Homenageado pelo Cortejo Afro, Gil sobe no trio e comanda folia na Barra

O desfile abriu com o sucesso "Andar com Fé" e contou com a participação da orquestra sinfônica do Núcleo de Ópera da Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2017 às 04:19

- Atualizado há um ano

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Ao som de "Andar com Fé" na voz de Gilberto Gil, o Cortejo Afro deu início ao seu desfile nesta noite de segunda-feira de Carnaval (27), no circuito Dodô (Barra/Ondina). A presença do músico foi um convite do bloco, batizado de CorteGil, que presta homenagem a ele com o tema Um Canto de Afoxé para Gil, junto com a apresentação da orquestra sinfônica do Núcleo de Ópera da Bahia. 

"Por ele vale mudar o nome do cortejo", disse o cantor Aloísio Menezes, que estava no palco e cantou com o músico. Em seguida, foram tocadas as músicas "Não Chores Mais (No Woman, No Cry)" e "Toda Menina Baiana". "Obrigado meninas e meninos. Vou ficar mais um pouquinho com vocês", declarou Gil em frente ao Camarote Expresso 2222, antes de começar a tocar a canção "Expresso 2222".

Depois disso, ele desceu do palco frontal para aproveitar a orquestra ainda em cima do carro principal. A avenida também pôde se encantar com quatro alas de baianas e dançarinos à frente do trio elétrico. E foi só começar, por volta de 21h45, que os foliões da pipoca que estavam por lá pararam para prestar atenção. Entre selfies, fotos e embalos, o público apreciou a beleza do desfile.

Confira trecho de Gil tocando em cima do trio, na Barra

A guia Sayuri Koshima, de 42 anos, sai há seis anos no Carnaval com o Bloco Cortejo Afro, mas hoje estava na pipoca para poder ver um pouco de tudo. Diferente dos demais blocos, ela diz que quando o grupo entra na avenida, sente "tranquilidade. Você se embala e dança, mas não tem agressividade. E tem a questão da estética. É lindo, e este ano está mais lindo".

Na sexta (24) e no domingo (26) Sayuri estava lá, vestida com o abadá mais bonito e chamativo deste Carnaval, segundo ela. "Fiz almofada com as roupas dos outros anos", conta ela, que indicou o Cortejo para todos os seus clientes turistas.

Segundo Aloísio Menezes, a homenagem para Gil já vem tardia. "Gil é uma figura histórica, é uma enciclopédia da nossa música. Imagine, para mim, o orgulho de estar no palco com ele. Estou muito feliz e muito emocionado!", o cantor ainda agradeceu a Alberto Pitta, criador do Cortejo pelo momento e pela iniciativa.

"O Cortejo Afro é um bloco que preza pela diversidade, preza a cultura afro brasileira. E a gente tem que ir agradecendo, a cada ano que passa, pelo que nos é dado: esse ano, nada mais, nada menos que Gilberto Gil. É uma emoção muito grande, somada com um responsabilidade política e social do bloco", disse a nova matriarca do Cortejo Afro, Nivia Luz, 32, sucessora da Yalorixá Mãe Santinha, fundadora do Terreiro Ilê Axé Oyá, no bairro de Pirajá.

De acordo com Nivia, o Carnaval é o ápice do que o bloco faz durante o ano inteiro. "É um trabalho que é organizado durante 12 meses, pensando nessa estética, pensando nesse tema e nessa composição. E a gente precisa muito de apoio", pede a matriarca.

Redução de públicoEm comparação aos ensaios de verão do Cortejo Afro, sempre lotados, o número do público do bloco reduziu nos dias de avenida da melhor festa do mundo. Para a foliã Sayuri, o esvaziamento no Carnaval se dá pela falta de comercialização. "Acho que falta uma pegada comercial. Muita gente não sabe que é um bloco. Já perguntaram para mim como faz para sair. O próprio baiano não sabe disso", conta a guia, que lembra que encontrou dificuldade para comprar o abadá para sair no seu primeiro ano.

Já a matriarca Nivia, reclama do horário concedido todos os anos para o desfile, além da dificuldade de captação de recursos. "O poder público tem uma conta muito alta com a gente. Hoje, o Cortejo Afro saiu porque tinha Gil em cima do trio. É uma forma de invisibilizar o trabalho estético que nós fazemos". 

Ela completa com um apelo: "É importante que o governo e que a cidade compreenda a importância do nosso bloco para Salvador, e faça a leitura correta do que a gente traz. Nosso bairro, Pirajá, é de periferia, e já foi considerado um dos mais violentos da cidade. Mas hoje ele é cantado por Gil. Ele saiu das páginas policiais para entrar na página cultural. Então é importante que as pessoas olhem para o que a gente faz".

 Assista um trecho abaixo: