‘Não quero agradar ninguém’, diz Ricardo Lísias, autor de livro com pseudônimo Eduardo Cunha

Autor paulista assinou Diário da Cadeia e estará na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica)

  • Foto do(a) author(a) Naiana Ribeiro
  • Naiana Ribeiro

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 06:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

O escritor paulista Ricardo Lísias estará pela primeira vez na Bahia. Autor do polêmico livro Diário da Cadeia (2017), assinado com o pseudônimo Eduardo Cunha, ele participará da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que acontece entre os dias 5 e 8 de outubro. Ele vai estar na mesa Intervenções, agitações e desvarios junto com a poetisa baiana Daniela Galdino nesta sexta (6), às 15h.

Vencedor dos prêmios Portugal Telecom de Literatura Brasileira e Melhor Romancista da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Lísias é conhecido pelo seu estilo literário ousado e polêmico que já o fez passar por várias saias justas. Com Diário da Cadeia, sátira que explora o universo da política brasileira, ele foi até alvo de um processo judicial. “O ex-deputado federal Eduardo Cunha tenta até agora por meios legais impedir a circulação do livro, pois se considera ofendido por ele. Na primeira instância ele não avisou à justiça que se tratava de um romance, levando a juíza a tomar uma decisão absurda, a de impedir a circulação do livro”, conta.

O autor considera que sofreu uma ação de litigância de má-fé por parte dos advogados de Cunha. O livro teve sua circulação proibida por quase um mês e foi liberado por tratar-se de uma ficção. “A justiça foi avisada que é uma obra de ficção, inclusive registrada assim, e o livro foi liberado para circulação e continua até hoje, tendo derrubado todos os recursos contra ele”, completa o autor. A sua intenção com a sátira é posicionar-se diante da situação do país e dizer aos políticos que o comportamento deles é inaceitável. “A minha decisão de que eu deveria tentar intervir, dentro dos meus limites e a partir das minhas possibilidades de criação, veio enquanto eu assistia àquela votação que levou ao afastamento inicial de Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados. Ao ouvir cada uma daquelas pessoas falando aquelas coisas absurdas, de um jeito vulgar, grosseiro, machista e kitsch, decidi fazer a minha parte de protesto contra aquilo”, lembra.

Essa não foi a única vez que uma obra do escritor foi parar na justiça. Uma denúncia anônima fez ele receber uma intimação da Polícia Federal por conta de Delegado Tobias. “Um grupo de pessoas levou o Ministério Público Federal a confundir-se e acabar investigando personagens de ficção sem perceber que isso estava acontecendo”, diz.

Apesar de quase sempre escrever ficção, Lísias utiliza fatos reais para construir seus romances. “Tento fazer a literatura se impor na realidade de forma ativa, e não como uma ‘representação’. Isso evidentemente causa incômodo em grupos que acabam se vendo atingidos ou, mais ainda, denunciados”, opina. Em seus textos, o autor faz questão de não ser neutro: “Não tento atingir qualquer tipo de unanimidade, para isso eu teria que fazer uma literatura neutra e deixar o mundo muito confortável. Não quero agradar ninguém”.

Primeira vez Se nas obras ele não quer agradar as pessoas, em eventos como a Flica a ideia é fazer uma discussão saudável com o público. “Prefiro ouvir os mediadores e o público e responder perguntas. Isso me dá a segurança de falar algo que interesse ao público. Espero estabelecer um bom diálogo e conseguir conversar da melhor maneira com o público que, já soube, será bastante amplo”, fala Lísias.Um dos autores mais polêmicos da atualidade, dono de um estilo literário performático, elogiado por uns e não tão querido por outros, Ricardo Lísias foi confirmado na sétima edição da Flica, que acontece entre os dias 5 e 8 de outubro em Cachoeira (BA) . O Governo do Estado da Bahia apresenta a Flica 2017. O projeto é realizado pela Cali e Icontent e tem patrocínio do Governo do Estado, por meio do Fazcultura, e apoio do Hiperideal, Coelba e da Prefeitura Municipal de Cachoeira.

Uma publicação compartilhada por Flica (@flicaoficial) em Ago 19, 2017 às 10:53 PDTSua expectativa para vir ao estado é grande, não só pelo evento. Essa é a primeira vez do autor na Bahia. “É uma grande alegria, ainda mais porque minha mãe é baiana: nasceu no Rio Vermelho em 1947. Já estava na hora de eu conhecer a terra dela”, pontua. Além da relação de útero, essa é a terra de autores que ele admira, como o homenageado da Flica, Ruy Espinheira Filho, e os veteranos Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro.

ServiçoO quê: Mesa da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica 2017) com Ricardo Lísias e Daniela Galdino e mediação de Wesley CorreiaQuando: Sexta-feira (6), às 15hOnde: Convento do Carmo (Praça da Aclamação, Centro - Cachoeira)Quanto: Gratuito