Não é só pelo dinheiro

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  • Miro Palma

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Com os dois gols e o novo recorde quebrado jogo passado do Real Madrid, que venceu o Valencia por 4x1 no último sábado, Cristiano Ronaldo aparenta ter feito as pazes com o clube merengue. Além de se tornar o jogador com mais penalidades cobradas em toda a história do Campeonato Espanhol, o português parece ter recuperado o apoio da torcida que até poucos dias atrás apoiava a sua saída, de acordo com uma pesquisa do jornal espanhol As.

Em meio a essa guerra fria entre o jogador e o time que ocupou diversas capas de jornais e manchetes pelo mundo, uma coisa me deixou bastante incomodado: a fama de mercenário que se criou em torno do craque. De acordo com as especulações na imprensa espanhola, o fato de receber “módicos” 21 milhões de euros por ano não estava mais satisfazendo ao camisa 7 do Real. Ele queria o mesmo que seu rival no Barcelona, o argentino Messi, que ganha mais de 40 milhões de euros anuais. Pronto, essas suposições foram suficientes para pintar uma imagem de interesseiro e ganancioso do jogador.

Outros motivos que contribuíram para o estremecimento da relação do Real Madrid e seu craque também já foram especulados. Além dos problemas que o português teve com o fisco espanhol no ano passado e que o levou a ameaçar não mais jogar na Espanha, o pequeno investimento que o time fez para o elenco dessa temporada, a falta de apoio do clube durante o julgamento por ter sido expulso após empurrar o árbitro durante o clássico contra o Barcelona e até a demora na renovação do seu contrato teriam pesado nesse imbróglio.

Porém, nada disso repercutiu tanto quanto o estigma de mercenário. E é aí que mora a minha inconformidade. Não porque eu não ache um absurdo um jogador de futebol ganhar tamanho valor. Acho inconcebíveis os valores superinflacionados do mercado da bola. E me choca a cada dia ver que essa discrepância só aumenta. Mas, para além da minha rejeição a esse cenário econômico, ele existe e isso é um fato. E como trabalhamos com fatos, por que Cristiano querer ganhar mais é um pecado aos olhos dos outros?

Atualmente, ele é o melhor jogador do mundo. Levou o título também no ano anterior e em três outros anos, somando cinco Bolas de Ouro – o mesmo que Messi. Só que ele não tem o maior salário da profissão. Nem mesmo o segundo maior, o terceiro, ou ainda, o quarto. Nessa disputa de contracheques, ele figura só no quinto lugar. Antes dele, além de Messi, tem Neymar, Oscar e Lavezzi. Apesar dos dois últimos estarem no rico futebol chinês, qual a justificativa para ganharem mais do que CR7? Então, não vejo o porquê Ronaldo, no patamar em que se encontra, se incomodar em ter o seu passe não tão valorizado quando os outros ser algo errado ou malvisto.

Se hoje, você ganhasse menos que um colega de trabalho em uma posição hierárquica inferior, com menos títulos, experiência ou qualquer outra qualidade profissional que você tenha, iria gostar? Não, não é? E com razão. Não pela quantia em si, mas pelo valor que esse montante representa do seu trabalho. Então, por que o melhor jogador do mundo não pode sentir o mesmo? Acho que ele tem todo o direito de querer que seu esforço dentro de campo seja traduzido da mesma maneira em números. E se o mercado da bola acha isso usura, que mude a forma de onerar o esporte.    

*Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras