História caindo aos pedaços: Igreja e Convento de Santo Antônio estão interditados

Conjunto fica em São Francisco do Conde e é tombado pelo Iphan, que diz não ter dinheiro para obras

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 02:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Há 48 dias, moradores do município de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, não têm acesso à igreja frequentada há 399 anos. Em 29 de novembro do ano passado, o Convento e Igreja de Santo Antônio foi interditado devido aos riscos que a estrutura do imóvel apresenta. O Frei Hermano José, vigário da paróquia e que mora no local, se recusa a deixar o convento.

“Na vistoria foram constatadas rachaduras nas paredes. No altar, a madeira do teto tem risco de desabar e a cerâmica do piso está dilatada. Parte do telhado e parte do muro desabaram”, afirma Hebert Costa, diretor da Defesa Civil de São Francisco do Conde. O Convento e a Igreja, que datam de 1618, foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 17 de outubro de 1941. O Iphan, no entanto, diz não ter orçamento para recuperá-lo.

A primeira vistoria, feita após solicitação de pessoas próximas ao Convento, foi realizada pela Defesa Civil de São Francisco do Conde em 6 de março de 2017. Hebert afirma que a população não queria interdição do local. Foi solicitado, então, apoio da Defesa Civil estadual. Só então, no dia 29 de novembro, a interdição foi determinada e as atividades no local, suspensas.

Esta semana, o Frei Hermano foi relocado de dormitório. “O quarto onde ele dorme fica em cima do refeitório, que é a parte mais crítica da construção. Na última quarta (3), fomos ao convento e vimos que a laje do refeitório começou a ceder”, conta o diretor da Defesa Civil.

As missas que eram realizadas aos domingos e às terças, além das celebrações em datas festivas, deixaram de acontecer após a interdição. A prfessora Valdelice dos Santos, coordenadora geral da Comissão Salve o Convento, explica que as atividades pastorais, como encontro de casais, formação de noivos e de padrinhos também não são mais realizadas. 

“Era ali o espaço onde fazíamos obras sociais e dávamos assistência aos doentes. A gente parou de realizar esses trabalhos por causa da deterioração do prédio”, lamenta.

Comissão A fundação de São Francisco do Conde data de 1633, 15 anos depois da instalação do Convento. “A estrutura vem se debilitando mais rapidamente nos últimos dias”, constata Valdelice. “Queremos fazer algo para não deixar a estrutura cair. Ali está o berço da cidade. Ali surgiu o povoado, depois a vila, depois o município de São Francisco do Conde. Sem o convento, a gente fica sem referência. A gente fica sem uma mãe”, diz. 

Foi justamente para tentar salvar o lugar que foi criada a Comissão Salve o Convento, formada por 24 pessoas, incluindo representantes da sociedade civil e das secretarias da Cultura e do Turismo, além da Defesa Civil de São Francisco do Conde. Anteontem o grupo se reuniu com membros do Iphan, em Salvador, para falar do problema.

A Comissão apresentou um manifesto com 6.816 assinaturas de moradores do município, cobrando posicionamento do Instituto sobre a restauração do Convento. Em nota, o Iphan disse não ter verba.

“Até o momento não há previsão orçamentária para realização de obras neste monumento mas, o Iphan colocou-se à disposição para colaborar no que foi possível, do ponto de vista técnico”, diz.  Custo Questionado sobre quanto custaria a restauração do patrimônio, o diretor da Defesa Civil da cidade disse aind anão poder avaliar. “Além da situação estrutural, o convento tem azulejos portugueses, teto decorado e piso de cerâmica com detalhes em madeira, que são muito antigos e valiosos”.

De acordo com dados do Sistema de Informações do Patrimônio Cultural da Bahia (Sipac), o forro da Igreja de Santo Antônio é de abóbadas, com uma pintura ilusionista na nave atribuída a José Joaquim da Rocha, o mesmo que pintou o forro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. A sacristia é totalmente azulejada. 

Uma nova visita para avaliação da estrutura foi agendada para a próxima quarta-feira (10). Por meio de nota, Dom João Carlos Petrini, bispo da diocese de Camaçari, afirmou que o valor necessário para a realização das obras será estimado na ocasião. 

“Um projeto será elaborado para a captação de verba junto ao Ministério da Cultura. A Diocese de Camaçari irá se empenhar com a Ordem Franciscana dos Frades Menores e Órgãos Públicos para viabilizar meios para restauração do Convento Santo Antônio, que é um Patrimônio Histórico e faz parte da vida do município de São Francisco do Conde”, disse o bispo.