Noite de festa no teatro: Prêmio Braskem elege melhores da cena

Com 18 espetáculos na disputa, cerimônia acontece nesta quarta (19), no Teatro Castro Alves

  • D
  • Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

Quem acompanhou algumas das produções teatrais baianas do último ano talvez tenha percebido uma aproximação entre muitas delas: independente do enredo, a questão política estava lá, sendo discutida por atores e companhias bastante jovens.

É essa a impressão geral também de quem acompanhou as mais de 50 peças que estrearam em Salvador no ano passado e que estavam aptas a concorrer ao 24º Prêmio Braskem de Teatro, um dos mais importantes do estado. Danilo Cairo e João Guisande, que venceram juntos a categoria Ator  em 2016, concorrem agora com Laudamuco - Senhor de Nenhures (Foto: Edinah Mary/Divulgação) Para a escritora e jornalista Kátia Borges, que integrou pela primeira vez a comissão julgadora da premiação, a experiência de poder acompanhar tantos espetáculos foi gratificante. “De forma geral, eu penso que o teatro baiano é incrivelmente resistente. Eu vi peças maravilhosas, em que houve um esforço imenso para produzir, para se manter em cartaz. Não que eu achasse a cena morta, mas eu fiquei impressionada com o dinamismo, com a abundância de pessoas jovens e talentosas”, comenta.  Além de Kátia, integram a comissão julgadora dessa edição os atores e diretores Bertho Filho, Gordo Neto, Jackson Costa e Hilda Nascimento.Diretor da cerimônia de premiação que acontece hoje  no TCA e indicado à categoria Diretor pelo trabalho em Romeu & Julieta,  Marcio Meirelles acredita que o  grande trunfo do Prêmio Braskem  é olhar para a produção teatral como parte de um mercado, de um sistema que gera economia para a cidade.  “Graças ao Braskem, a gente sabe quantos espetáculos estrearam em Salvador ano passado. É uma galera nova, fazendo coisas novas, saindo da lógica do edital e levando seus espetáculos para as ruas. Vi muita coisa boa, embora eu nunca consiga ver tudo que quero”, admite.Rebola, que concorre a espetáculo, defende espaços dos LGBTs na sociedade(Foto:Andrea Magnoni/Divulgação)ApostasCom um trabalho indicado pelo segundo ano consecutivo, Guilherme Hunder, diretor do infantojuvenil Avesso, afirma que recebeu com surpresa o fato de estar na lista. “Eu sou um homem do teatro, que venho fazendo teatro há 12 anos, mas sou jovem ainda. Quando você recebe uma indicação dessas, você toma um susto, mas fica muito feliz também. O prêmio é uma consequência do trabalho, não faço espetáculo pensando nisso”, diz. Assim como Paco e O Tempo, que lhe rendeu a indicação no ano passado, Avesso faz parte de uma pesquisa sobre a discussão de temas tabus com o público infantojuvenil. “Avesso tem como inspiração a animação Divertida Mente. O medo que domina a cidade e que vai ser enfrentado pela personagem principal é a primeira camada. A segunda é a questão do gênero: a protagonista acaba descobrindo que tem um irmão, quando todos pensavam que ele era uma menina”.Questões relacionadas à sexualidade e ao gênero são discutidas ainda em O Cordel de Maria Cin-Drag-Rela, outro espetáculo infantojuvenil indicado nesta edição. Para Lando Augusto, autor do texto, o desafio é formar seres humanos melhores. “A clássica história da Cinderela é muito lúdica e abre espaço para gente discutir esses temas com as crianças. Essas ideias de preconceito não nascem com a gente e as crianças estão menos expostas a isso. Elas saem do espetáculo e não sabem se é um homem ou uma mulher quem está fazendo tal personagem. Elas não ligam para questão de gênero, isso se aprende. Se a gente começar com as crianças cedo, com certeza,  elas serão seres humanos melhores”, acredita.Pelo menos outros cinco espetáculos indicados ao Braskem deste ano têm como inspiração esses temas: Malva Rosa, Rebola, Sobejo, Maçã e Romeu & Julieta. “Acho que o teatro, assim como a maioria das artes, tem uma sensibilidade política, porque a gente observa muito o que tem acontecido ao nosso redor”, complementa Lando.Para Kátia Borges, o teatro tem se posicionado vigorosamente nesse cenário de retorno de uma certa repressão. “A intolerância à diversidade sexual e o racismo são vertantes dessa repressão. Acho que o cerne disso tudo é o respeito à pessoa humana”, conclui.Avesso narra a história de uma cidade tomada pelo medo e aborda questões de gênero (Foto:Dynei Araújo/Divulgação)VencedoresApesar da expectativa para o anúncio dos vencedores, hoje, os indicados garantem que o grande vencedor da premiação é o teatro baiano. É ele que será celebrado durante a cerimônia, que tem como grande homenageado o Teatro Castro Alves, que este ano está completando 50 anos de existência.“Eu sempre vou às cerimônias e é uma festa muito bonita. Você percebe as pessoas, tem muita crítica, e ela faz parte, afinal,  tudo que respira, conspira. O prêmio tem um peso na comunidade, as pessoas festejam as indicações, contestam as indicações”, comenta Kátia.No total, 18 espetáculos concorrem em alguma das oito categorias da premiação (confira lista ao lado). Além do troféu, os vencedores das categorias Espetáculo Adulto e Espetáculo Infantojuvenil receberão um prêmio no valor bruto de R$ 30 mil cada, enquanto os demais vencedores serão contemplados com um prêmio no valor bruto de R$ 5 mil cada.INDICADOSEspetáculo Adulto 1.Dark Time (ou a Santa Joana Vive nos Matadouros)2.Laudamuco – Senhor de Nenhures3.Mágico Mar4.Malva Rosa5.RebolaEspetáculo Infantojuvenil 1.Avesso2.Inventa Desinventa3.O Cordel de Maria Cin-Drag-Rela4.PindoramaDireção 1. João Sanches, por Egoptrip2. Marcio Meirelles, por Romeu & Julieta3.Paulo Cunha, por Dark Time (ou A Santa Joana Vive Nos Matadouros)4. Rino de Carvalho, por Mágico Mar5. Thiago Romero, por RebolaAtor1. Danilo Cairo, pela atuação em A Prole dos Saturnos, Laudamuco – Senhor de Nenhures e Narcissus2. Igor Epifânio, pela atuação em Egotrip3. João Guisande, pela atuação em Laudamuco – Senhor de Nenhures e Malva Rosa4. Sulivã Bispo, pela atuação em Kaiala, Rebola e Romeu & Julieta5. Wanderley Meira, pela atuação em Dark Time (ou A Santa Joana Vive nos Matadouros)Atriz 1. Alethea Novaes, pela atuação em Mas não Ande Nua por Aí em Pelo2. Claudia Di Moura, pela atuação em O Galo3. Eddy Veríssimo, pela atuação em Sobejo3. Simone de Araujo, pela atuação em Mágico Mar4. Uerla Cardoso, pela atuação em Sobre a PeleTexto 1. Daniel Arcades, por Rebola2. Fernando Santana, por Sobre a Pele3. Gildon Oliveira, por Avesso4. João Sanches, por Egotrip5. Joyce Aglae, por Mágico MarRevelação 1.Alisson de Sá, pela direção de Malva Rosa2.Fernanda Beltrão, pela atuação em Laudamuco – Senhor de Nenhures3. Fernando Santana, pela direção de Sobre a Pele4. Marcos Lobo, pela direção de Maçã5. Ridson Reis, pela direção de O ContainerCategoria Especial 1. Agamenon de Abreu, pelo cenário, figurino e adereços do espetáculo Avesso2. Maurício Pedrosa, pelo desenho de cenário do espetáculo Mágico Mar3. Uerla Cardoso e Danilo Lima, pela preparação corporal do espetáculo Maçã4. Rino de Carvalho, pelo figurino do espetáculo Mágico Mar