Lila Lopes: a mulher que entregava livros 

Administradora transformou carrinhos de café em bibliotecas móveis

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 10 de setembro de 2017 às 03:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Som ligado, cores vibrantes e um conteúdo delicioso. Provavelmente uma invenção da Bahia, os carrinhos de café chamam a atenção onde chegam. A criançada adora. Para eles, é como o trio elétrico de brinquedo que sonham ter. A administradora de empresas Lila Lopes sacou essa fascinação e resolveu tentar mudar a realidade de comunidades pobres de Salvador. 

Com a visível redução dos índices de leitura por crianças e jovens, Lila usou os carrinhos para transportar o acesso à leitura. “Quando a gente faz um recorte para as comunidades carentes, a gente percebe uma dificuldade ainda maior do acesso à leitura. Por diversos fatores. Um deles é o quanto as bibliotecas não são nem um pouco atraentes aos jovens e crianças”.  

O que ela e a equipe do Instituto Iris, do qual é diretora executiva, fizeram? Criaram uma biblioteca móvel inspirada nos carrinhos de café. Transformaram os acessórios em unidades móveis de leitura. Daí surgiu o projeto Café com Letras, que atuou entre março de 2016 e fevereiro de 2017 nas comunidades do Candeal e Alagados. “No Candeal, fizemos parceria com a Pracatum. Em Alagados, com a Fábrica Cultural”, diz Lila, que é mestre em administração de empresas. 

O projeto foi um dos exemplos inspiradores apresentados, na semana passada, para o público das oficinas e painéis do seminário Cidades, no Fórum Agenda Bahia 2017.

Projeto do Iris, o Café com Letras foi agraciado em um edital financiado pelo Fundo de Cultura. A pedagoga Lena Lois, especializada em dinâmica de leitura, foi chamada. Foi ela quem credenciou jovens da própria comunidade a “dirigir” os carrinhos, que agora tinham outro conteúdo, mas igualmente delicioso. “Eles saíam pelas ruas, interagiam com as famílias, levavam informações sobre os livros e seus autores. Com o som ligado, circularam pelas ruas convocando as crianças para conhecer os acervos”.

As crianças vinham à porta, conheciam Jorge Amado, Zélia Gattai, Ziraldo e tantos outros autores. Foi todo um trabalho de escolha dos autores para atingir aquele público. Se bem que o público esteve longe de estar restrito às crianças. “Muitos pais nunca tinham pegado um livro emprestado em bibliotecas. A gente viu isso acontecer diversas vezes”. 

Mas não basta disponibilizar o livro. O que faz a criança se interessar é um conjunto de atividades. “Existe toda uma estratégia de entrar na comunidade e interagir com ela”. Rodas de leituras foram realizadas nos finais de semana, grupos teatrais das próprias comunidades encenavam alguns dos títulos dos livros. “A gente tirou a barreira do livro como uma coisa distante, inacessível e fora do dia a dia deles e trouxemos para a rotina”. Mais de 1,5 mil empréstimos de livros foram feitos em cada comunidade, em 10 meses. 

“Criamos uma ambiência voltada para a leitura. Tivemos muito retorno, principalmente das escolas, que perceberam mudanças”. Mas o projeto teve que parar. Até porque, o investimento por comunidade é de R$150 mil ao ano, que são gastos em compra de acervo, montagem do carrinho, pagamento dos bibliotecários e de uma pedagoga.

Lila agora quer levantar novos recursos. “Para haver uma transformação efetiva, ele precisa de uns três anos de permanência. Queremos que fique ininterrupto”.

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.