'Memorável figura': amigos lamentam perda de Antônio Moreira

Dono do Porto do Moreira será enterrado no Campo Santo nesta quarta (3)

Publicado em 3 de janeiro de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Andréa Farias/Arquivo Correio
A atriz Regina Casé entre os irmãos Francisco e Antônio Moreira por Foto: Reprodução Facebook/Divulgação

Ele cresceu no burburinho de um dos restaurantes mais tradicionais de Salvador e um dos favoritos do escritor Jorge Amado (1912-2001): o Porto do Moreira. “Não tinha nada na nossa casa, só água. Comida era sempre aqui”, contou o empresário Antônio Moreira em sua última entrevista ao CORREIO, no final de novembro, pouco mais de um mês antes de ser encontrado morto em casa, aos 72 anos.

OPINIÃO: Adeus, Moreira

Um dos herdeiros do estabelecimento citado no romance Dona Flor e Seus Dois Maridos, Moreira foi encontrado sem vida no final da manhã desta terça (2), depois de sua ausência no trabalho ter sido notada pela família. Os parentes suspeitam que um infarto vitimou o empresário que administrava, junto com o irmão Francisco, o restaurante fundado pelo pai há 79 anos. O sepultamento de Antônio Moreira está marcado para as 11h de quarta (3), no Cemitério Campo Santo.

“Foram procurar saber por que ele não tinha vindo para o restaurante. Era quase meio dia quando ficamos sabendo e dessa hora em diante o restaurante ficou fechado. Algumas pessoas que estavam aqui terminaram de comer, outras desistiram e outras pediram para embalar, porque não tinha mais clima de ficar...”, contou a administradora Cristina Moreira, 41, responsável pela gerência do restaurante localizado no Dois de Julho com o tio e o pai.

Depois de explicar que ainda não sabe quando o restaurante será reaberto, Cristina desabafou: “O momento é complicado. Faz três meses que perdi minha mãe, e agora meu tio... A cabeça não está boa... Ele é como se fosse um segundo pai pra mim, sempre esteve comigo em todos os momentos: alegres, tristes... Homem maravilhoso e genioso (mas quem não é?). Temperamento forte, tanto ele, como meu pai, filhos de italianos com portugueses...”, resumiu.

Nas redes sociais, frequentadores do restaurante e amigos lamentaram a morte de Moreira. “Memorável figura, admirável exemplo de fraternidade e cordialidade, que conciliava na convivência diária com clientes, muitos frequentadores da casa por decênios, gestos de amabilidade e respeito com irreverência bonachã (...). Desde que o conheci, lá se vão quase sessenta anos, travamos uma relação de consideração e amizade que durou até que os Fados o permitissem. Vai-se Moreira, de repente, deixando em todos os que o conheceram um sentimento de perda incalculável”, disse o poeta e jornalista baiano Florisvaldo Mattos.

Reduto da boemia e frequentado por artistas como Regina Casé, Ney Matogrosso e Caetano Veloso, o Porto do Moreira foi fundado pelo português José Moreira da Silva, citado na obra de Jorge Amado, um dos primeiros clientes do restaurante. Tradicional, o estabelecimento mantém pratos que estão no cardápio há décadas e são conhecidos pela clientela fiel, como a moqueca de carne, a galinha ao molho pardo e o bacalhau com verduras. Marcas que fazem do Moreira “uma das joias, senão a principal, do universo sensorial da Cidade do Salvador”, resume Florisvaldo Mattos.

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*Colaborou Marília Moreira.