Lívia Suarez: A empoderada das bicicletas

Professora ensina mulheres negras a pedalar como forma de garantir autonomia às moradoras da periferia

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 12:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Em 2015, Lívia Suarez era só uma amante das bicicletas. Das bikes, da poesia e do café. Com outras duas amigas da Faculdade de Letras da Ufba, juntou as três coisas e resolveu ganhar algum dinheiro. Criaram o Bike Café Poético, uma cafeteria itinerante.

“Era um food truck numa pegada mais simples, mais cultural. Éramos três meninas negras vendendo café em uma bicicleta”, lembra Lívia, que foi uma das participantes do seminário Cidades, do Fórum Agenda Bahia 2017, na última quarta-feira, 30 de agosto, e contou sua experiência para a plateia. 

Mas, além de tirar um trocado, elas queriam mudar a realidade das pessoas. E dessa ideia veio o La Frida, um coletivo de cicloativismo que promove diversos trabalhos sociais. Ao lidar com a cidade, com a rua, Lívia e as amigas foram percebendo as problemáticas ligadas à mobilidade.

Uma delas vinha de mulheres negras como elas. “Muitas meninas chegavam para a gente para elogiar o projeto. Mas muitas diziam que não sabiam pedalar. Essa frase ‘ainda não sei pedalar’ foi se tornando uma constante e ficou martelando na nossa cabeça”. 

Antes do grande saque, elas foram em um evento nacional de mobilidade, realizado em São Paulo. Viram que somente elas eram negras. “Percebemos que esse era ainda um espaço branco, elitista e dos homens”. Pronto. Estava idealizado o Preta Vem de Bike, um dos projetos derivados do La Frida e que ensina mulheres negras a andar de bicicleta.

Entre voluntárias e participantes, hoje o Preta Vem de Bike é formado por 22 mulheres que ensinam outras mulheres a pedalar. Só em Salvador são 12. Mas há ativistas no Rio de Janeiro e São Paulo. Recife terá o Preta Vem de Bike em breve.  Sobre duas rodas, as alunas vão trabalhar, fazer entregas, resolver a vida ou simplesmente passear. Também dependem menos do transporte convencional, que custa caro. 

“Mexer com a mobilidade é o de menos. Estamos mexendo na verdade é com processos de cura, com memória opressora, estamos mexendo com sonhos. A maioria das nossas alunas nunca teve acesso a uma bicicleta. Criar esse espaço de exclusividade faz com que elas se sintam mais abraçadas, seguras e estimuladas”, afirma Lívia.

Mas, para que essas mulheres se sintam ainda mais livres e empoderadas, a cidade precisa se estruturar mais. “As que só utilizam para passeio querem também usar como meio de transporte. Mas andar de bicicleta na periferia e se deslocar para o centro não é fácil. Se um dia o metrô e os ônibus estiverem integrados às bikes muitas portas estarão abertas”, acredita Lívia.  

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.