Lotérica de cidade baiana lavava dinheiro desviado de prefeitura, diz PF

As investigações da PF tiveram início em 2016, após denúncias de vereadores

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 19 de setembro de 2017 às 17:03

- Atualizado há um ano

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Na Lotérica São Pedro, única de Aracatu, pacata cidade do sudoeste da Bahia de quase 14 mil habitantes, não era só o dinheiro de apostas que movimentava os cofres. Por lá, segundo a Polícia Federal, passavam boa parte dos R$ 3,2 milhões desviados da Prefeitura desde 2015. Nesta terça-feira (19), a polícia realizou operação para dar fim ao esquema, que envolvia o secretário de Administração e o diretor de Tributos, irmãos do dono da São Pedro, e o prefeito Sérgio Silveira Maia (PV), afastado do cargo por determinação judicial.

O dinheiro que ia para a lotérica era o que tinha sido pago à empresa Lopes Serviços Terceirizados LTDA, sem que, segundo a PF, ela prestasse o serviço de limpeza, asseio e conservação diária, para o qual foi contratada pela prefeitura de Aracatu em 16 de março de 2015, com pagamento mensal de R$ 179.100. Na lotérica, a PF apreendeu R$ 50 mil e na casa do secretário de Administração Antonio Maia uma espingarda. Ele foi liberado após pagar fiança. O CORREIO não conseguiu contato com os donos da São Pedro, registrada na Receita Federal em nome de Miguel Silveira da Rocha e Jane Consuele Santos Rocha.

Já o dono da Lopes Serviços, Noé Lopes de Oliveira, conduzido coercitivamente pela PF nesta terça para dar explicações sobre o esquema, desligou o celular quando o CORREIO perguntou o que ele tinha a comentar sobre o assunto. A procuradora de Aracatu, Alana Carolina Santana Silveira, afirmou que iria enviar uma nota com a posição da Prefeitura, mas isto não ocorreu até a publicação desta reportagem. Com o afastamento de Sérgio Maia, assume a prefeitura de Aracatu a vice Lêda de Souza Matias Silveira, do PSB.

Além de Aracatu, a empresa Lopes Serviços realizou contratos nos mesmos moldes com a prefeitura de Palmas de Monte Alto, também no sudoeste da Bahia. A PF afirma que a empresa “era de fachada e que muitos dos empregados contratados seriam fantasmas ou prestariam serviços em estabelecimentos já totalmente desativados, a exemplo de dezenas de escolas.” Entre abril de 2014 e maio de 2016, a prefeitura de Palmas de Monte Alto repassou à empresa mais de R$ 652 mil, porém não se sabe ao certo ainda o valor desviado.

O ex-prefeito de Palmas do Monte Alto Fernando Laranjeira, do PDMB, também foi conduzido coercitivamente pela PF nesta terça. A operação da PRF, realizada por 53 policiais federais e 7 auditores da Controladoria da União nas cidades de Aracatum Palmas do Monte Alto, Riacho de Santana e Botuporã, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão, 10 mandados de condução coercitiva e 8 de medidas cautelares, como afastamento do cargo e proibição de frequentar a administração municipal.

“Os valores recebidos pela empresa eram repassados a servidores municipais ligados ao ex-prefeito de Palmas de Monte Alto ou a familiares do atual prefeito de Aracatu, que utilizavam apenas parte do dinheiro para remunerar pessoas da zona rural ou adolescentes para a execução do objeto do contrato, sendo o restante apropriado indevidamente", explica o delegado federal Rodrigo Kolbe.

As investigações da PF tiveram início em 2016, após denúncias de vereadores de Aracatu. “Ao analisar o caso, vimos que havia contratos também na empresa de Palmas do Monte Alto”, explica Kolbe, acrescentando que a verba desviada é do Ministério da Educação. Os envolvidos no esquema vão responder por lavagem de dinheiro, crime organizado e fraude a licitação.