Na CBF, corrupção sai premiada

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

Publicado em 19 de abril de 2018 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

A CBF tem um novo presidente eleito, que tomará posse em abril de 2019. Mas, infelizmente, isso não significa nem evidencia sinal de mudança na organização do futebol nacional. Pelo contrário. Primeiro porque Rogério Caboclo foi escolhido a dedo por Marco Polo Del Nero - embora não exista nada contra a lisura do substituto. Segundo, e principalmente por isso, porque a maneira como foi costurada a eleição mostra muito do pensamento que prevalece na Confederação Brasileira de Futebol.

A eleição foi calculada minuciosamente para garantir que não houvesse disputa, como de fato não houve. Tudo pensado desde o ano passado, quando a CBF alterou seu estatuto. O golpe de mestre foi uma questão matemática: mudou-se o peso do voto das federações, de modo que, mesmo se todos os clubes votassem em outro candidato, o da CBF ganharia.

Didaticamente, é preciso entender o conceito da palavra “confederação”, uma organização que une as federações dos 26 estados e do Distrito Federal. Acrescente-se que ela paga uma mesada às federações, dinheiro importante inclusive para sustentar algumas delas. E, garantindo o voto das federações, já tem praticamente todos os votos necessários para eleger o candidato.

O cálculo é o seguinte: os votos das federações têm peso 3; dos clubes da Série A, peso 2; e dos clubes da Série B, peso 1. Logo, todos os 40 clubes somados valem o mesmo que 20 federações (60 votos), ainda deixando uma margem de sete federações de lambuja.

Sendo assim, equivale a dizer que o novo presidente da CBF vai ser sempre escolhido pelas federações. Conceitualmente, não há nada de anormal nisso, pois está de acordo com a própria definição de confederação. Porém, na prática, significa que os dirigentes que aplaudiram Marco Polo Del Nero e José Maria Marin continuam escolhendo o que eles consideram o melhor para o futebol brasileiro. E, através do novo estatuto, fecharam mais o cerco contra qualquer tentativa de mudança de paradigma que pudesse surgir em meio aos escândalos que estouraram desde 2015, quando Marin foi preso.

Se o planejamento da eleição da CBF já é assim, não há como esperar uma gestão transparente ou muito inovadora no próximo mandato. E se você está curioso para saber qual foi a participação de seu clube nesse jogo de cartas marcadas, basta saber que todos da Série B e 17 da Série A disseram sim - Flamengo se absteve, Corinthians votou branco e Atlético-PR não compareceu.

No final de março, o CORREIO entrevistou os presidentes Guilherme Bellintani, do Bahia, e Ricardo David, do Vitória. Ambos ponderaram que, por não haver outro candidato, apoiariam o único disponível.  Por um lado, é uma estratégia compreensível, tática para não se indispor com quem tem poder, na linha “o que não tem remédio remediado está”. Por outro, das duas uma: ou os clubes confiam na gestão da CBF ou são, no mínimo, coniventes com a linhagem atual, cujo presidente (Del Nero) está suspenso do futebol e responde a sete crimes e seu antecessor (Marin) foi condenado por seis crimes e está preso nos Estados Unidos. Seja qual for a resposta, só dá para lamentar que, mesmo após a descoberta dos esquemas, quem comanda o futebol brasileiro saiu fortalecido.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras