Modernos! Professores inovam e aderem ao Snapchat para incentivar alunos

O CORREIO mapeou sete contas em que professores e pedagogos dão dicas, convidam para desafios e incentivam o estudo

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  • Thais Borges

Publicado em 10 de agosto de 2016 às 06:08

- Atualizado há um ano

Dez segundos. É do que precisa o professor de Química Victor Benevides para lançar,  para mais de cinco mil estudantes,  um desafio. Melhor, um Snap Desafio. Os avessos à tecnologia dificilmente saberão do que se trata. Mas os seguidores dele sabem que terão 24 horas para visualizar e responder ao teste. É que no Snapchat, aplicativo com mais de 150 milhões de usuários ativos no mundo – o Twitter já ficou para trás, com 136 milhões –, os vídeos e fotos  postados expiram em 24 horas.  O app já virou ferramenta de estudo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).E dá pra estudar assim? – perguntam os mais conservadores. O professor Victor, que dá aulas de Química na Fundação Baiana de Engenharia, no colégio e cursinho Galileu (Itabuna) e no curso Universitário, em Salvador, garante que sim. “Não a aula completa, mas dicas. A gente brinca que vai ser uma ‘snapdica’, um conselho, uma palavra de conforto, de superação, quase um coach e obviamente tudo relativo à Química”, aponta. O professor Victor Benevides vai para um laboratório gravar os vídeos para o Snapchat: experimentos viram dicas e desafios para os alunos (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)O resultado é que, em média, 800 estudantes visualizam cada um dos pequenos vídeos postados pelo professor desde 2014. Ele conta que criou a conta por indicação dos próprios alunos. Além das dicas, aos poucos vão surgindo aulas. A ideia é, de 10 em 10 segundos, repassar o conteúdo. “Já surgiram este ano aulas além das dicas. É uma nova forma da gente interagir com o aluno. Querendo ou não, você reforça o conteúdo dado em sala de aula nas redes sociais e tem funcionado. O retorno deles é positivo”, completa Victor, que grava os vídeos num laboratório.E ele não é o único. O CORREIO mapeou sete contas no Snapchat em que professores e pedagogos dão dicas, convidam para desafios e incentivam o estudo para os seus seguidores. O que faz dar certo é o fato de o Snapchat ser a nova febre entre os jovens –  as publicações desaparecerem a cada 24 horas, o que faz com que eles corram para ver assistir e se sintam mais à vontade na hora de postar.O Descomplica, curso pré-vestibular e Enem com aulas online, garante ter milhares de visualizações por snap – ou postagem.“A gente faz dicas de professores, manda informações de bastidores. Eles pedem dicas e, no final, vamos ter um minuto de vídeo, mas vamos cortando ou postamos a foto de uma fórmula. É perfeitamente possível”, diz a gerente de Marketing do Descomplica, Maria Fernanda Borsatto.LinguagemAs responsáveis pelo canal SOS Tenho Prova, Roberta Bento e Taís Bento – mãe e filha – contam que foi depois de entrar para o Snapchat que passaram a ser convidadas para dar palestras para estudantes. Antes disso, Roberta, que é formada em Letras, e Taís, pedagoga, mantinham o projeto Socorro! Meu filho não Estuda – e por meio dele falavam com pais e professores. Mas os que o público queria é que as duas falassem com os alunos.Taís e Roberta Bento, do SOS Tenho Prova: app é complementar (Foto: Divulgação)“Descobrimos que usando o canal e a linguagem que eles acreditam, eles assimilam e gostam de receber o conteúdo. Essa é uma descoberta que faz muita diferença. Todo mundo tenta falar com o jovem, mas querendo usar o canal que é bom para o pai ou o professor. Mas dentro da linguagem dele, trazendo dicas de alta aplicação, foi uma conquista para aprendizagem”, explica Roberta.A conta estourou há três meses. E, além de dicas, as duas recebem o retorno dos estudantes – são cerca de 200 mil visualizações por semana e pelo menos 50% do público está estudando para o Enem, segundo Roberta. “Além de mandar dúvidas, botam os resultados, voltam para contar a  nota da prova”, completa a pedagoga Taís. É ela quem grava os vídeos diários – alguns contam com a participação da mãe.AdequaçãoAluna do 3º ano do Colégio Galileu, em Itabuna, a estudante Stefane Neves, 17 anos, começou a acompanhar o Snapchat do professor Victor no início do ano. “Ele posta vídeos de experiências. As reações que a gente não consegue ver na sala, ele mostra na prática pelo Snap. Quando a gente vai responder questões, a gente lembra dos vídeos”, diz.Stefane, que quer cursar Medicina, conta que já começou a procurar outros professores que utilizam o app. Uma das alternativas para ela pode ser o professor de Espanhol Danilo Santiago, do Colégio oficina, em Salvador.Antes ‘peixe fora d’água’, agora Danilo é ativo no app. “Me senti um estranho, porque ou quem tinha era artista ou aluno. Mas é legal a coisa do aluno ver a gente, aproxima”, diz.

Para especialista, Snap  não pode ser deixado de ladoPara o professor Edvaldo Couto, pós-doutor em Educação e um dos coordenadores do grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o Snapchat é uma ferramenta que pode e deve ser utilizada por professores e alunos para estudos e preparação de avaliações como o Enem. “Vivemos em estado de urgência, no fluxo das narrativas em tempo real. A era das conectividades, com usos intensos de tecnologias móveis, nos coloca no centro das dinâmicas velozes da instantaneidade. O Snapchat é um desses ambientes. É mais um aliado da educação que não pode ser deixado de lado na cultura digital”, explica.

Mas é preciso aliar o uso do Snap às outras formas de estudar. “Ele não deve substituir a sala de aula, as aulas, as orientações de professores, o convívio dos colegas, outros ambientes de rede onde se arquiva tudo que foi postado”, diz. Para Taís Bento, do SOS Tenho Prova, o Snapchat aproxima professor e aluno, mas há limites. “Ele vai ter que deixar o celular de lado em algum momento”, diz.