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Darino Sena
Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 05:10
- Atualizado há um ano
Surpreende, ao menos a mim, o tamanho da rejeição de parte da torcida ao retorno de Guto Ferreira ao Bahia, nas redes sociais. Guto não é o treinador dos meus sonhos. Fez uma Série B vacilante em 2016. Não ganhava de ninguém fora de casa, o time não jogava bem e quase não subiu, apesar de ter um dos elencos mais caros do campeonato. Eu não teria renovado contrato com ele pra temporada seguinte. Mas a diretoria resolveu mantê-lo. Ele correspondeu.
Com a chegada de reforços, o time evoluiu e jogou futebol de gente grande. Com marcação pressão, intensa movimentação do meio pra frente, transição rápida da defesa pro ataque, o Bahia se tornou imbatível na Fonte e ganhou o Nordestão de forma inquestionável. Régis e Allione eram as referências de um Bahia que empolgava o torcedor pela ofensividade.
O tricolor teve um começo promissor no Brasileirão. Os resultados não eram excepcionais, mas o desempenho indicava uma campanha segura. Mas eis que surge o Internacional. Na iminência da saída do técnico ante a proposta colorada, escrevi aqui, no dia 30 de maio:
“Condenar Guto Ferreira se ele trocar o Bahia pelo Inter é fanatismo ou demagogia. Além de pagar mais, as perspectivas no Colorado são muito melhores, a médio prazo. Os gaúchos têm o elenco mais caro da história da Série B. A tendência, ainda mais agora, se levarem um bom técnico, é subir brincando. Já o Bahia, apesar de ter bons titulares, ainda sofre com carências no elenco que devem dificultar a permanência na elite.”
No mesmo texto, completei: “O risco de Guto ser chamado de burro daqui a três rodadas pelo mesmo torcedor que hoje chora sua provável saída é enorme. Ele tem o direito de não querer passar por isso, sair por cima, deixando boa impressão e portas abertas. O Inter é um clube maior e mais rico. Emplacando um bom trabalho lá, Guto teria condições de brigar por títulos nacionais e internacionais. Conquistas que o Bahia ainda não se permite sonhar... O Inter pode mudar o patamar de Guto como treinador”.
Como vocês podem perceber, eu não sou bom em futurologia. Apesar das portas abertas do Fazendão e do Inter ter mesmo subido brincando, o trabalho do técnico não foi bem avaliado lá. Guto foi mandado embora antes de sacramentar o acesso e não mudou de patamar. Pelo contrário, ele voltaria ao Bahia menor do que saiu.
Escolhas implicam riscos. É a vida. Agora é fácil condenar Guto, depois dos fatos consumados. Prefiro admirá-lo, pela ambição. Deixar de trazê-lo por um suposto orgulho ferido ou vingança pelo clube ter sido preterido há seis meses seria uma imensa bobagem. Deixemos o sentimentalismo para os torcedores mais sensíveis. Guto deveria ser avaliado apenas pelo que fez aqui. Em um ano no comando tricolor, mostrou boa evolução. É o que importa.
Bom negócio? O Bahia fez bem ao adquirir Régis em definitivo? Não sei. Qual Régis teremos em 2018? O do primeiro semestre deste ano, um dos melhores meias em atividade no país, artilheiro, agudo, decisivo. Ou o do segundo semestre, disperso, sonolento, reserva, jogador de 15 minutos finais? Sou fã do primeiro. Espero revê-lo.
Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras