Homens participam mais das tarefas domésticas, mas as mulheres ainda fazem muito mais

Percentual de homens que realizam afazeres domésticos aumentou de 66,2% para 73,3% entre 2016 e 2017, de acordo com pesquisa do IBGE

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  • Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2018 às 05:37

- Atualizado há um ano

Em um ano, a quantidade de homens que realizam afazeres domésticos na Bahia passou de 66,2% para 73,3%. Mas, apesar da maior dedicação deles em relação aos deveres do lar, a participação masculina segue distante da feminina em casa. Entre 2016 e 2017, a quantidade de mulheres que declararam fazer alguma atividade doméstica nas residências baianas passou de 90,3% para 91,6%. 

Entretanto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o aumento da frequência entre os homens não significou mais horas dedicadas por eles aos cuidados com a casa e outras pessoas do domicílio. Ao contrário: a diferença no tempo dedicado por mulheres e homens aos afazeres domésticos teve, na Bahia, o maior aumento do país: de 11,1 horas para 12,1 horas a mais para elas.

Somando ao trabalho fora de casa os afazeres domésticos e cuidados com pessoas (moradores da mesma casa ou parentes que vivem em outras casas), mulheres baianas trabalham, em média, 4,5 horas  a mais que os homens por semana. Este resultado coloca a Bahia  como o estado que tem a quarta maior diferença, perdendo apenas para Sergipe (5,8h), Rio Grande do Norte (5,4h) e Piauí (4,9h). A média nacional é de 3,1h. Em 2016, a diferença era 2,9h.  Tipos de afazeres Além da desigualdade na frequência de realização de afazeres domésticos e no tempo dedicado a eles, homens e mulheres diferem ainda no tipo de tarefas mais realizadas por cada um. Na Bahia, os afazeres mais relatados pelas mulheres são “preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar louça” e “cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos”.

Já os homens citaram como mais comuns atividades como “cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados, etc.)” e “fazer compras ou pesquisar preços de bens para o domicílio”.

É mais ou menos o que ocorre na casa de Jânia Deise Silva, de 27 anos, que mora em Vitória da Conquista, Sudoeste baiano. Atualmente de licença-maternidade, ela tem ficado em casa com a filha de 4 meses e o filho de 5 anos. O marido, Lúcio, por conta do trabalho,  passa a semana mais em outras cidades do que em casa.

“Mas, quando ele está aqui, sempre dividimos as tarefas, seja com os filhos ou com os afazeres da casa. Só que quando terminar a licença- maternidade é que vou ter de voltar para Jequié, e vou ter de contratar uma pessoa por um período para ficar com os meninos”, ela contou.

Mais tempo em casa Na casa do eletrotécnico Tiago Ribeiro dos Santos, 33, também morador de Vitória da Conquista, ele e a esposa já pensaram em contratar alguém para ficar com a filha, de 3 anos, mas a sogra dele está realizando o serviço, por enquanto. “Eu ajudo muito minha esposa. Temos uma rotina diária. Ela trabalha fora e nós dividimos os afazeres do lar. Cuidamos da menina e dividimos as atividades”, explica Tiago.

Contratar alguém para fazer os serviços domésticos é algo que, devido à crise econômica nacional, tem sido difícil de ser feito e,  por isso, as pessoas, sobretudo as mulheres, estão se dedicando mais aos serviços domésticos, avalia Alessandra Scalioni, analista de Trabalho e Rendimento do IBGE.

“Os domicílios estão com renda média menor, e a renda do trabalho das pessoas ocupadas também diminuiu, conforme pesquisas que já divulgamos. Então, as pessoas que tinham babás ou domésticas dispensaram essas pessoas e passaram a dividir melhor as tarefas domésticas”, ela disse, se referindo ao cenário nacional.

Renda menor Em 2017, a renda do trabalhador brasileiro caiu, em média 2%, para R$ 2.178. Alessandra Brito, do IBGE,  lembra que a crise afetou particularmente o trabalhador com carteira assinada e que o recuo do desemprego no fim do ano se deu pelo aumento dos trabalhadores por conta própria.

“Apesar de a ocupação não ter caído, essa população se inseriu em vínculos de menor rendimento”, comentou Alessandra Brito, ressaltando que o fechamento de vagas foi mais intenso em setores de predominância masculina.

De acordo com o instituto, cresceu de 26,9% para 31,5% o número de brasileiros que dedicam parte de seu tempo a cuidar de outros moradores no domicílio ou de parentes não moradores, um aumento de 8,3 milhões de pessoas.

Os dados indicam que o aumento ocorreu com maior intensidade entre as pessoas ocupadas (de 28,2% para 33,7%) e no cuidado de crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos (de 48,1% para 49,7%). Entre as atividades, o aumento foi maior em ler, jogar e brincar e monitorar ou fazer companhia dentro de casa – tarefas onde a diferença entre a participação masculina e feminina é menor.