'Não vamos coloca-los para fora como se fossem bichos', diz gerência sobre moradores da Rodoviária

Sem um teto para viver ou sem dinheiro para passagem, eles se contorcem sobre as cadeiras azuis em busca de noites tranquilas

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 12 de junho de 2017 às 06:08

- Atualizado há um ano

Apesar de administrada por uma empresa contratada pela agência estadual que regula os transportes, a Agerba, a Rodoviária de Salvador é um lugar público como outro qualquer. Por isso, na teoria, ninguém pode ser expulso dali. E, neste caso, é o que acontece na prática. Conheça as histórias de quem mora no terminal. Estação dos sem-teto: os equilibristas das cadeiras azuis sofrem para dormir com alguma segurança (Foto: Betto Jr/CORREIO)Adevaldo Santos, gerente de operações da estação, diz que ele e os outros funcionários se esforçam para dar o mínimo de dignidade aos “moradores” do terminal. Além de providenciar banho e alimentação quando possível, buscam informações de familiares para tentar coloca-los em contato com as famílias.

“Na maioria das vezes conseguimos desloca-los para albergues. Mas já ouvi de alguns deles que aqui é melhor. Além disso, os albergues são temporários”, observou Adevaldo. “Não vamos coloca-los para fora como se fossem bichos, né?. Nossa filosofia não é essa. Fazemos o que podemos”, sensibiliza-se.

A Rodoviária é sublocada pela Sinart por meio de licitação. A Agerba apenas fiscaliza a regulação dos transportes. Mas quem cuida da estrutura e controla a segurança do local é a Sinart. Entre equipe de limpeza, fiscais de terminal e operações e empresa tem 220 colaboradores. Todos os meses, 450 mil pessoas embarcam e desembarcam nos ônibus da Rodoviária de Salvador. Somados aos circulantes, no total 750 mil pessoas utilizam o terminal.

Semps fará abordagem no localA Secretaria de Promoção Social e Combate a Pobreza (Semps) informou que realizará uma ação de abordagem na Rodoviária de Salvador nos próximos dias. No caso do terminal rodoviário, administrado pela Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico Ltda (Sinart), a Semps garantiu que costuma realizar atendimento imediato quando acionada pela equipe de serviço social da empresa. No chão não pode! A não ser que seja escondido da segurança (Foto: Betto Jr/CORREIO)A secretaria também destacou que realiza a inscrição dos acolhidos em projetos e benefícios socioassistenciais. Entre eles estão justamente os chamados benefícios eventuais como o Auxílio Moradia e o Auxílio Passagem (para o caso de migrantes). O órgão também encaminha moradores de rua para retirada de documentação oficial, a exemplo da carteira de identidade, além de inscreve-los em benefícios como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.

“O trabalho com cada indivíduo / família é realizado de forma individual e, em média, cada acolhimento dura o período de três a seis meses. Após este período, aqueles que adquirem a autonomia necessária para gerir a própria vida, são inseridos no programa para recebimento do Auxílio Moradia, benefício no valor de R$300,00 mensais”, informou a Semps, em nota. Atualmente, em Salvador, há 760 pessoas recebendo o Auxílio Moradia, referente ao perfil de população em situação de rua.

Segundo a Semps, em 2016 foram realizadas 6.228 abordagens sociais que resultaram em 1.980 cadastros de moradores de rua. Destes 1.547 são homens e 433 são mulheres. De janeiro a abril de 2017, das 2.869 abordagens sociais à população em situação de rua realizadas 1.136 pessoas foram cadastradas, sendo 235 mulheres e 901 homens.