Larry Nassar não estava sozinho

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 24 de janeiro de 2018 às 05:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Mais de 140 meninas foram abusadas sexualmente em pelo menos 25 anos e ninguém viu. É isso que a Universidade Estadual de Michigan, a Federação Americana de Ginástica, o Comitê Olímpico Americano e o monstro Larry Nassar querem nos fazer acreditar. Sim, porque não foi somente o ex-médico da Universidade Estadual de Michigan e da seleção americana de ginástica o responsável pelos abusos sexuais às alunas e esportistas que eram suas pacientes, mas, também, todos os profissionais dessas entidades que foram alertados pelas vítimas e deram de ombros para as suas acusações.

Precisou uma investigação jornalística do jornal The Indianápolis Star sobre os abusos sexuais presentes no universo da ginástica americana para encorajar algumas jovens a contar suas traumáticas – e até então ignoradas – histórias de abusos cometidos por um homem que tinha o dever de cuidar das suas saúdes. Precisou, ainda, uma reportagem especificamente sobre Nassar, após as primeiras denúncias que o jornal recebeu, para que se iniciasse o processo que segue até agora e já culminou em sua primeira condenação a 60 anos de prisão por ter mais de 37 mil imagens de pornografia infantil em seu computador.

Isso porque, Nassar não estava sozinho. Treinadores, gestores da Universidade Estadual de Michigan e dirigentes da Federação de Ginástica e do Comitê Olímpico Americano preferiram desprezar as queixas de abuso sexual contra o médico que vinham sendo feitas desde 1994 e permitiram que ele seguisse assediando mais meninas. Aliás, dois anos depois da primeira denúncia, ele foi “recompensado” com uma promoção para coordenador médico da equipe de ginástica dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Sem contar que a Federação de Ginástica fez um acordo de confidencialidade com a medalhista olímpica McKayla Maroney, para que ela não expusesse os abusos sofridos com Nassar.

Essas pessoas, que hoje renunciam cargos para se safar e se escondem da imprensa, permitiram conscientemente que um homem molestasse mais de 140 meninas, com idades a partir de 8 anos, pelo menos, e o fizesse por mais de duas décadas até pouco mais de um ano atrás. Então, esse escândalo não pode terminar com as condenações de Larry Nassar, ele tem que começar a partir delas. Ou devemos acreditar que não existem outros como ele por aí? Porque seria ingenuidade da nossa parte achar que sim. E, mais ainda, que eles estão apenas nos Estados Unidos. Como disse McKayla: “Onde houver uma posição de poder, parece que há potencial para o abuso”. E contra isso, todos nós, profissionais de todas as áreas, cidadãos de todos os cantos, devemos lutar.

Vamos estimular movimentos como o Ni Una Menos, #MeToo, Time’s Up e tantos outros movimentos em defesa da mulher, seja você mulher ou homem. Se não podemos falar por elas, que cedamos espaço para que sejam ouvidas. Afinal, a cada dia suas vozes ganham mais volume e isso não tem volta. O silêncio não é mais uma opção.

Se você é mulher e sofre com algum tipo de agressão seja ela física, psicológica ou sexual, ou ainda, se você presenciou alguma mulher sendo vítima de violência, ligue para o 180 e denuncie para a Central de Atendimento à Mulher.

Miro Palma é jornalista e escreve às quartas-feiras