriram que espécies marinhas que vivem nas águas das imediações do Porto de Santos (SP) estão com altos índices de contaminação por cocaína e remédios, desses vendidos com rótulo e receita médica na farmácia da esquina. Um país onde mexilhões estão entupidos de cocaína merece estudo. Cocaína e remédio na água do mar ultrapassa a ficção.   Na mesma semana em que se descobriu pó e remédio no mar e em bichos, a fauna humana no Rio de Janeiro abriu mais uma porta do teatro dos absurdos. Ter um governador chamado Pezão e um ex chamado Garotinho, Little Boy, deve ser algo que os cariocas e fluminenses têm dificuldade de explicar para um estrangeiro ou um ET que aqui chegue. Como se isso fosse pouca coisa, ambos estão mergulhados em águas mais poluídas que as da Baía de Guanabara.  Bufa  Na última semana o Rio escreveu um capítulo inacreditável da ópera bufa que é a política no Brasil: todos os governadores do estado das últimas duas décadas, todos os eleitos de 1998 para cá – Garotinho, sua mulher Rosinha Garotinho e o sucessor dela, Sérgio Cabral, estão presos. Estão presos também os três últimos presidentes da Assembleia Legislativa: Jorge Picciani, Paulo Melo e o próprio Sérgio Cabral, todos do PMDB. O mesmo PMDB que transformou, na mesma semana, a ex-ministra e hoje senadora Kátia Abreu em uma heroína com currículo turbinado, ao expulsá-la. Ser expulsa de um partido desse, numa hora dessa e num contexto desse equivale a uma honraria nacional inigualável.   Como se fosse pouco ter todos os ocupantes dos principais cargos do estado presos e vendo a hora do atual governador também ser trancafiado, pois está no mandato sustentado pela teia de aranha de uma medida judicial, o Rio assistiu ainda esses presos traficando para dentro de suas celas, creiam, iogurtes, bebidas alcoólicas em baldes de gelo, queijos franceses, presunto parma e bolinhos de bacalhau.  Queijo na cueca Simultaneamente a tudo isso, um deputado do Rio, também do PMDB, preso em Brasília, beneficiado com o regime semiaberto e autorizado a sair todos os dias para exercer o mandato nas sessões do Congresso Nacional, teve o benefício suspenso. Foi flagrado com queijo provolone e biscoitos escondidos na cueca ao retornar no fim do dia para o presídio da Papuda. O deputado Celso Jacob já antes do queijo na cueca era uma caricatura da política brasileira. Frequentemente, por estar cumprindo a medida do semiaberto que o obrigava a ir trabalhar, era o único parlamentar a não faltar nenhuma sessão da Câmara dos Deputados. Muitas vezes a televisão o mostrava absolutamente sozinho no plenário, já que nenhum outro deputado aparecia para trabalhar. Ou seja, o deputado recordista de presença na Câmara o era por ser um presidiário obrigado a não faltar.     Quanto a Garotinho, o mundo da comédia pastelão está perdendo um talento. Little Boy se superou em suas travessuras nessa segunda prisão. Na primeira, teve uma crise de histeria sobre uma maca dizendo que queriam matá-lo. Agora, nas primeiras noites na cadeia, provocou lesões no próprio corpo e denunciou que fora agredido no meio da noite por um homem com um bastão de madeira e uma arma. No entanto, as câmeras das imediações da cela registram tudo em tempo integral, as imagens estão disponíveis e NINGUÉM se aproximou do local. Resultado: foi transferido para a cadeia de Bangu, como punição, por falsa comunicação de crime. Assim não há programa de humor que supere o risível da realidade da política brasileira.

*Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da Facom/UFBA