'Não renunciarei', diz Michel Temer em pronunciamento após gravação

Político negou ter "comprado silêncio" de Eduardo Cunha

Publicado em 18 de maio de 2017 às 16:14

- Atualizado há um ano

O presidente Michel Temer (PMDB) anunciou no final da tarde desta quinta-feira (18) que não vai renunciar. Ele foi implicado na delação feita pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS - controlador da Friboi. O peemedebista cancelou a agenda oficial e passou o dia conversando com assessores diretos, além de ministros de Estado. 

"Não temo nenhuma delação, nada tenho a esconder", disse Temer. "Nunca autorizei que se utilizasse meu nome". Segundo o presidente, a investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) vai permitir que toda verdade venha à tona e "surgirão todas as explicações". "Não comprei o silêncio de ninguém (...) Não renunciarei".

Ele ainda citou dados econômicos positivos do seu governo e afirmou que "todo o esforço para tirar o país da recessão pode se tornar inútil" com a instabilidade política do momento. Até o momento, três pedidos de impeachment contra Michel Temer já foram protocolados.

Assista à cena:

Leia a íntegra do pronunciamento:

Olha, ao cumprimentá-los, eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma declaração ao País. E, desde logo, ressalto que só falo agora - os fatos se deram ontem - porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal, acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não o consegui.

Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.

Portanto, todo um imenso esforço de retirar o País de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do País. Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo empresário.

Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação,  não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome indevidamente.

E por isso quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território, onde surgirão todas as explicações. E no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.

Não renunciarei, repito, não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a estas investigações.

Tanto esforço e dificuldades superadas, meu único compromisso, meus senhores e minhas senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará.

Muito obrigado. Muito boa tarde a todos.

Segundo a delação, Temer deu aval ao pagamento de uma mesada para o deputado cassado Eduardo Cunha, que está preso. Aécio Neves (PSDB) e Guido Mantega (PT) também foram citados.

A irmã de Aécio, principal assessora do ex-candidato à presidência, foi presa pela PF em Minas Gerais. O senador, que é presidente nacional do PSDB, foi gravado pedindo a quantia de R$ 2 milhões a Joesley Batista, sob o argumento de que precisava de dinheiro para a defesa na Operação Lava Jato, segundo o jornal O Globo. Aécio é alvo de cinco pedidos de inquéritos na Lava Jato.

Réu na Lava JatoO ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou no início da tarde desta quinta-feira (18) a abertura de inquérito para investigar Temer. O pedido de investigação foi feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

A legislação brasileira estabelece que um presidente da República só pode ser investigado em casos de irregularidades cometidas durante o exercício do mandato e com autorização do STF. 

Segundo informações divulgadas pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (17), o empresário gravou o presidente dando aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, preso em Curitiba. Parte das imagens feitas pela PF foi divulgada nesta quinta.

A delação de Joesley Batista e do irmão, Wesley, foi homologada por Fachin e o sigilo das investigações pode ser levantado nas próximas horas. Com a decisão do ministro do STF, Temer passou formalmente à condição de investigado na Operação Lava Jato. 

Um ano de governoTemer completou um ano de mandato na última sexta-feira. Ele assumiu a Presidência da República em 12 de maio de 2016, após os senadores aprovarem a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), o que resultou no afastamento dela do cargo. Em agosto, o Senado aprovou o impeachment de Dilma, e Temer assumiu a Presidência efetivamente.

Nesses 12 meses, a gestão de Temer foi marcada pela adoção do ajuste fiscal na economia, com a definição de um teto para os gastos públicos, e pelo envio das reformas da Previdência, trabalhista e do ensino médio para o Congresso.

No pronunciamento hoje, Temer afirmou que seu governo, nesta semana, teve seu melhor e seu pior momento. Ele citou dados positivos na economia, que para ele "criaram esperança de dias melhores".