Iracema Marques: administradora engajada na coleta seletiva

Baiana criou hábito de separar resíduos ao morar em Barcelona

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 9 de setembro de 2017 às 03:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Para Iracema Marques, 38 anos, era como escovar os dentes. Na época, morava em Barcelona e acabou assimilando o hábito de boa parte da população local: “as pessoas fazem uma separação dos resíduos em recipientes diferentes. Para eles é um hábito. Você separa o seu lixo e leva isso para um ponto de coleta seletiva”, conta.    

Chegou o momento de voltar ao Brasil. Queria muito poder manter esse hábito. Mas, como? “Na Espanha, desenvolvi um senso de responsabilidade em relação aos resíduos. Passei a entender que aquilo era meu, de minha responsabilidade. É meu consumo que gera aquele resíduo. Precisava manter aquele hábito”.

Mestre em administração pela Ufba, começou a procurar locais onde poderia levar o seu próprio lixo. Não encontrou facilmente. Foi aí que teve a ideia de fazer um mapa. “Não diria nem que foi uma ideia. Foi a identificação de uma necessidade para a cidade”, pontua Iracema, que foi uma das facilitadoras de um workshop sobre coletiva seletiva durante o seminário Cidades, no Fórum Agenda Bahia 2017.

Em contato com cooperativas, ongs e prefeitura, criou o Cidadanize-se, plataforma que nasceu para fazer o mapeamento dos pontos de coleta seletiva, além do acompanhamento de políticas no setor.

Em um mapa georeferenciado, o cidadão sabe onde descartar os seus resíduos. A plataforma concentra diversas informações em um lugar só. “Eu sabia que disponibilizar isso para as pessoas poderia mudar muita coisa. Até porque o sistema é complexo, a questão do lixo é complexa”, disse.

Hoje, segundo o mapa do Cidadanize-se, a prefeitura disponibiliza 150 Pevs (Pontos de Entrega Voluntária). Além deles, existem outros dez pontos particulares, como os da rede de supermercados Extra, por exemplo. É pouco. “Esse número pode parecer muito, mas esses Pevs não estão perto das casas das pessoas. Normalmente é preciso caminhar bastante até esses pontos. E quem não tem carro?”. 

Por essas e outras, Iracema não condena a população. Ao contrário, se incomoda quando alguém insiste que o soteropolitano é mal educado. “Uma coisa que me incomoda muito é dizer que baiano é mal educado. A gente não dá as condições para as pessoas exercerem a sua cidadania”. Mas, mesmo que um dia em Salvador haja tantos pontos de coleta como em Barcelona, Iracema sabe que precisará engajar a população.  

“Como engajar a população? Quais as ideias inovadoras? Pode ser por recompensa. Na Alemanha, normalmente, você recebe um crédito a depender da embalagem que você tá retornando”. Em Londres, a fiscalização é muito forte. Se você coloca o lixo na hora errada você é multado, se não separa o lixo também. Na Espanha existe a facilidade para separar e entregar o lixo. Acredito que a solução é juntar tudo isso”, diz. “É um processo que exige uma conscientização do cidadão aliada à oferta do serviço público”. 

O tema da separação do lixo se tornou um objetivo de vida para Iracema. Recentemente, ela foi convidada para dar consultoria na Seja Digital, um projeto de transição da TV analógica para a digital. Ela está montando um programa de coleta das TVS de tubo e reciclagem de eletrônicos em parceria com uma cooperativa de Salvador. “As TVs e os eletrônicos são repletos de materiais tóxicos”, revela. 

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.