Nelson Cadena: o centenário do Correio do Sertão

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2017 às 03:25

- Atualizado há um ano

Morro do Chapéu celebra amanhã (15/7) o centenário do Correio do Sertão, a marca de um século que raros jornais no Brasil e na Bahia atingiram, o feito já é uma vitória. Cabe aqui como uma luva o comentário de Aloysio de Carvalho Filho, certa feita, na revista do IGHB, a respeito de três grandes jornais, remanescentes do século XIX: “Se outras virtudes não possuíssem teriam... a da longevidade, o que, em tema de imprensa, significa merecimento”. De fato, sobreviver décadas a fio, significa, no mínimo, a aceitação do público leitor.O Correio não apenas se manteve na arena jornalística como rompeu a barreira de um século, façanha antes alcançada apenas pelo Diário de Notícias, Diário da Bahia e A Tarde, entre os jornais da capital, e a Folha do Norte de Feira de Santana, entre os do interior. Nasceu da iniciativa de Honório de Souza Pereira, alinhado politicamente com Francisco Dias Coelho, o “Coronel Negro do Sertão”, então intendente do município, que o favoreceu com a doação de 1 conto de reis para a empreitada. Mesmo assim,  o fundador recorreu às suas próprias economias e então completou os recursos necessários para a montagem de uma tipografia.Ressalve-se que o Correio do Sertão nasceu neutro politicamente e assim permaneceu, pelo menos até o surgimento e existência do concorrente, o Pequeno Jornal (1920-26), dirigido por Adelmo Pereira. Deu-se o embate, para além da imparcialidade, entre os “coques”, representados pelos seguidores de Dias Coelho e Souza Benta contra os “memes”, representados pelos seguidores do coronel Teotônio Dourado. Como pano de fundo, a disputa política pela sucessão do intendente, falecido em 1919.Naquele tempo,  a cidade tinha 600 residências e, portanto, um público leitor limitado. Estimava-se o índice de analfabetismo na Bahia em cerca de 80%, de onde podemos deduzir as dificuldades para se manter vivo um jornal. Da vizinhança apenas Lençóis possuía tipografia que imprimia papéis, convites, livros contábeis, panfletos, mas nenhum jornal circulava na região. O que Honório provavelmente desconhecia é que entre os mais de 650 títulos editados em 45 municípios baianos, entre 1823 e 1917, a maioria sequer tinha ultrapassado a barreira de um ano de circulação. Logo sentiria na pele a dificuldade de vender uma assinatura e a dificuldade maior de receber os valores. A distribuição, ele mesmo assumiu, porta a porta, confiado no seu bom relacionamento.O pioneiro da imprensa no Morro do Chapéu adquiriu um prelo manual da Alemanha que desembarcou no Porto de Salvador para ser transportado por via férrea até a estação de Queimadas e de lá até o município em lombo de burros. Estreou o jornal aos domingos, com circulação semanal, em princípio, mais tarde quinzenal. Tinha quatro páginas e chamava a atenção no seu lançamento a coluna “Cantarolando”, emula da mais famosa crônica em versos da Bahia “Cantando e Rindo” (onde despontava o fino humor e a ironia de Aloisio de Carvalho, o Lulu Parola do Jornal de Notícias). Desconhecemos o autor dos versos, assinados por um certo Zé Cantador. Seria Eurícles Barreto?O fundador do Correio do Sertão faleceu em 1946, então assumiu a direção o filho, Adalberto Pereira, e a partir de 1989 o comando passou para o bisneto Paulo Gabriel, até 2010, quando outro bisneto, Edson Vasconcelos, encarou a missão do legado familiar e dos valores imateriais da marca. O jornal tornou-se imortal, a partir da digitalização de suas edições pela Fundação Pedro Calmon, embora não tenha localizado o arquivo, ao menos por enquanto. Existe, porém, uma cópia do arquivo digital no Morro do Chapéu, garantindo assim aos pesquisadores um precioso acervo para consulta sobre a história política, econômica, cultural e social da região.