Moradores abrem túmulo após relato de mulher enterrada viva na Bahia

Parentes de dona de casa citam arranhões e tampa de caixão aberto

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 16:45

- Atualizado há um ano

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Rosângela dos Santos, 37, tinha desmaios desde os 7 anos; família desconfia que ela estava em estado de catalepsia (Foto: CORREIO/Reprodução) Enquanto milhões de pessoas curtiam a noite de sexta-feira (9) de Carnaval, a população de 23 mil habitantes da cidade de Riachão das Neves, no Oeste da Bahia, entrava em polvorosa com o caso de uma dona de casa de 37 anos que teria sido enterrada viva no cemitério local.

Naquela noite, por volta das 18h, cerca de 500 pessoas se dirigiram para o Cemitério Nossa Senhora Santana para conferir de perto a notícia que se espalhou por grupos de WhatsApp: pedidos de socorro e gemidos estavam sendo ouvidos de dentro do túmulo de Rosângela Almeida dos Santos, sepultada em 29 de janeiro.

O falecimento de Rosângela ocorreu no Hospital do Oeste, em Barreiras, para onde foi levada às pressas, após cansaço excessivo. Ela foi internada dia 23 de janeiro e morreu dia 28. Chegou a ficar entubada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde teve duas paradas cardíacas antes de morrer de “choque séptico”.

Rosângela, de acordo com a família, tinha desmaios desde os 7 anos e tomava remédios controlados todos os dias, o principal deles Gardenal, que combate convulsões. Ainda segundo a família, a dona de casa, que era casada e não tinha filhos, também bebia álcool e fumou cigarro por um tempo.

O túmulo - uma gaveta mortuária - foi violado por populares na noite de sexta-feira de Carnaval com anuência da mãe, dona Germana Alves de Almeida, 66. O caixão sem a tampa foi posto para fora do túmulo e aberto ao público, iniciando um espetáculo sombrio que durou até o meio-dia do dia seguinte, quando o túmulo foi novamente fechado.

Arranhões Com olhares arregalados e expressão facial temerosa, populares se aproximaram do corpo de Rosângela e tocaram nele para conferir se ainda estava quente, já que, mesmo após 11 dias do sepultamento, ele não apresentava rigidez nem odor. Uns colocaram as pernas do cadáver para fora do caixão e movimentavam joelhos e pés.

Outros, como a mãe, dona Germana, dizem ter notado arranhões nas mãos e na testa, para ela um sinal de que a filha teria lutado para sair do caixão. A família quase toda acredita nessa versão, menos a irmã Maria Helena de Matos, uma microempreendedora de 45 anos que também viu o corpo.“Eu vi esses arranhões. Sempre achei estranha essa morte dela, não estava conformada e por várias noites vinha sonhando com ela pedindo socorro. Quero que a polícia investigue esse fato e nos dê uma posição porque a família toda está preocupada com essa situação”, disse dona Germana ao CORREIO.“Eu não vi nada de estranho. Esse arranhão na testa, para mim, foi da decomposição do corpo mesmo. Não acredito que minha irmã tenha sido enterrada viva, mas tem uns fatos que precisam ser melhor esclarecidos para a família e também espero que a polícia nos dê logo uma resposta”, disse Maria Helena.

Tampa aberta Mesmo tendo opiniões diferentes sobre se Rosângela tinha sido enterrada viva ou não, tanto a mãe quanto a irmã por parte de pai disseram que acharam estranho o fato de o caixão ter sido encontrado com a tampa aberta quando o túmulo foi violado. “Isso aí estava mesmo e deixou todo mundo assustado”, comentou Maria Helena.

Devido ao feriado de Carnaval, o caso passou a ser investigado somente nesta quinta-feira (15) pela Polícia Civil de Riachão das Neves. O delegado Arnaldo Monte, titular da delegacia local, disse que espera ter uma conclusão sobre o caso em duas semanas. “Começaremos a ouvir hoje familiares e outras pessoas. Se for o caso, podemos pedir exumação”, disse. Para o delegado, há muitos boatos sobre o caso.“Esse fato dela estar arranhada, por exemplo, as pessoas com quem conversamos ainda não nos relataram isso. Vamos ouvir todo mundo até a terça-feira que vem. Já expedi os mandados de intimação necessários. A exumação só ocorrerá se houver necessidade e terá de ser com autorização judicial”, declarou Arnaldo Monte.Violação As pessoas que violaram o túmulo e a mãe de Rosângela devem ser indiciadas pelo crime de violação de túmulo, afirmou o delegado. “Ela [a mãe] pode não ter violado, mas autorizou e é meu dever relatar isso no inquérito. Mas provavelmente o juiz deve absolvê-la por ela ser a mãe e agir pela emoção”, relatou Monte. O crime de violação de sepultura prevê pena de 1 a 3 anos, conforme o Código Penal.

Na tarde desta quinta-feira, o delegado disse que o funcionário da funerária que realizou os serviços para colocar o corpo de Rosângela no caixão esteve no momento em que o túmulo foi violado e que não notou anormalidade, estando o corpo do mesmo jeito que foi enterrado. 

Arnaldo Monte disse que, também na tarde desta quinta, a mãe de Rosângela relatou em depoimento que comprou R$ 400 de formol. “Daí se explica o porquê de o corpo não se encontrar em estado de putrefação”, concluiu o delegado, que vai solicitar à Secretaria de Saúde de Riachão das Neves laudo e acompanhamento psicológico da mãe de Rosângela.

Os familiares da dona de casa reclamam que o Hospital do Oeste não deu informações sobre seu estado de saúde durante o internamento, e que teriam impedido inclusive de fazer visitas. Em nota ao CORREIO, a unidade médica declarou apenas que “está à disposição dos familiares e autoridades para prestar todas as informações necessárias.”