Importante ponto turístico da capital, a Ponta de Humaitá será requalificada

Projeto com melhorias compreende uma área de 12 mil metros quadrados

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  • Carol Aquino

Publicado em 8 de julho de 2017 às 09:12

- Atualizado há um ano

A Ponta de Humaitá, dona de um pôr do sol entre os mais concorridos de Salvador, começará a ser requalificada ainda este ano. O projeto que promete deixar ainda mais especial o fim de tarde num dos mais belos pontos turísticos da cidade foi apresentado à comunidade ontem  pela presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield.

Ele prevê a requalificação de duas áreas na região, um espaço de 12 mil m² que vai desde a praça em frente ao píer até o espaço entre a Ponta e o Forte de Nossa Senhora de Mont Serrat, construção do século XVIII que foi palco da Sabinada e que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).Área da Ponta de Humaitá na cidade baixa é tombada (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)As intervenções serão, principalmente, de ordem urbanística e não contemplarão prédios privados - muitos deles em más condições. Tudo custará R$ 790 mil.

A primeira área a ser requalificada, entre a praça onde fica a igreja e o forte, é a que vai ter maior impacto visual. O mato alto, a calçada em más condições e a quadra com alambrado quebrado devem ficar no passado.

IntervençõesO lugar, menos popular que o local onde fica o pequeno farol, vai ganhar uma área de contemplação. A mureta do cais, recoberta de granito, vai ser recuperada também, mas a pedra vai ser retirada. “O granito destoava da arquitetura da época do conjunto e uma parte dele foi roubada”, explica Tânia Scofield.Pisos  O piso ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat será recuperado, assim como as rampas, os passeios e o guarda-corpo ao longo de toda a balaustrada que fica na área próximo ao Farol da Ponta de Humaitá (Foto: Reprodução)O espaço também vai ganhar bancos e sanitários. Será implantada ainda uma área dedicada à prática de religiões de matriz africana; outro espaço terá um pergolado coberto por vegetação, criando uma roda de capoeira. Serão instalados bancos, lixeiras e outros equipamentos de mobiliário urbano.

Segundo Scofield, funcionários da FMLF conversaram com representantes de terreiro de candomblé e umbanda da região para que o espaço se mantenha ordenado após a intervenção. “Não pode deixar os agdás ali, deixar resto de comida”, afirPraça  A praça que fica entre a igreja e o forte ganhará elementos de paisagismo e de urbanismo, com requalificação da quadra, criação de espaço para prática de religiões de matriz africana e roda de capoeira (Foto: Reprodução)Já na segunda área, a mudança mais significativa será a retirada do antigo módulo de bilhetagem. “Ele é agressivo para a área, toma um pouco da visão da Baía de Todos os Santos. Se for necessário reconstruí-lo, que ele seja colocado em uma área mais afastada”, disse Scofield.

As rampas de acesso e os passeios, que estão em condições precárias, serão recuperados. A balaustrada receberá guarda-corpo, que aumenta a proteção entre ela e a água. “A gente se preocupa com a segurança dessa área. O guarda- corpo evita que ocorram acidentes”, pontua a presidente. A mureta, hoje suja e pichada, também deve ser recuperaEstacionamento A área do estacionamento terá ordenamento, assim como recuperação de todo o meio-fio e paisagismo no canteiro central. A área do píer ficou de fora, mas o módulo de bilhetagem será retirado (Foto: Reprodução)Ainda haverá recuperação de do meio-fio e do piso no entorno da igreja. A área do estacionamento será ordenada e o canteiro central será recuperado e terá paisagismo. A área do píer ficou de fora da requalificação.

IncertezaO prazo de entrega da obra ainda não foi definido, já que o projeto de requalificação precisa ser primeiro aprovado pela Caixa Econômica Federal, que é quem vai liberar a verba. O dinheiro, R$ 790 mil, provém de uma emenda parlamentar do deputado federal Benito Gama (PTB-BA).

A presidente FMLF, Tânia Scofield, enviou o projeto ao banco na última semana. Ela estima que a reforma da Ponta de Humaitá possa estar pronta em meados de maio de 2018. “Se a Caixa demorar dois meses para aprovar o projeto, o processo de licitação deve demorar mais dois meses e a obra, até seis meses”, calcuEstacionamento  A área do estacionamento terá ordenamento, assim como recuperação de todo o meio-fio e paisagismo no canteiro central. A área do píer ficou de fora, mas o módulo de bilhetagem será retirado (Foto: Reprodução)A prefeitura vai entrar com uma contrapartida de 5% do valor total e pode contribuir também com eventuais intervenções adicionais que sejam necessárias durante a construção. “Não temos uma grande obra, temos uma obra simples, mas de muito impacto”, avalia Scofield.

Demanda AntigaA reforma na área já era uma demanda antiga dos moradores do bairro. “Eu não acreditava porque já houve promessas anteriores. Isso aqui é muito bonito, é um ponto de convergência”, disse Edson Soares, 73 anos, vice-comodoro do Clube de Iates de Itapagipe.

Já a presidente o Conselho Comunitário de Mont Serrat, Cecília Maron, comemorou: “Ficamos muito tempo abandonados. Nossa Humaitá está acabada, tem muito vandalismo, muita droga, muito assalto. Tenho esperança de ver Humaitá como era antigamente”.

Moradores querem reforma da igrejaDurante a reunião entre a Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e a comunidade do bairro de Mont Serrat, onde fica a área a ser requalificada, ontem de manhã, moradores fizeram outro pedido de reforma na área: a Igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat, que fica ao lado do farol.

A presidente da FMLF,Tânia Scofield, no enanto, disse que a igreja poderia ser pintada, desde que a intervenção contasse com o apoio dos responsáveis pelo templo.Existe um projeto de reforma da igreja, inclusive já aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas que ainda não foi iniciado.

O templo está com as paredes pichadas e com janelas quebradas. Em  algumas paredes já aparecem rachaduras. Procurada, a Ordem de São Bento, que é a responsável pela administração da igreja, afirmou que não tinha um representante disponível para atender à reportagem do CORREIO até o fechamento desta edição.

No entanto, a Ordem informou que a igreja continua aberta diariamente para missas e também para visitação. A Igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat foi tombada em 1938 pelo Iphan.  O santuário de Nossa Senhora do Mont Serrat foi fundado por volta de 1580 e o cojunto teve projeto do arquiteto militar italiano Baccio da Filicaya.

Cantor Levi Lima abraçou demanda dos moradoresO projeto de requalificação de Humaitá contou com o incentivo do cantor Levi Lima, vocalista da banda Jammil, que gravou um DVD no local em 2014 e seguiu com shows mensais por lá entre setembro e o Carnaval.

“Quando você começa a conhecer a comunidade, fazer amizade, você passa a conhecer os problemas”, diz Levi Lima. Há dois anos, ele e o empresário da banda, Paulo Borges, abraçaram o desejo dos moradores de ver a área reformada, com a estrutura que a paisagem da Baía de Todos os Santos merece.

Eles foram até a Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult) solicitar a intervenção e outras melhorias para  Mont Serrat. O encontro acabou resultando numa emenda parlamentar aprovada em fevereiro de 2016 e liberada em dezembro.

“A gente apenas aproximou os moradores do público. A vitória foi toda dos moradores”, diz o cantor Levi Lima. Agora, a banda sonha em ver a intervenção pronta e em fazer seus próximos shows na Ponta de Humaitá no Verão, desde que não atrapalhem a obra.

“A gente quer estar aqui com pessoas que querem vivenciar essa energia incrível que esse lugar tem”, resume.