Nelson Cadena: os primeiros catálogos telefônicos

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  • Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2017 às 02:36

- Atualizado há um ano

Quando os baianos adquiriram as primeiras linhas disponibilizadas pela Empresa Telefônica da Bahia em 1884 não precisavam decorar o seu número, pelo menos no início, nem o dos outros. A ligação era indireta - e foi assim durante três décadas - pedia-se à telefonista para falar com fulano de tal e ela consultava uma relação interna de assinantes, eram menos de mil na primeira década do serviço na Bahia. Essa foi uma das razões que adiaram, digamos assim, a impressão do que mais tarde denominamos de catálogos telefônicos. Os almanaques que disponibilizavam endereços e isso era mais importante, supriam essa demanda de informação. O telefone não era um serviço tão acessível assim. Uma assinatura residencial custava 10 mil reis e a comercial 15 mil por mês. Com esse dinheiro se adquiria a assinatura anual de um jornal diário. E o custo benefício não compensava, o telefone era usado para a comunicação formal, ninguém imaginava que um dia alguém passaria horas pendurado no aparelho. Ter um aparelho de telefone na sua residência era apenas uma questão de status, de muito pouca serventia nos primórdios. Não sei quando surgiram os catálogos telefônicos em Salvador. O mais antigo que eu conheço se chamava Lista Geral, editado em 1919, tinha em torno de 24 a 30 páginas e não mais do que 3 mil assinantes. Tão didático que explicava em detalhes como usar o aparelho, o que me faz pensar que essa tecnologia complicava a cabeça de muita gente. Ensinava: “Para chamar a telefonista tira-se o fone do gancho, colocando-o ao ouvido, espera-se que a telefonista pergunte “número, faz favor”. Dá-se o número e espera que ela atenda. É absolutamente desnecessário mover-se o gancho para baixo e para cima enquanto se espera…Não se deve mover o gancho com violência, pois isso ocasiona desarranjo nas molas”. E continuam as instruções: “Ao falar, os lábios devem estar a dois centímetros distante do transmissor, deve-se falar com clareza e tom normal de conversação e quando  acabar de falar, pendure-se o fone no gancho com a extremidade mais grossa para baixo e não se deve pendurar o fone antes de acabar a conversação”. Então adverte o usuário para não jogar conversa fora: “As telefonistas estão proibidas de responder às perguntas ou entreter conversas, além do que seja estritamente necessário para completar a ligação…”. As instruções são longas e detalhadas e até entram em minúcias quanto à forma de pronunciar os algarismos para evitar erros no complemento da ligação. Telefonar naquele tempo era um parto. Assim parecia. Principalmente quando se viabilizaram já na década de 1910 as ligações interurbanas. Cachoeira, Santo Amaro e Feira de Santana foram as primeiras cidades do interior a ter linhas telefônicas instaladas. Então, o cidadão pedia a ligação para a telefonista e aguardava, aguardava, aguardava. Paciência. As vezes horas a fio, quando era possível completar. Na década de 30 já tínhamos bons catálogos telefônicos, o mais completo foi o Indicador Baiano de 1936, iniciativa de Afonso Moreira Temporal, editado na Livraria Catilina. Com mais de 300 páginas o Indicador surgiu em alto estilo com capa desenhada pelo artista português Raimundo Aguiar, colaborador dos principais jornais e revistas da Bahia. Muita informação que não cabe aqui detalhar. Uma delas era a relação dos proprietários de carros da cidade com a marca e placa dos respetivos veículos. Que luxo.