Instrutor de rapel assassinado queria deixar cidade grande

Danilo Campos Santos, 35 anos, foi enterrado nesta quinta-feira (21), no Cemitério Bosque da Paz

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  • Tailane Muniz

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 18:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Em função da violência, o instrutor de rapel Danilo Campos Santos, 35 anos, morto por quatro tiros durante uma tentativa de assalto, sonhava em morar longe da cidade grande. Assassinado na porta de casa, na manhã desta quarta-feira (20), no bairro de Santo Inácio, em Salvador, Danilo acreditava que os animais eram mais confiáveis que as pessoas. 

Conforme o amigo de infância do rapaz, o vidraceiro Edilton Bahia, 35, Danilo dizia que havia perdido a fé na humanidade. "Essa morte violenta dele condiz com tudo o que ele acreditava. As pessoas não têm mais amor no coração, por isso, ele amava os animais", relatou.

O corpo do instrutor foi enterrado no final da manhã desta quinta-feira (21), no Cemitério Bosque da Paz, na Estrada Velha do Aeroporto. Pelo menos 300 pessoas, entre familiares e amigos, prestaram as últimas homenagens à vítima, que não tinha filhos. Os companheiros do Aranhas Negras Rapel Clube, grupo de rapel fundado por ele há 19 anos, entoaram gritos de guerra em memória ao instrutor.   Danilo usava roupas camufladas para trabalhar como instrutor de rapel  (Foto: Acervo Pessoal) "Justamente por esse cenário violento, ele sempre repetia: 'ainda vou morar no mato com os animais, porque ser humano não é gente, não, é bicho'", lembrou o amigo de infância, ao recordar que o maior sonho do instrutor era morar na Chapada Diamantina, para onde planejava ir no início do próximo mês.Justiça A todo momento, o pai de Danilo, o taxista José Carlos Cerqueira Santos, 58 - que encontrou o filho morto na porta de casa - era consolado pelos amigos do primogênito. A mãe, visivelmente abalada, chorou durante toda cerimônia e precisou ser amparada em diversos momentos. 

Tio paterno da vítima, o superintendente de projetos Edson Araújo, 48, porém, contou à reportagem que a família não tem esperança que os criminosos sejam presos. "Sinceramente, nós estamos desacreditados da justiça", disse o tio do instrutor, acrescentando que o sobrinho era uma pessoa pacífica e que amava a natureza. 

"Meu irmão e a mãe dele estão bastante debilitados, tem sido muito difícil para eles, tendo que enterrar o único filho próximo, já que minha sobrinha, irmã dele, está na Europa agora", completa. Ainda segundo Edson, o sobrinho adorava fazer trilhas. "Ele amava estar em contato com a natureza. Gostava muito de animais silvestres", acrescentou.

Danilo foi morto um dia após completar 35 anos. “Ele não fez festa, mas ele ia comemorar o aniversário dele junto com o meu no final do mês, no melhor estilo, fazendo rapel em Santo Amaro. Ele estava muito feliz com isso”, contou o amigo Ivanei Nascimento, 33. 

Rapel Nascido e criado no bairro de Santo Inácio, o instrutor morava com os pais na mesma casa desde que nasceu. O rapaz se tornou instrutor de rapel em 1998, quando fundou a Aranhas Negras Rapel Clube. "Ele já foi instrutor até de artistas. Atualmente, dava aulas para policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque, além do 19º Batalhão de Caçadores, no Cabula", disse o amigo Edilton Bahia.

Conforme familiares, o rapaz costumava sair na rua com seu fardamento que, ainda de acordo com parentes, se assemelhava à farda da Polícia Militar. O tio, porém, negou que no momento do crime Danilo estivesse com o uniforme de instrução de rapel. "Ele estava com uma camisa de manga preta, bermuda e chinelo. E saiu porque ouviu uma vizinha deles gritando", lembrou Edson Araújo.

Ao CORREIO, o amigo Edilton Bahia contou que acredita que os autores da morte de Danilo sejam da Invasão do Calabetão que, segundo o vidraceiro, fica próximo à casa da vítima. "Hoje em dia ninguém respeita ninguém. Tem mais ou menos 15 dias que eu comentei para ele parar de usar a farda lá na rua, justamente por isso. Mas ele ria e dizia: 'que nada, eu sou militar, ninguém mexe comigo'", recorda. 

O caso é investigado pela 11ª Delegacia (Tancredo Neves). O CORREIO tentou contato com a titular da unidade, delegada Lúcia Jansen, mas até a publicação desta reportagem não havia obtido retorno.