Molécula extraída do ferrão de abelha ajuda a detectar bactérias em alimentos

O dispositivo foi desenvolvido por cientistas brasileiros de três instituições públicas e é mais barato que sensores tradicionais

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  • Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2019 às 06:40

- Atualizado há um ano

Rápido, prático e mais barato que os sensores tradicionais de bactérias. Assim é o biossensor que funciona a partir de uma molécula extraída do ferrão de abelhas. O dispositivo, desenvolvido por cientistas brasileiros, é capaz de detectar bactérias em bebidas e alimentos.

O biossensor é formado por um filme contendo eletrodos de prata, um material que conduz eletricidade, e por partículas magnéticas minúsculas, nanométricas, recobertas com melitina. A melitina é uma biomolécula de aminoácidos extraída do ferrão de abelhas.

Ao serem introduzidas em uma amostra de água, essas nanopartículas magnéticas recobertas com a melitina atraem e capturam as bactérias. Elas funcionam com uma espécie de ímã, e concentram as nanopartículas nos eletrodos de prata. Esta junção gera um sinal elétrico com intensidade capaz de identificar os tipos de microorganismos presentes na amostra e de quantificar as colônias.

Nas amostras de alimentos sólidos é necessária apenas uma pequena quantidade triturada e homogênea para realizar o teste. O processo é bem mais rápido que o método tradicional, que exige a contagem do volume total do material e chega a durar entre 24 e 72 horas para ser concluído.

“O biossensor é capaz de detectar bactérias em uma amostra muito pequena de alimento ou bebida, com alta sensibilidade e tempo que varia entre 10 e 25 minutos”, afirma o professor da USP e coordenador da pesquisa, Osvaldo Novais de Oliveira Junior.

O estudo foi realizado a partir de uma tese de doutorado do pesquisador Deivy Wilson Masso, e desenvolvido através de uma parceria com cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Federal de Sâo Carlos (UFSCar).

“O dispositivo é capaz de detectar uma quantidade muito pequena de bactérias na amostra, de uma unidade formadora de colônia por mililitro”, completa Oliveira Junior. Gráfico reproduz sistema de funcionamento do biossensor que usa moléculas extraídas de abelhas. (Fonte: Artigo Revista Talanta) Uso no Sistema de Saúde

O dispositivo já foi testado para detectar a concentração de três bactérias encontradas com frequência em alguns alimentos, como a Escherichia coli (E.coli), Staphylococcus aureis (S.aureus) e a Salmonella typhimurium (S. Typhi).

Em amostras de água potável, os testes mostraram a presença de uma unidade formadora de colônia. Já em amostras de suco de maçã, os resultados identificaram a concentração de 3,5 unidades formadoras de bactéria por milímetro.

“O biossensor pode permitir fazer uma triagem rápida e de baixo custo para controlar a qualidade de alimentos e bebidas em supermercados, restaurantes ou nas indústrias”, disse Oliveira Junior.

A tecnologia publicada na revista cientifica Talanta foi divulgada pela Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e está sendo patenteada. Segundo os cientistas, ela poderá ser adaptada ainda para detectar contaminações em ambientes hospitalares.

“Não precisaremos importar nenhum dos itens do biossensor, cujo custo final será de apenas cerca de R$ 0,30”, completa o coordenador da pesquisa.