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Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2017 às 06:38
- Atualizado há um ano
Desde o Renascimento, as atividades relacionadas às áreas de ciência e tecnologia vêm ganhando atenção progressiva e impactando de forma mais significativa a organização social. Com a revolução informacional, o reconhecimento da sociedade em rede e a disseminação da Web, na sua versão 2.0; a tecnologia vem se tornando cada vez mais ubíqua, impactando radicalmente não só o mundo do trabalho, como também o lazer e a forma como nos comunicamos e interagimos. A grande maioria de nós, no entanto, não percebe que as transformações provocadas pelo aumento significativo da capacidade computacional, da conectividade, da inteligência artificial e do desenvolvimento tecnológico, de um modo geral, estão apenas começando. Na década passada, questões relacionadas à sociedade sem emprego pareciam superadas. A área de serviços absorveria o exército dispensado pela onda de automação flexível, responsável pela supressão de parte significativa das vagas industriais. O que se observa hoje é que a automação na área de serviços caminha a passos largos na direção trilhada pela sociedade industrial. Você compra as suas passagens, você faz o seu check-in, você despacha as suas malas e, nos aeroportos mais modernos, você passa o seu cartão de embarque nas leitoras e está liberado para se dirigir às esteiras de verificação de bagagens. Os clientes de banco se tornaram bancários. Você roubou, ainda, o emprego da moça das centrais de táxi, acessando o aplicativo inteligente que seleciona o veículo disponível mais próximo para lhe atender.Os impactos sociais da tecnologia, no entanto, não se restringem ao emprego. A medicina genética preconiza o aumento da expectativa de vida nos próximos anos, descontinuando a tendência de crescimento linear verificada ao longo das décadas do último século. Muitos vislumbram para a primeira metade do século XXI, a expectativa de vida de três dígitos, mas poucos sabem o que o convívio simultâneo de quatro ou cinco gerações pode acarretar em termo de processos sociais, nas relações familiares e, mesmo, no significado do trabalho. A sua privacidade tampouco é a mesma. O seu calendário no Google sabe das suas viagens, às vezes antes de você, reconhece a sua localização e lhe oferece restaurantes na cidade que você visita. O seu aplicativo de GPS não deixa você digitar a rota desejada enquanto dirige para mostrar-se politicamente correto. Quem dirige não deve acessar o aparelho celular. Quais os limites que serão impostos à inovação tecnológica? Que novos parâmetros sociais devem ser utilizados para a convivência na sociedade que vislumbramos no futuro próximo?Deve haver uma relação dialética entre ciência e tecnologia, de um lado, e sociedade do outro. Assim como a ciência e tecnologia são parâmetros para a sociedade, essa não pode deixar de ser referência em termos de anseios, valores e limites éticos para os caminhos trilhados a partir do desenvolvimento científico e tecnológico. A sociedade desenvolve a ciência e a tecnologia e, no mundo canino, o cachorro abana o rabo. Fora desse, não raro, há rabos que abanam cachorros. * Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor e diretor da Escola de Administração da UFBA