Gino Tubaro: ‘O mais útil da tecnologia é quando ela ajuda as pessoas’

Inventor argentino cria próteses de mãos e braços em impressora 3D para crianças. Ele mostrará no seminário Conexões, como inovação e ação social caminham juntas

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  • Andreia Santana

Publicado em 23 de setembro de 2017 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Atomic Lab

O argentino Gino Tubaro tinha o hábito de desmontar objetos e criar outros quando era criança. Hoje, aos 22 anos, o estudante de Engenharia Eletrônica é também um empreendedor social que já transformou a realidade de centenas de crianças, ao projetar para elas, mãos e braços construídos com a tecnologia das impressoras 3D. 

Gino Tubaro estará em Salvador na próxima quarta, dia 27, para o seminário Conexões, último evento do Fórum Agenda Bahia 2017. Da Argentina, ele conversou com o CORREIO, via e-mail, e falou sobre suas motivações e projetos.

Tubaro também atua, desde 2015, como assessor do CMDLAB - Laboratório do Centro Metropolitano de Desenho. Por seus projetos, foi homenageado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e também ganhou os prêmios MIT TR35 (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e da Organização Internacional de Propriedade Intelectual (ONU).

Foi ainda eleito um dos dez jovens de mais destaque da Argentina pela JCI TOYP, programa internacional que distingue pessoas entre 18 e 40 anos pela excelência em seus campos de trabalho, realizações pessoais, ações comunitárias e contribuição para a sociedade. Próteses são montadas peça por peça (Fotos: Atomic Lab) A primeira prótese criada por Gino foi para atender ao pedido de Ivana, mãe do garoto Felipe Miranda, que não tinha como pagar U$ 40 mil por um equipamento convencional. A impressão em 3D saiu por U$ 250. Por conta do custo menor com essa tecnologia, o Atomic Lab, empreendimento criado por ele em 2015, doa as próteses à quem precisa.

Segundo Gino, os recursos vêm de empresas patrocinadoras, que colaboram com os Manotóns, eventos que reúnem familiares, crianças, voluntários e apoiadores. Durante esses encontros, todos se unem para a montagem das próteses de mãos e braços.

Veja vídeo de um dos Manotóns

Durante o seminário Conexões, que vai ocorrer na sede do Senai Cimatec, em Piatã, o inventor vai contar ao público baiano um pouco da experiência do seu laboratório de inovação. As inscrições para o seminário, que terá palestras e oficinas abertas ao público, podem ser feitas no site: www.correio24horas.com.br/agendabahia/conexoes/.

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.

Leia a íntegra da entrevista

Como surgiu a ideia da criação das próteses utilizando tecnologia 3D? E como esse projeto começou?

Quando eu tinha 16 anos, construí uma impressora 3D, onde costumava imprimir minhas invenções. Foi aí que eu vi uma oportunidade de criar uma impressora 3D que tivesse custos muito mais baixos. Uma vez que entrei no mundo das impressoras 3D, a mãe de Felipe Miranda perguntou se eu poderia fazer uma mão, a partir de seu pedido, comecei a desenhar mãos e braços em 3D.     

O que te motivou a seguir em frente após esse primeiro projeto?

O que me motiva é poder transformar crianças com alguma deficiência em super-heróis usando a tecnologia. Eu adoro inventar coisas e o mais útil que vi na tecnologia é quando ela ajuda uma pessoa.

Quantas pessoas já foram beneficiadas com as próteses? Elas são apenas para crianças ou também para adultos?

Hoje, temos mais de 620 pessoas usando uma das nossas mãos ou braços mecânicos impressos em 3D. Não há limite de idade, mas a mínima é de quatro anos.

Por que você pensou em formato de super-heróis nas próteses infantis? É uma forma de resgatar a autoestima da criança e mostrar que ela é capaz de fazer tudo o que quiser?

Exatamente! Os pequenos sofrem bullying muitas vezes por não ter as mãos e, além disso, a mão tem a cor de um super-herói, também tem forma robótica. No dia em que a criança recebe a mão e depois vai para a aula, acontece daquela criança ser o super-herói da classe.

As próteses são distribuídas gratuitamente. De onde vem os recursos? 

De diferentes empresas que nos patrocinam e colaboram com os Manotóns do Atomic Lab.

Oferecer as próteses de graça é uma forma de fazer a diferença no mundo onde, muitas vezes, as pessoas são egoístas?

Não venho de família rica, nasci ao lado de um bairro marginal. Então tento fazer a diferença ajudando a todos. No Atomic Lab não fazemos diferença entre aqueles que podem pagar e os que não podem. Se alguém pode pagar, pedimos que faça uma doação porque isso financia a prótese de quem não pode.

Você também criou o braile dinâmico. Pode explicar um pouco mais sobre esse projeto? 

No Atomic Lab, gostamos de criar dispositivos e invenções que ajudem as pessoas a melhorar sua qualidade de vida. Por isso criamos um tradutor de texto braille Text-to-Change (dinâmico), obtendo reconhecimento do MIT TR 35 como inovação do ano. O projeto usa uma câmera do mouse para traduzir textos em uma folha para o braille. Além disso, estamos criando uma câmera para cegos, que permite que a pessoa ajude a identificar diferentes objetos ou ambientes à sua frente e possa compartilhar fotos na internet.

Você criava seus próprios brinquedos quando era criança? Qual foi sua primeira invenção? 

Sim! Eu desmontava as coisas em casa e criava outras. A primeira coisa que inventei foi um conector que permitia que as pessoas não se eletrocutassem. Eu usei circuitos eletrônicos que ‘entendiam’ se alguém tocava os conectores. Minha infância foi desarmar e montar diferentes dispositivos eletrônicos para criar novas invenções.

Quais inspirações, incentivos e mesmo dificuldades enfrentadas na vida ajudaram você a se tornar um inventor que pensa em mudar a vida de outras pessoas com suas criações?

As inspirações foram os professores que eu tive em uma oficina inventiva que frequentava todos os finais de semana para criar coisas. Os prêmios e reconhecimento dos meus pares funcionaram como incentivo também. E as dificuldades: quando eu tinha uns 16 para 17 anos, conheci o primeiro parceiro que trabalhou comigo. Mas, infelizmente, foi alguém que queria ganhar dinheiro com os projetos e eu queria que eles fossem gratuitos desde o começo.

Você é bem jovem, embora já tenha uma longa trajetória de criações. Quais são seus planos para o futuro?

É difícil ter uma previsão de vários anos, mas espero terminar meu curso universitário e continuar criando invenções que ajudem a sociedade.