‘Me arrependo da denúncia. Não fez nenhuma diferença’, diz jovem agredida em Salvador

Quando foi à Deam de Brotas, no dia seguinte, ouviu de um policial: “Ciúme é assim mesmo”

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  • Thais Borges

Publicado em 2 de julho de 2016 às 13:20

- Atualizado há um ano

O namoro de três meses acabou com a agressão súbita em novembro de 2015. Com ciúmes de um comentário, o então namorado xingava a comerciária Sofia*, 24 anos. Começou a bater nela. “Quando ele parou, me fez levá-lo em casa com ele dirigindo meu carro”.

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Na rua onde ele morava, continuou a agredi-la. “Quando a mãe dele viu, levou para casa”. Mas o suplício não terminou. Quando foi à Deam de Brotas, no dia seguinte, ouviu de um policial: “Ciúme é assim mesmo”. “Ouvi aquilo machucada, sem conseguir falar”, lembra. Não teve notícias da Deam por dois meses, mas teve do agressor, que ligou para ela. No retorno à delegacia, um policial lhe disse que “o que os olhos não veem, o coração não sente”.  Em maio, descobriu que o processo estava com o Ministério Público, mas o telefone repassado pela delegacia estava errado.

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Descobriu que a medida protetiva foi concedida pela Justiça desde janeiro - mas o agressor nunca a recebeu, de modo que ela não tem validade. “Estou de mãos atadas e ele pode fazer o que quiser. Me arrependo da denúncia, porque não fez nenhuma diferença”, conclui. 

Grupo faz campanha de apoio onlinePara ajudar mulheres vítimas de violência, desde abril, o Coletivo TamoJuntas, formado por quatro advogadas, oferece acompanhamento - principalmente jurídico, mas também social e psicológico - gratuito. No próximo sábado, a partir das 9h, o grupo realiza o 2º Mutirão Lei Maria da Penha, na Igreja Batista Nazareth, em Nazaré. 

Do encontro, cujo tema será os Desafios no Enfrentamento à Violência contra Mulheres, vão participar representantes de órgãos públicos, como a promotora Livia Sant’Anna, coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher, e a ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado, Vilma Reis.

“A ideia do mutirão é ter contato com a comunidade, para as mulheres saberem do nosso projeto. Havendo demanda (de atendimento), vamos encaminhá-las, tirar as dúvidas, marcar o atendimento individual, que deve ser de pelo menos uma hora”, explica a advogada Carolina Rola, uma das fundadoras. A ideia surgiu durante uma campanha no Facebook, chamada #MaisAmorEntreNós, em que mulheres se disponibilizavam para fazer um serviço gratuito por outra mulher. 

Só em Salvador, cerca de 50 mulheres foram atendidas e mais de 500 de outros estados receberam orientação. Para entrar em contato com o coletivo, basta acessar a página facebook.com/tamojuntas ou através do 71 99185-4691 (WhatsApp).