Indústria do carvão perdeu a guerra, diz agência ambiental americana

Pesquisas mostram que, nos EUA, apesar dos esforços do governo Trump, a fonte fóssil perde espaço para o gás natural e para energias renováveis

  • Foto do(a) author(a) Murilo Gitel
  • Murilo Gitel

Publicado em 17 de outubro de 2017 às 16:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: divulgação)

“A guerra ao carvão acabou”. Se já houve uma guerra contra o carvão, a indústria carvoeira perdeu, anunciou o administrador da Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), Scott Pruitt. De acordo com um novo relatório da Union of Concerned Scientists (UCS), uma organização científica sem fins lucrativos, muitas usinas de carvão antigas dos Estados Unidos estão sendo aposentadas ou convertidas em gás natural. Além disso, novos empreendimentos desse tipo deixam de ser construídos porque se tornaram mais caros do que o gás natural e as fontes eólica e solar.

Um artigo publicado no site do jornal inglês The Guardian na segunda-feira (16/10), pelo cientista Dana Nuccitelli, informa que a participação da eletricidade americana proveniente do carvão caiu de 51% em 2008 para 31% em 2016 - uma mudança sem precedentes.

Uma nova análise da UCS conclui que, das unidades de carvão que permanecem, cerca de uma em cada quatro tem planos de encerrar as atividades ou serem convertidas em gás natural; outras 17% não são mais viáveis economicamente e podem fechar as portas em breve.

O gás natural já ultrapassou o carvão e atualmente abastece 32% da eletricidade dos EUA (era 21% em 2008), enquanto as energias solar e eólica já respondem por 10% (eram 3% em 2008) da matriz energética americana. “Essa tendência continuará à medida que as antigas usinas de carvão continuam a fechar, além de serem substituídas por fontes renováveis e gás natural mais baratas. Sua parcela no fornecimento de eletricidade dos Estados Unidos continuará a cair e o carvão se tornará um combustível fóssil em todos os sentidos da palavra”, projeta Nuccitelli.

Saúde

Na avaliação do articulista do The Guardian, é por essa razão que as empresas americanas continuam a investir em energia barata e renovável. “Como resultado, nosso ar e água estão se tornando mais limpos, os americanos estão mais saudáveis e nossa poluição por carbono está caindo”.

No domingo (15/10), uma matéria do CORREIO Sustentabilidade mostrou que substituir o uso de combustíveis fósseis (originários do petróleo e do carvão) por alternativas menos poluentes contribui para a melhoria da qualidade do ar, o que reduz os riscos de mortes prematuras, segundo estudo da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), publicado em agosto na conceituada revista científica Nature Energy.

A pesquisa demonstra que, entre 2007 e 2015, a melhoria na qualidade do ar de várias cidades americanas levou a uma economia entre US$ 29,7 bilhões e US$ 112,8 bilhões - dependendo da região - e poupou de 3 mil a 12,7 mil mortes prematuras que seriam causadas por problemas de saúde relacionados à poluição do ar.

Desafio

A transição do carvão para outras fontes energéticas (menos poluentes) representa um desafio para regiões em que a economia local depende do combustível fóssil, mas a transição é inevitável. Uma política econômica sábia envolveria programas de financiamento para ajudar essas cidades a se adaptarem à mudança (Hillary Clinton propôs um desses planos durante sua campanha presidencial).

Um estudo recente mostrou que os americanos estão dispostos a pagar um imposto sobre o carbono com algumas das receitas que irão ajudar os trabalhadores de carvão deslocados. A administração de Trump, contudo, optou por tentar minimizar o declínio inevitável do carvão.

“Trump está desesperado”

De acordo com Nuccitelli, o governo Trump parece inclinado “ao inferno de causar o aquecimento global”. Ele cita que primeiro houve a decisão “historicamente irresponsável” de se retirar do acordo climático de Paris, juntando-se à Síria, devastada pela guerra, como os únicos países a rejeitar o tratado.

Há algumas semanas o secretário de Energia de Trump, Rick Perry, anunciou um plano para efetivamente tirar o carvão do mercado livre e subsidiá-lo com os dólares dos contribuintes a fim de resgatar a indústria e manter as usinas do setor abertas.

Revogação do plano

A EPA pretende revogar o Plano de Energia Limpa, política que representou o esforço mais significantivo dos Estados Unidos para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, mas acabou atolado em uma batalha judicial que inclui ambientalistas e a Casa Branca. No entanto, como as energias renováveis e o gás natural são agora mais baratos do que o carvão, uma análise do Grupo Rhodium concluiu que os EUA atenderão ao objetivo do Plano de Energia Limpa – apesar de sua revogação - que prevê a redução das emissões de gases do efeito estufa do setor elétrico em 32% até 2030, levando-se como base os níveis de 2005 até 2030.