Maternidade Climério de Oliveira suspende realização de partos por 15 dias

Neste período, grávidas devem procurar atendimento em outras unidades

  • Foto do(a) author(a) Tailane Muniz
  • Tailane Muniz

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 17:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

As mulheres que planejavam ter seus bebês na Maternidade Climério de Oliveira (MCO), no bairro de Nazaré, em Salvador, nos próximos 15 dias, vão precisar pensar em um plano b. É que o Centro Obstétrico (CO) da MCO, primeira maternidade do Brasil, será reformado e, por isto, vai passar a funcionar em outra unidade de saúde. De hoje até o dia 20 de setembro, Salvador tem 79 leitos a menos para as parturientes. 

Além do CO, o setor de Nutrição, o Centro de Material Esterelizado e a portaria da maternidade também vão passar por obras, que devem durar cerca de um ano. Superintendente da Climério de Oliveira, a ginecologista e obstetra Mônica Neri, no entanto, explica que os atendimentos ambulatoriais, como o pré-natal, ultrassom, além de consultas e outros exames, seguem funcionando normalmente na sede da maternidade, localizada na Rua Limoeiro, em Nazaré. 

O nome da unidade em que o Centro Obstétrico da MCO vai funcionar pelos próximos 12 meses não foi informado. A Climério, que atualmente conta com 79 leitos de urgência e internação, realiza cerca de 250 partos por mês. Os atendimentos, incluindo os de saúde da mulher, chegam a 350. Embora seja uma maternidade aberta ao público, como todas da rede estadual, o hospital atende, prioritariamente, moradoras do distrito sanitário Barra, Rio Vermelho, Centro Histórico e Pelourinho, conforme Mônica. 

"A maternidade precisa desta reforma, até por ser um prédio centenário. Primamos por uma assistência adequada e segura, pelas boas práticas de parto e nascimento, que são algumas de nossas premissas. Este período [de 15 dias] vamos utilizar para transferir, de forma gradativa, alguns pacientes internados e o material hospitalar para o espaço onde, a partir do dia 20 de setembro, os nossos profissionais voltam a prestar atendimentos de parto e emergência", relata.

A superintendente ressaltou que a reforma tem caráter qualitativo e, portanto, não prevê uma ampliação da estrutura, mas a melhoria. "Recomendo que as grávidas procurem orientação - de para qual maternidade devem se encaminhar - na unidade em que elas realizam o pré-natal", completa Neri, acrescentando que as gestantes acompanhadas na Climério foram previamente alertadas. E se neste período, por ventura, alguma grávida prestes a parir aparecer na Climédio em busca de atendimento, segundo Mônica, ela vai ser orientada a procurar outra unidade - pois, ainda de acordo com a superintendente, não haverá estrutura e equipamentos necessários para a realização de um parto.

Maternidade-escola da Universidade Federal da Bahia, a Climério de Oliveira tem 106 anos e é administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) - vinculada ao Ministério da Educação. A obra, que tem orçamento estimado em R$ 4,5 milhões, é custeada pelo Programa Nacional de Reestruturação de Hospitais Universitários Federais (Rehuf). Ao todo, 950 pessoas trabalham na maternidade. Por meio de sua assessoria, a Ufba reforçou o posicionamento da Sesab e informou que não se posicionaria sobre o caso. Superintendente da maternidade, Mônica Neri disse que o Centro Obstétrico deve retornar atividades em 15 dias (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Transtornos Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) disse, por meio de nota, que trabalha para reduzir os impactos causados pela suspensão dos serviços da MCO. As equipes das maternidades da rede estadual e da Central Estadual de Regulação enviarão equipes para minimizar os prejuízos às gestantes, ainda conforme a Sesab. 

"As grávidas do interior do estado devem buscar assistência ao parto nos municípios de residência que, em caso de gravidez de alto risco, deverão referenciar o atendimento através da Central Estadual de Regulação", completa a nota. A rede estadual de maternidades, ainda conforme a Sesab, dispõe de outras sete maternidades. 

São elas a Tsyla Balbino, na Baixa de Quintas; Iperba, em Brotas;  Maternidade de Referência Professor José Maria Magalhães Neto, no Pau Miúdo; Albert Sabin, em Cajazeiras; João Batista Caribé, no Subúrbio e as maternidades dos hospitais Roberto Santos, no Cabula, e Menandro de Faria, em Lauro de Freitas. 

Por meio de sua assessoria, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que as pacientes que procurarem os postos de saúde e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do município vão ser encaminhadas para as maternidades referenciais correspondentes às áreas específicas em que residem. 

Presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremeb), a cancerologista Teresa Maltez explicou que a suspensão de atendimentos de urgência, mesmo que por curto período, terá reflexos negativos para as pacientes. "Temos uma rede que já é carente de leitos de obstetrícia, onde as mulheres penam para conseguir leitos. Ainda que temporário, haverá transtornos para essas mulheres", opina.  

A presidente do Cremeb comentou, ainda, que espera agilidade na reforma. "É preciso reconhecer que a estrutura é muito antiga e necessita deste reparo. A Climério tem poucos leitos, especialmente de pronto-atendimento, então a gente espera que a reforma propicie uma ampliação dessa capacidade. Esperamos que a Sesab acolha bem essas pacientes", pondera.  Centro Obstétrico da Climério de Oliveira vai ser relocado para unidade de saúde ainda não divulgada (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Caos Conforme o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), o ginecologista Francisco Magalhães, o segmento da maternidade é um dos mais complicados da Medicina. "É uma área muito sensível, com históricos de superlotação, então, qualquer redução nos leitos, por menor que seja o período, implica em caos. Mesmo que fosse de um dia, é um dano à sociedade", afirma. 

Francisco salientou que o sindicato analisa a suspensão temporária do Centro Obstétrico da MCO com preocupação. "É um sistema que deveria ter pensado antes, construído uma alternativa sem precisar interromper por 15 dias. Embora as maternidades, hoje, sejam porta-aberta, ou seja, autorizadas a receberem todas as grávidas, algumas têm sérias deficiências".

"Por exemplo, a [maternidade] do Hospital Menandro, muitas vezes, não tem equipe de anestesistas. Na João Caribé existem plantões descobertos, ou seja, é complicado contar com o apoio das que nós temos. São problemas terríveis que, se fossem resolvidos, poderiam diminuir o caos", critica.

Para Francisco Magalhães, a Climério de Oliveira é sobrecarregada. "O papel da maternidade-escola é formar e aperfeiçoar médicos. O objetivo principal é este, mas ela (a maternidade) acabou se tornando uma válvula de escape da rede, o que é complicado, porque este processo do parto é uma sinalização que não se restringe ao parto propriamente dito, mas a um acompanhamento de excelencia desde o pré-natal", salientou o médico.

Novo prédio Superindentente da maternidade, Mônica Neri contou ao CORREIO que existem planos para que, em 2018, haja a ampliação da unidade com a construção do novo prédio, com início previsto para 2018. "Temos a necessidade da construção de um novo prédio desde 2005. Já tivemos uma sinalização positiva de emenda impositiva da Bancada Federal da Bahia para liberação de recursos", disse ao CORREIO, acrescentando que a obra está orçada em R$ 70 milhões. A quantidade de leitos pularia de 79 para 130, de acordo com Neri.

"É uma unidade que vai ocupar o espaço de um terreno ao lado, que foi desapropriado pelo Governo do Estado, em 2010, e doado à maternidade para a construção de uma nova sede. A previsão é que no próximo ano estejamos com este recurso para, então, dar entrada na licitação. A maternidade tem uma importância histórica muito grande, precisamos primar pela valorização deste equipamento", pontua. Procurada, a Sesab não se posicionou sobre as informações de que há planos para a construção de um novo prédio.