Histórias de quem curte o Carnaval da praia mesmo sob forte chuva

Eles são figuras frequentes na folia do circuito Dodô: a 'galera da praia' do Farol da Barra

  • Foto do(a) author(a) Vitor Villar
  • Vitor Villar

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 07:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Vitor Villar / CORREIO

Quando cheguei à redação do CORREIO e recebi a pauta do dia para o Carnaval, não botei fé. A ideia era cobrir a ‘galera da praia’, aquela que fica acompanhando o circuito Barra-Ondina da areia e todo cantor lembra dela quando o trio dobra a esquina do Farol.

O motivo da descrença: era segunda-feira (12) à tarde e chovia consideravelmente na Barra. A própria orla estava vazia por conta da chuva. Fui caminhando até a marquise do calçadão crente de que teria que procurar uma outra pauta – aquela estava condenada.

Qual a surpresa do repórter, então, ao perceber que deveria botar mais fé na gente de Salvador e no Carnaval. Uma quantidade de pessoas tão considerável como a chuva ocupada a areia, à espera dos blocos que passariam por ali. Nem a chuva atrapalhou aqueles planos.

“É bom porque a gente toma banho de mar, toma banho de chuva e ainda toma banho de cachaça para completar. Tem jeito melhor de fazer aniversário, não”, dizia o folião Maicon Nunes. Ele e quatro amigos vieram de Feira de Santana para curtir o Carnaval e comemorar os 26 anos de Maicon, completados na segunda-feira. Maicon Nunes (centro) reuniu os amigos para aniversário (Foto: Vitor Villar / CORREIO) Mas a chuva realmente não atrapalha? “Um coração feliz vê festa em todas as aldeias”, disse Magno Felipe, de 25 anos, um dos amigos de Maicon. Não me disse mais nada, como se aquilo resumisse a ideia. “Daqui a pouco a gente sobe, toma banho, passa perfume e volta para curtir o circuito da pipoca”, explicou Maicon.

Chegou com a chuva caindo Daí fui arrebatado por outro motivo para botar mais fé no Carnaval. Teve gente que foi à praia mesmo quando a chuva já caía aos montes. Mikael Makinen reuniu os amigos Bob Hopkins e Andrés Flores na praia da Barra para também comemorar seu aniversário.

Pelos nomes, já deu para perceber: são estrangeiros. Mikael é sueco e mora na Bahia há dez anos. Andrés é argentino, vive no Rio de Janeiro, e frequenta o Carnaval há 15. Bob é americano e estava só de visita, mesmo. Mikael (cabelo comprido) também reuniu amigos para festa (Foto: Vitor Villar / CORREIO) “Não tem lugar melhor para curtir o Carnaval do que essa praia. Quando passa um trio, a gente sobe a escada, segue um pouco e volta pra cá. Como não vou sair em bloco e estou na pipoca, por que preciso ficar lá em cima?”, explica o sueco aniversariante. Faz sentido.

Mas tem problema, sim, em curtir o Carnaval da praia. O principal deles todo bom baiano já conhece: “a água está bastante suja, por conta do lixo que as pessoas jogam na rua, não dá para tomar banho, mas de resto está ótimo”, reconheceu o americano Bob Hopkins.

Ao contrário do que muita gente imagina, observar os trios da areia não é problema. Se nada estiver bloqueando a visão – como por exemplo um observatório da Polícia Militar –, o circuito passa quase como um camarote às avessas – em vez de ver de cima, se vê o trio de baixo. Dá para ver os trios sim, mas de baixo pra cima (Foto: Vitor Villar / CORREIO) “Aqui se une o útil ao agradável. Você junta o Carnaval com a praia. Agora tá bom porque a gente pode fazer isso. Antes, quando existiam as barracas, não dava para assistir daqui”, lembra o folião Marcos Silva, que mora no bairro em Cajazeiras e estava na Barra desde as 15h – quando a chuva já caía, detalhe.

Depois dessa experiência, eu já sei e fique sabendo: faça sol ou faça chuva, quando o trio virar a curva do Farol, o cantor vai gritar para a ‘galera da praia’ sem medo de ficar no ar.