Moradores reclamam da ação da polícia após tiroteio na Engomadeira; ônibus não circulam no local

Após a troca de tiros, os ônibus pararam de circular na região como forma de precaução

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  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de fevereiro de 2017 às 14:15

- Atualizado há um ano

Os moradores do bairro da Engomadeira, em Salvador, reclamam da ação truculenta da polícia no bairro. De acordo com pessoas que moram no local e que preferiram não se identificar, os policiais chegam atirando nas ruas e deixam o clima de medo. Neste sábado (4), uma troca de tiros entre agentes da Rondesp Central e traficantes da localidade conhecida como Lajinha deixou pelo menos dois mortos. Um menino de sete anos foi atingido de raspão na perna. Ele está internado no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no Cabula.Moradores alegam clima tenso após troca de tiros que deixou pelo menos dos mortos na Engomadeira (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) Entre as vítimas do confronto está o ajudante de pedreiro Tiago Santos França, 23 anos. De acordo com testemunhas, ele havia saído de casa minutos antes para comprar pão e, ao descer uma ladeira, encontrou duas das seis viaturas da polícia que circulavam no local. Tiago chegou a fazer menção de voltar, mas os policiais mandaram ele parar. Ainda de acordo com os moradores, o rapaz levantou as mãos e afirmou que trabalhava como ajudante de pedreiro, mas acabou atingido pelos disparos. 

Daniel Santos do Nascimento, 30, também descia a ladeira quando foi baleado. Os dois chegaram a ser levados pelas guarnições da Polícia Militar ao Hospital Geral Roberto Santos, mas não resistiram aos ferimentos e morreram. Os corpos de Tiago e Daniel foram encaminhados para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues(IML) e vão passar por perícia antes de serem liberados para o sepultamento.

De acordo com a Polícia Militar, equipes foram acionadas para atender a um suposto tiroteio entre traficantes em uma localidade próxima ao Arenoso. Ao chegar no local, os policiais teriam sido recebidos a tiros por 15 homens armados. Houve troca de tiros e, na ação, os dois homens acabaram sendo atingidos. Ainda de acordo com a polícia, após o confronto, o policiamento foi reforçado nas ruas do bairro e na localidade conhecida como Lajinha.

No boletim de ocorrência registrado no hospital, a guarnição 23308 apresentou com os dois rapazes mortos dois revólveres calibre 38, 187 trouxinhas de cocaína e R$ 90. 

ExecuçãoRevoltados, parentes de Tiago não têm dúvida de que houve uma execução. "Ele já estava com as mãos para cima, ajoelhado e disse: 'Sou pai de família. Me leva para delegacia'. Mas aí, um policial disse: 'Você vai morrer agora' e começaram a atirar. Foram mais de 20 tiros", contou um dos parentes, nesta tarde, enquanto tratava da liberação do corpo no IML. 

Parentes dizem que a polícia forjou o confronto. "Todo mundo viu. Ele trouxeram uma arma, colocaram na mão dele e apertaram o gatilho. Isso para dizer que Tiago atirou. Que polícia é essa? Sabemos que a maioria é honesta, mas essa minoria vem manchando a Polícia Militar", disse um parente. 

Ao saberem que Tiago fora baleado, familiares foram ao Hospital Geral Roberto Santos, mas tiveram uma surpresa nada agradável. "Tinham bem uns 20 policiais comemorando, dizendo: 'É isso aí, guerreiros, estão de parabéns'. Vendo aquela cena, preferimos nem se aproximar e fomos para casa", contou um familiar. 

Há cerca de dois meses, Tiago foi posto no fundo de uma guarnição da Polícia Militar. "Confundiram ele com o traficante e o levaram daqui. Depois, soubemos que foram com ele para um matagal no Arraial do Retiro. Com certeza íam matá-lo. Foi quando outros policiais chegaram em um carro com a placa de Feira de Santana e disseram que Tiago não era quem eles procuravam e o liberaram", contou um dos parentes.

Nascido e criado na Engomadeira, Tiago deixou um filho de pouco mais de um ano. "A única vez que pôs os pés na delegacia, ele tinha 17 e foi por briga. Ele era um trabalhador, não devia nada a ninguém e foi morto daquela forma tão cruel", declarou um outro parente.

Sem ônibusApós o tiroteio, os ônibus pararam de circular na Engomadeira. "Nós não fizemos nada. Eles pararam por conta própria", disse um morador do bairro. "As pessoas estão tendo que andar até a entrada do bairro para pegar um ônibus. Quem chega, é a mesma coisa: desce e segue na paleta", relatou outro morador. 

De acordo com rodoviários, a atitude foi tomada como forma de precaução. Em contato com o CORREIO o vice-presidente do sindicado dos Rodoviários, Fábio Primo, afirmou que não tem conhecimento sobre a interrupção do serviço no local.