Mãe de Geddel exerce influência no clã familiar, diz acusação da PGR

Segundo o MP, Marluce Vieira Lima usou sua casa para armazenar grande quantidade de dinheiro

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  • Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2017 às 11:56

- Atualizado há um ano

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Marluce Quadros Vieira Lima sempre prezou pela discrição. Apesar de uma vida inteira cercada de políticos - é viúva do ex-deputado Afrísio e mãe do ex-ministro Geddel e do deputado Lúcio - não era vista em reuniões partidárias e raramente ia a festas da sociedade baiana. Quem tem acesso ao círculo mais restrito da família diz, no entanto, que esse comportamento é apenas da porta para fora. Dentro de casa, Marluce agia como uma verdadeira matriarca, tomando para si a voz de comando nas decisões políticas e ações da família. 

Na denúncia que apresentou nesta terça-feira (5/12), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, atribui a ela "papel proeminente na associação criminosa" no caso dos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento em Salvador - cuja origem até hoje não foi esclarecida pelo ex-ministro Geddel e o deputado Lúcio Vieira Lima. Segundo o Ministério Público, Marluce usou sua casa, que fica no mesmo edifício onde vivem também seus filhos, em Salvador, para armazenar grande quantidade de dinheiro em espécie. Antes de serem encontradas em outro apartamento pela Polícia Federal, em setembro, as malas e caixas com as notas estavam em seu closet.

Uma das testemunhas do caso, o empresário Luiz Fernando Costa Filho, afirmou à PF que recebeu cerca de R$ 11,5 milhões entre 2011 e 2016 repassados por Geddel e Lúcio como participação dos peemedebistas em negócios imobiliários em Salvador. De acordo com o empresário, os valores eram retirados em dinheiro em espécie no apartamento de Marluce. Além de possuir fazendas no interior da Bahia, a família Vieira Lima investe no setor imobiliário. Marluce aparece como sócia de duas empresas do ramo, a M&A Empreendimentos e Participações Ltda. e a Vespasiano Empreendimentos e Participações Ltda., além do posto de gasolina Alameda da Praia Combustíveis Pecas e Serv Ltda. 

Outro depoente, Job Ribeiro, disse que foi acionado mais de uma vez para contar grandes quantidades de dinheiro no escritório da casa de Marluce. Assessor há décadas dos Vieira Lima, Job disse que devolvia a maior parte de seu salário para a família. Desde janeiro de 2016, no entanto, Marluce passou a receber uma pensão de R$ 26 mil da Caixa de Previdência Parlamentar em função da morte de seu marido, o ex-deputado por três mandatos, Afrísio Vieira Lima. Além dela, Geddel recebe R$ 20 mil desde os 51 anos de idade, como aposentadoria em razão de seus cinco mandatos de deputado federal.

Caso Baneb Esta não é a primeira vez que Marluce aparece em notícias de denúncias contra seu filho. Em 1983, quando tinha 25 anos, Geddel exercia seu primeiro cargo público, como diretor da corretora de valores do Banco Estadual da Bahia (Baneb). Uma auditoria interna constatou na época um desvio de R$ 2,7 milhões (em valores atualizados), fruto de um esquema que teria beneficiado Geddel, seu irmão, o hoje deputado Lúcio, seu pai, Afrísio, e a mãe, Marluce. Geddel foi demitido, mas a investigação não foi adiante.

A discrição que Marluce sempre prezou, no entanto, só foi quebrada aos 79 anos, quando seu nome aparece sob os holofotes de uma denúncia oferecida pela PGR, por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Se a prisão de Geddel, em setembro, acendeu o alerta em Brasília pela possibilidade de ele fazer delação premiada comprometendo o presidente Michel Temer, a investida do MPF contra a mãe do ex-ministro deve aumentar ainda mais a apreensão no Planalto. Quem acompanha os Vieira Lima de perto há anos descreve que as principais características do clã são a união entre os membros e a "verdadeira devoção" de Geddel e Lúcio pelos pais.