Investidores convocam Itaú e outros bancos a divulgar informações sobre clima

Carta aos CEOs de 60 bancos exige divulgação em quatro áreas principais

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  • Murilo Gitel

Publicado em 14 de setembro de 2017 às 14:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: EBC/Divulgação

Investidores que detêm ativos de US$ 1,3 trilhão redigiram recentemente uma carta aos CEOs de 60 dos maiores bancos do mundo – incluindo o brasileiro Itaú – para pedir uma divulgação mais aprimorada quanto às oportunidades e aos riscos relacionados às mudanças do clima, bem como dados sobre como essas instituições financeiras gerenciam essas informações por meio de seus executivos seniores e conselhos. Isso porque, segundo o estudo recente, deixar de levar em conta as mudanças geradas pelo aquecimento da temperatura média do planeta gera um risco que pode ser equivalente a uma redução permanente entre 5% e 20% no valor da carteira em pouco mais de uma década.

Coordenada pela ShareAction e pelo Boston Common Asset Management, a carta exige uma divulgação mais sólida e relevante relacionada ao clima para investidores em quatro áreas principais: estratégia e implementação relevantes para o clima, avaliações e gestão de riscos relacionados ao clima, produtos e serviços bancários com baixas emissões de carbono e compromissos de políticas públicas dos bancos, e colaboração com outros atores sobre mudanças climáticas.

Investimento

Após a ratificação do Acordo de Paris, estabelecido no final de 2015, o setor bancário enfrenta uma série de riscos e oportunidades relacionados com o clima. Como fornecedores de capital, os bancos têm de assegurar o cumprimento do objetivo de "tornar os fluxos financeiros consistentes com um caminho para as baixas emissões de gases de efeito estufa e o desenvolvimento resistente ao clima". Um investimento de US$ 93 trilhões é exigido até 2030 para limitar o aquecimento global de dois graus centígrados e o setor financeiro privado tem um papel fundamental a desempenhar para permitir a transição para um futuro com baixas emissões de carbono.“Como resultado das mudanças climáticas e a transição para baixas emissões de carbono, os bancos agora enfrentam riscos e oportunidades reais, abrangentes e materiais para os investidores. Como investidores em longo prazo, uma melhor divulgação do risco climático nos permite avaliar o desempenho de bancos específicos em comparação aos seus pares, e pedimos que os bancos prestem atenção a este importante chamado da comunidade de investidores”, destaca Isabelle Cabie, chefe global de desenvolvimento responsável no Candriam Investors Group.Mudança

Para Lauren Compere, diretora de Participação de Acionistas na Boston Common Asset Management, limitar o aquecimento global a um aumento de menos de 2 graus Celsius exige uma grande mudança na forma como os bancos operam financeira e economicamente. “À medida que o risco climático é reconhecido como crítico para os bancos, os investidores querem saber se esse risco está sendo bem gerenciado e pelos mais altos níveis da organização”, observa.

Na mesma linha, Catherine Howarth, diretora-executiva da ShareAction, avalia que milhões de pessoas têm interesse em como esses bancos respondem às mudanças climáticas, seja como cidadãos afetados pelos “impactos físicos assustadores que ouvimos quase diariamente nas notícias”, como poupadores cujos fundos de pensão investem nesses bancos, ou mesmo como clientes. “Estamos extremamente empolgados de que este substancial grupo de investidores institucionais globais tenha se reunido para pressionar os bancos para uma ação significativa sobre riscos e oportunidades relacionados ao clima”.

Itaú

Nesta quinta-feira, 14 de setembro, a Natura e o Itaú Unibanco, em parceria inédita, anunciaram a abertura do Edital Compromisso com o Clima, voltado à captação de projetos de compensação das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Juntas, as duas empresas visam adquirir uma estimativa de 500 mil toneladas de CO2 para compensar suas emissões dos últimos períodos. A inscrição é gratuita e pode ser feita até o dia 13 de outubro por meio da plataforma Ekos Social, http://ekos.social/pages/natura-itau, onde também está disponível o regulamento completo.

Segundo a assessoria de imprensa do Itaú, são elegíveis de participação no edital Compromisso com o Clima projetos desenvolvidos no Brasil relacionados à biomassa renovável, energia eólica, energia solar, pequenas centrais hidrelétricas, metano para energia, eficiência energética, agricultura e agroflorestal, restauro florestal, REDD+ (Redução de emissões provenientes do desmatamento e degradação florestal), purificadores de água, fogões eficientes, troca de combustível e tratamento de resíduos.

Engajamento

A carta recente integra uma iniciativa mais ampla de engajamento dos investidores sobre bancos e mudanças climáticas. O anúncio desta iniciativa vem dias antes da Climate Week de Nova York, que reúne empresas, investidores, governos e sociedade civil para impulsionar o progresso no combate às mudanças climáticas. No início deste ano, a ShareAction publicou um guia intitulado Banking on a Low-Carbon Future, que recomenda que os investidores se envolvam com os bancos acerca do tema mudanças climáticas. Também no começo de 2017, o Boston Common Asset Management lançou o relatório On Borrowed Time: Banks & Climate Change, destacando o progresso, mas também as lacunas em curso no desempenho climático do setor bancário global.

Além de endereçada ao Itaú, a carta dos investidores também foi enviada a bancos como Bank of America, Deutsche Bank, HSBC Holdings, JP Morgan Chase, Mitsubishi UFJ Financial Group, Inc. e TD Bank, entre outros.