'Não sei gerenciar minha carreira. Sou muito tchonga', diz Clarice Falcão

Atriz e humorista faz show no TCA neste domingo (15) e conversou com o CORREIO sobre a apresentação, a relação com a Bahia e sobre feminismo

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 14 de abril de 2018 às 10:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação
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Que tal sentar pertinho de Clarice Falcão e apreciar um show intimista da cantora pernambucana? Isso será possível neste domingo (15), às 18h, na sala principal do Teatro Castro Alves (TCA). A compositora, que também é atriz e humorista, traz para a capital baiana seu show Voz e Guitarra e Mais Coisa. Nele, ela mostra toda a sua verdade e vulnerabilidade ao lado do guitarrista João Erbetta, reinventando seu repertório com arranjos novos.

“Minha sensação com esse show é de que estou dentro do meu quarto. É como se fosse um laboratório, sabe? Tem muito do Monomania (2013), do Problema Meu (2016) e algumas músicas inéditas, que cantei só as vezes que fiz esse show”, antecipa a cantora, revelada no grupo Porta dos Fundos, que faz a percussão da apresentação: “Eu toco surdo, caixa... Vou até ficar com vergonha, porque essa é a terra que tem tanta gente talentosa e referência em percussão. Eu toco muito mal (risos). Mas, como fã, gosto de ver de artistas testando coisas. Essa coisa experimental faz parte do meu show”.

E foi por conta de uma experiência especial que Clarice decidiu criar este projeto. Seu pai, o renomado diretor e roteirista João Falcão, entrou na reta final para fazer a direção geral. “Tínhamos um show em Portugal e, como não dava para levar a banda toda, fomos com uma versão menor. Foi tão legal que a gente quis trazer para o Brasil. Ensaiamos e, faltando umas duas ou três semanas para lançar, queria que ficasse algo bonito. Meu pai trouxe a iluminação e outras coisas que deixaram a apresentação com o clima de experiência, mas esteticamente legal”, ressalta.

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Em pouco mais de uma hora, quem for a apresentação no TCA poderá conferir, então, passado, o presente e o futuro musical de Clarice. Também poderá sentir um pouco da relação da artista com a Bahia. “Já estive aí tanto trabalhando quanto para turismo e acho um lugar muito mágico. Tenho uma relação forte com a cultura de vocês. Assim como Recife, minha cidade natal, Salvador é um polo cultural muito rico. Muitas das coisas que eu ouço vieram daí. Além disso, tenho essa relação emotiva com o povo baiano. Gosto muito das pessoas: são muito bem-humoradas. Vejo isso na minha família e na Bahia também”, contou em entrevista ao CORREIO. Apesar de ter visitado apenas a capital baiana, Clarice diz que tem muita vontade de conhecer outras cidades e praias do estado. “Nunca tive a oportunidade”, lamenta.  

Em Salvador, um lugar que marcou sua passagem foi a Concha Acústica do TCA. “Eu amei a Concha. Tem uma energia muito forte, que vem do público, mas também de tanta gente que já tocou lá. Assim como muitas coisas daí, achei algo muito grande, mas despretensioso. Assim é Salvador: vocês têm muito talento feito com despretensão; a comida, os artistas... A gente vê Gil cantando e as letras são geniais, mas tudo é feito dessa forma, tão simples e despretensiosa. Sinto muito essa vibe”, lembra.Referência baiana Além de Gilberto Gil, Clarice diz ter uma relação muito forte com a cantora baiana Pitty. "Vivi o boom da Pitty e tenho uma coisa muito nostálgica, sabe? Escuto as músicas antigas, que tocavam na rádio - Equalize, Máscara, etc - e amo", revela. Também tem como referência o trabalho de Maria Bethânia. "Eu acabo fazendo o oposto dela no palco, mas a interpretação da Bethânia é incrível. Me inspiro nesse raciocínio de encarar a música como a cena e não apenas como aquilo. Se eu sou uma intérprete, interpretarei a cena", destaca ela, que procura pensar nas letras das músicas como um pequeno roteiro.

Processo criativo Questionada sobre seu processo criativo, a artista diz que não consegue seguir uma rotina. "Meu processo é bem caótico, na verdade. Às vezes estou no metrô e vem alguma ideia e anoto logo no celular. Passo meses sem ver e depois tento no violão ou no piano. Toco mal, mas preciso acompanhar a letra", revela. Como parte da sua inspiração para compor, ela costuma ir a shows e ouvir todo tipo de música: "Isso tudo dá uma ajudada. Quando a inspiração vem, vem de vez. Queria ser mais regrada. Se eu fizesse isso, talvez fosse mais produtiva", confessa.Próximo CD Apesar de cantar músicas inéditas neste show, a cantora não tem uma data específica para o lançamento do próximo disco. Ela, inclusive, leva a vida numa boa, dando um passo de cada vez. "Ainda estou na fase da pesquisa. Já tenho algo engatilhado, mas estou tentando entender a cara dele e o que vai ser exatamente. O Monomania (2013) foi um trabalho de muito tempo; começei a compor com 15 anos e lançei o CD lá pros 20. Foi tudo o que vivi até ali. Já o Problema Meu (2016) já tinha canções prontas e fui selecionando para ganhar uma cara. Estou empolgada com o próximo trabalho; tem sido bom cantar as músicas. Então, dando um chute, devo lançar entre o final desse ano e o início do ano que vem".

A cantora desmente, então, a fama de decidida e de super planejada:"Não sei gerenciar minha carreira. Sou muito tchonga. Também tenho dificuldade de ficar nas redes sociais. Faço isso porque preciso. Busco postar mais quando tenho algo interessante ou engraçado pra dizer", afirma. Questionada sobre projetos futuros, ela disse estar focada no disco, mas pensa em fazer um projeto pessoal de humor: "Amo fazer humor e amo atuar".Feminismo O amor por atuação é tão grande que, vira e mexe, ela mistura seus dons com música. O clipe de Survivor, um dos mais acessados do seu canal foi assim, Com ele, inclusive, ela levantou de vez a bandeira do feminismo: "Eu amo esse clipe e foi muito natural. Achei que ia ser incrível fazer esse cover e tocava com as questões da mulher. Então resolvi focar na mulher com ela mesma: sobrevivemos à vida", lembra.

Depois de um tempo, a artista considerou importante se posicionar cada vez mais sobre temas ligados ao feminismo. "Com essa onda cada vez mais conservadora, achei importante me posicionar conscientemente, mas com muito cuidado. Não me acho uma porta-voz de nada. Então, dentro do feminismo eu não sou a maior referência. Acho importante não monopolizar um diálogoo quando tem muita gente que sofre mais que eu. É muito importante dar espaço para outras e passar a palavra", diz.

Ao mesmo tempo, ela considera que só o fato de fazer música, enquanto mulher, e falar sobre seus sentimentos são atos feministas: "Só o fato de ser mulher na música e na comédia, a gente sempre vai estar com um pouquinho de desvantagem". Ao mesmo tempo que se despe em seu trabalho, ela sempre busca posicionar-se sobre o momento crítico que o país vive: "Meu posicionamento político é completamente intencional".

ServiçoO quê: Clarice Falcão no show Voz e Guitarra e Mais CoisaQuando: 15 de abril (domingo), 18hOnde: Sala Principal do Teatro Castro AlvesQuanto: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), das filas A a W | R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), das filas X a Z11Classificação: 12 anosVendas: Podem ser adquiridos na bilheteria do Teatro Castro Alves, nos SACs do Shopping Barra e do Shopping Bela Vista ou no site Ingresso Rápido