Ipea admite erro e diz que 26%, e não 65%, acham que roupa justifica estupro

Diretor da área social do instituto pediu demissão assim que o erro foi encontrado

Publicado em 4 de abril de 2014 às 16:15

- Atualizado há um ano

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea), do governo federal, divulgou nesta sexta-feira (4) uma nota reconhecendo que houve erro na divulgação que chocou o país ao dizer que a maioria dos brasileiros (65,1%) apoia ataques a mulheres que usam roupa curta. Segundo o Ipea, por uma troca nos gráficos da pesquisa divulgada, o resultado divulgado está errado. Os percentuais corretos são: 26% concordam, total ou parcialmente, com a afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"; e 70% discordam total ou parcialmente. Outros 3,4% se dizem neutros. O diretor da área social do Ipea pediu a sua exoneração assim que o erro foi detectado. A pesquisa, com os dados errados, gerou enorme repercussão e uma campanha em redes sociais com o lema #eunãomereçoserestuprada. A onda de indignação teve apoio até da presidente Dilma Rousseff (PT). Por meio de nota, o Ipea ainda corrigiu outro par de questões que tiveram os resultados invertidos. Questionados, sobre “o que acontece com o casal em casa não interessa aos outros”, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro, 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordam totalmente. Diante da sentença “em briga de mulher, não se mete a colher”, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficou neutro, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente. De acordo com o instituto, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. “As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos”, informou a nota. O levantamento ouviu 3.810 pessoas de ambos os sexos entre maio e junho do ano passado. CampanhaA pesquisa gerou uma grande campanha sob o nome “#nãomereçoserestuprada e provocou uma resposta da presidente Dilma. A presidente solidarizou-se com a jornalista Nana Queiroz, que foi ameaçada na internet após iniciar a campanha nas redes sociais contra a violência contra a mulher. Jornalista que iniciou campanha foi ameaçada (Foto: Reprodução)“A jornalista Nana Queiroz se indignou com os dados da pesquisa do Ipea sobre o machismo na nossa sociedade. Por ter se manifestado nas redes contra a cultura de violência contra a mulher, a jornalista foi ameaçada de estupro. Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade e respeito”, escreveu Dilma em sua conta pessoal no Twitter. Nana Queiroz postou uma mensagem no Facebook na sexta-feira (28) com uma foto em frente ao Congresso Nacional, em que aparece sem camiseta e com a frase “Não mereço ser estuprada” escrita no corpo, convocando o protesto virtual. Várias mulheres publicaram fotos semelhantes, demonstrando indignação com a pesquisa.[[saiba_mais]]

Após a publicação, a jornalista foi ameaçada por internautas. “Amanheci de uma noite conturbada. Acreditei na pesquisa do Ipea e experimentei na pele sua fúria. Homens me escreveram ameaçando me estuprar se me encontrassem na rua, mulheres escreveram desejando que eu fosse estuprada”, relatou Nana em sua página na rede social.Famosas como Valesca Popozuda, Daniela Mercury, Nana Gouvêa, Geisy Arruda, Claudia Leitte e Juliana Paes aderiram à campanha. As informações são da Folhapress e da Agência Brasil.