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Mais 'furada' de Salvador, sinaleira no Rio Vermelho é campeã de multas


 

CORREIO mostra ranking dos semáforos mais desrespeitados por motoristas em Salvador

  • Amanda Palma

Publicado em 21/08/2017 às 06:26:00
Atualizado em 17/04/2023 às 11:07:04
. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Por dia, 18 pessoas foram multadas por avançar o sinal vermelho no bairro do Rio Vermelho este ano. E as multas aconteceram em um mesmo lugar: no Largo da Mariquita, bem em frente à Vila Caramuru e ao acesso para a Rua Monte Conselho. É lá que fica o fotossensor que registrou 3.955 avanços de semáforo somente em 2017, até o mês de julho. Em Salvador, alguns pontos são críticos para essa infração de trânsito.

O número de ocorrências mais que duplicaram de um ano para o outro no mesmo local. No ano passado, esse cruzamento ficou em segundo lugar no top 10 de maior número de ocorrências, com 1.822 registros. Em toda cidade, também houve um aumento dessas infrações e o número subiu de de 26.034 para 30.154, no mesmo período do ano. 

Depois do Rio Vermelho, o local que mais registrou essa infração foi o cruzamento da Avenida da França com a Rua da Suécia, no sentido da Avenida Contorno, onde foram registrados 2.913 avanços somente em 2017. Em seguida aparece a Avenida Manoel Ribeiro, no Stiep, próximo da Escola Pingo de Gente, com 1.475 infrações, o que demonstra uma queda, já que no mesmo local em 2016 foram registrados 1.781 avanços de sinal vermelho.

Segundo o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, constantemente são feitas mudanças na localização dos fotossensores, o que pode contribuir para a mudança ou redução do número de infrações em determinado ponto. “O número de infrações aumenta com remanejamento do equipamento ou pelo local já estar mais consolidado como fiscalizado, por isso isso realmente têm mudanças de um ano para o outro”, explica.

Para o ponto específico do Rio Vermelho, a Transalvador não tem uma explicação precisa. Mas justifica que a instalação no local foi feita no mês de março do ano passado. “Em 2017, ele estava ativo no período de janeiro/fevereiro, quando temos aumento do número de pessoas na cidade e, consequentemente, de infrações. A princípio seria esse o provável motivo”, explica o órgão.

As mudanças no locais dos fotossensores são realizadas a partir de estudos técnicos que mostram se o local ainda precisa da fiscalização eletrônica. “A gente faz alguns remanejamentos, de fotossensores já se consegue consolidar melhor o respeito ao semáforo. É um trabalho permanente, onde está tendo mais acidentes, a gente vai fazendo alterações”, detalha Muller.

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Hábito Segundo o professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UNB) Paulo César da Silva, invadir o sinal vermelho não é apenas um hábito dos baianos, mas faz parte da nossa cultura de trânsito. O professor pontua ainda que o condutor dos automóveis devem entender que além de se expôr ao risco de sofrer um acidente, também coloca em risco a vida de pedestres.

“Sempre tem que pensar que a própria lei prevê que todos os condutores são responsáveis pelos pedestres. Além disso, o condutor de um veículo obrigatoriamente passou por um processo de condução e habilitação e tem que ter essa consciência. O pedestre é o mais frágil, porque não tem nenhuma estrutura que o proteja no trânsito”, afirma.

Infração Invadir o sinal vermelho é considerada infração gravíssima pelo Código Brasileiro de Trânsito, e a multa é de R$ 293,47, além de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). E para as normas de trânsito o taxista Washington Souza, 59 anos, estava errado. Mas, para ele, errado mesmo seria ter deixado sua esposa e seu filho correr o perigo de serem assaltados. E foi por isso que ele avançou o sinal na Av. Suburbana, depois de perceber que dois homens armados assaltavam um carro que estava atrás do automóvel da família. "O valor da multa que tenho que pagar não chega nem perto do valor de ter minha família ao meu lado", diz.  Washington levou suas multas no mês passado e agora tenta recorrrer na Transalvador (Foto: Marina Silva/CORREIO) O taxista vai ter que desembolsar ainda mais R$ 103 por causa de outra multa na Avenida Contorno, após fazer uma conversão proibida, para fugir de um engarrafamento. Segundo ele, durante o congestionamento um agente da Transalvador o orientou a seguir mesmo com o sinal fechado, já que a rotatória que dá acesso ao bairro do 2 de Julho estava a pouco metros e um caminhão guincho atrapalhava o trânsito. 

"Ele me disse que eu poderia seguir, mas ele estava mesmo usando de má fé e o preço disso chegou dias depois na minha casa", conta. As multas aconteceram no mês passado e ele já entrou com recursos na Transalvador. 

Madrugada Durante a madrugada, é difícil que alguém queira ficar parado no semáforo vermelho. E, segundo o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, os fotossensores não registram o avanço de sinal  entre as 21h e as 6h, porém isso não significa que o ato deixe de ser infração.

“O Código de Trânsito não prevê uma liberação de avançar o sinal. Por uma política interna nossa,  os fotossensores são desligados às 21h. Mas isso não quer dizer que é permitido passar no  final vermelho, é desligado por bom senso, caso o motorista tenha se sentido inseguro ou ameaçado”, explica.

O professor Paulo César pontua que, nesses casos, o melhor seria deixar os semáforos no intermitente (piscando amarelo), porque indica uma mudança na relação do tráfego naquele local. “Ao invés de desligar a fiscalização, pode mudar a sinalização, porque indica que naquele local a regra começa a valer diferente. Seria o correto fazer essa mudança, que não tem nenhum grau de informalidade, e não tem nenhum descumprimento às regras”, observa o professor.

Já o gerente técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária, Renato Campestrini, orienta que os motoristas reduzam a velocidade na tentativa de esperar que o semáforo fique verde novamente, e o condutor não precise avançar o vermelho. “A gente recomenda que à noite nunca pare no vermelho, mas passe sempre no verde, reduzindo a velocidade, para evitar o risco de acidentes”, afirma.

Campestrini lembra ainda que apesar do medo de que possam acontecer crimes na madrugada, o motorista também deve ficar atento às possibilidades de um acidente de trâsnsito. “A gente percebe que a segurança pública é uma das principais preocupações do brasileiro, mas o trânsito mata muito mais do que a violência na cidades”, conclui.

*colaborou Nilson Marinho