'Lidamos com a morte todos os dias', diz taxista sobre assassinato de colegas em Salvador 

Onze taxistas mortos em 2017 na RMS, dizem entidades de taxistas

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 18:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Pelo menos 11 taxistas foram assassinados em Salvador e Região Metropolitana este ano. Os dados são da  Comissão dos Taxistas da Bahia e a Associação Geral dos Taxistas da Bahia.  “Estamos totalmente inseguros. Precisamos de mais segurança para exercer a nossa profissão. Já foram 11 colegas mortos. É quase um por mês”, afirma Dennys Paim, da AGT.

O caso mais recente aconteceu na madrugada deste domingo (17) quando o taxista e policial civil aposentado Moacir Álvaro Ferreira, 68 anos, foi encontrado morto dentro de seu táxi (alvará A-1584) no bairro do Cabula. O crime aconteceu na Estrada das Barreiras, próximo à Caixa Econômica, por volta das 2h.

O porta-voz da Comissão dos Taxistas da Bahia, João Adorno, reclamou da frequência dos crimes contra taxistas, especialmente latronício (roubo seguido de morte). “Total preocupação. Somos pais de família, profissionais, saímos de casa e não sabemos se voltaremos. Qualquer um pode ser o próximo, inclusive eu. Esse é sentimento de todos nós”. 

No final de novembro, o taxista Milton Silva dos Santos, 53 anos, morreu depois de ser baleado em um assalto no bairro de São Cristóvão. O assalto começou com uma corrida no Imbuí. Três homens e uma mulher entraram no veículo, e seguiu até São Cristóvão, onde o grupo anunciou o assalto. 

Outro taxista assassinado foi  Jeferson Soares da Silva, 24 anos, que  foi assassinado no bairro da Capelinha de São Caetano, na Rua da Barriquinha, no final de linha do bairro, no mês de outubro. Jeferson teria chegado no bairro sem passageiro. Ainda não há detalhes sobre as motivações do crime. Chegando no local, ele foi atingido por disparos de arma de fogo.  No mês de agosto, Rafael Mateus Santos, 30 anos, morreu após passar cerca de 20 dias em coma no Hospital do Subúrbio. Segundo a polícia, na ocasião do crime, testemunhas relataram que o veículo da vítima, um táxi modelo Spin, parou de forma brusca próximo à praça de pedágio da Concessionária Bahia Norte. 

Em seguida, teriam visto Rafael, o homem e a mulher descerem do carro. O taxista e o assaltante teriam entrado em luta corporal. O criminoso, que estava com uma peixeira, conseguiu golpeá-lo diversas vezes no abdômen e na coxa direita. Em junho foram dois casos. O primeiro caso teve como vítima Nilton Antônio do Carmo, 65 anos, morto a tiros no bairro da Federação. O crime aconteceu na Rua Jardim Federação, atrás da Igreja Universal. O taxista ainda perdeu o controle da direção, bateu em um carro que estava estacionado na rua e invadiu a garagem de uma casa. O veículo que estava dentro do imóvel também foi atingido na lateral. 

O taxista Manuel dos Reis Alves, 78, foi o segundo caso. Ele foi morto no Barbalho. O idoso foi arremessado do próprio táxi, um veículo Prisma, na Rua Artur Cesar Rios, em frente ao Colégio Nossa Senhora das Graças. Os bandidos fugiram levando o carro. Manuel foi encontrado com uma pancada na cabeça e tinha marcas de sangramento no pescoço compatíveis com estrangulamento O taxista Lucas Rodrigues de Jesus, 25, foi morto a tiros dentro do próprio veículo no mês de março. Os outros casos aconteceram em cidades da Região Metropolitana, segundo as associações de taxistas. 

Falta de segurança  Os taxistas de Salvador transportam também o medo. O CORREIO conversou com alguns deles e todos disseram que trabalham apavorados. “Somos alvos fáceis. Não há segurança na cidade em qualquer horário, principalmente à noite. Ficamos vulneráveis. A gente roda na madrugada não porque queremos, mas porque precisamos”, declarou Antônio Alves de Brito, motorista há mais 15 anos.

O taxista Mário da Silva, 61, disse que já escapou de ser assalto várias vezes. “Uma delas percebi a maldade do rapaz. Ele estava sentando na frente e num determinado momento, mandou em parar o carro porque queria ir dormindo no banco de trás. Mas notei ele muito agitado e, quando saiu, percebi que estava armado e arrastei o carro. Hoje, ser taxista é por falta de opção, porque nós lidamos com a morte todos os dias durante o nosso trabalho. É um risco o tempo todo”, contou.

Cosme dos Santos Anunciação, 59, teve o filho morto durante um assalto no bairro onde mora, Boca do Rio. Ele há dois anos foi assaltado por um casal que se passou por passageiro. Para ele, a solução é deixar Salvador. “Essa cidade não dá mais para mim. Estou me programando para morar no interior no meio do ano que vem”, declarou.

Dennys Paim, presidente da  Associação Geral dos Taxistas, afirma que o perigo está em todas as partes. “Hoje todos os bairros são perigosos. Quando tem casal, a gente sempre fica com medo, porque os bandidos vêm atuando dessa forma. A mulher chama a corrida, a gente pára e depois o casal anuncia o assalto. A gente é obrigado a pegar as corridas duvidosas porque precisamos trabalhar. Antes a gente evitava bairros como São Caetano, Cajazeiras, Itapuã, Estrada Velha do Aeroporto, Liberdade, Costa Azul, Fazenda Grande do Retiro, Pero Vaz e Suburbana, mas hoje todos são perigosos. Quando o casal assalta, geralmente as mulheres são as mais violentas e ficam dando ordens para o comparsa” conta Dennys.