Novos áudios de Joesley mostram mais negociações de propina

Material está sendo analisado pelos investigadores e pode gerar novos inquéritos

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  • Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2017 às 21:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo

Novos trechos de áudios gravados por Joesley Batista e entregues à Procuradoria-Geral da República mostram outras negociações para pagamento de propina. As gravações fazem parte da segunda leva de arquivos remetida na complementação da delação. O material está sendo analisado pelos investigadores e pode gerar novos inquéritos ou ser incluído em investigações em andamento. O material foi divulgado na edição do Jornal Nacional deste sábado.

Em um dos áudios, Joesley Batista conversa com o vice-presidente corporativo da Caixa, Antonio Carlos Ferreira. Joesley já havia contado que Antonio Carlos cobrou propina destinada ao ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, e ao PRB. Na nova gravação, a que a TV Globo teve acesso, Antonio Carlos pergunta sobre um movimento por fora com o Marcos.

Antonio: E aquele outro movimento por fora, com o Marcos?Joesley: Ah, então, ele teve lá, eu fiz mais uma, mais outra.Antonio: Eu tô te perguntando porque ... Joesley: Eu sei, sei, não, eu sei, mas assim, dos seis, faltam 1.800, acho. Eu fiz mais 500, 600, tá faltando, tá faltando três. Com mais três resolve, tá?

Na delação, Joesley contou que Antonio Carlos cobrou uma propina de R$ 6 milhões destinada ao ministro Marcos Pereira. Em contrapartida, o ministro teria ajudado a JBS na liberação de empréstimo na Caixa.

Delatores da J&F contaram que essa conversa foi gravada após um outro diálogo – esse já conhecido - entre Joesley e o próprio ministro Marcos Pereira. Na conversa, o ministro evita falar a palavra dinheiro. Fala apenas em números, mas o empresário cita a palavra “saldo” e indica que estão tratando de repasse de propina.

Joesley: Deixa eu te falar, cê aqui, você lembra? Eu não lembro mais a conta...Marcos: 650Joesley: Como que era?Marcos: Não da última vez...Joesley: Quanto era o saldo? Não lembro mais...Marcos: Ah, pera um minutinho...Joesley: 650... Ah...

O ministro Marcos Pereira é investigado no Supremo em outro caso, relacionado às delações da Odebrecht.

Joesley também gravou conversas com o presidente do Partido Progressista, o senador Ciro Nogueira. Em uma delas, Joesley e Ciro Nogueira falam sobre cargos na mineradora Vale, uma indicação para presidência da empresa e citam o senador Aécio Neves.

Ciro: Quem vai influir muito isso aí é o pessoal de Minas, é o Aécio e tal, né?Joesley: Tem a ver com a Vale...Ciro: Com a Vale. Esse povo de Minas acha que é dono da Vale, né? Joesley: RisosCiro: Mas se ele for pra presidência, ele dá show lá.Joesley: Ele é muito capacitado.Ciro: Aí, como tem essa questão dessa lista que fazem relação, é importante ele entrar. Se tu conseguir ajudar....Joesley: Tá. Eu vou ... Tá.

Joesley já tratou sobre a indicação para a presidência da Vale diretamente com o senador Aécio Neves. Os dois falaram sobre a possível nomeação do ex-presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, preso na Lava Jato. Aécio disse que já tinha indicado o presidente, mas prometeu encontrar uma diretoria para Bendine na Vale.

Joesley Batista e Ricardo Saud continuam presos por suspeita de omitir informações na delação. A Procuradoria quer que os dois percam os benefícios do acordo. Isso ainda será analisado e decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Ministros da corte entendem que, mesmo se os benefícios forem anulados, as provas continuam válidas e podem ser usadas nas investigações.

O vice-presidente corporativo da Caixa Econômica Federal, Antônio Carlos Ferreira, disse que desde que assumiu o cargo, em 2014, vem trabalhando continuamente no combate à corrupção, enfrentando dificuldades para blindar a Caixa de práticas não republicanas. Disse ainda que está prestando todos os esclarecimentos e que vai provar a sua inocência. A Caixa declarou que está em contato permanente com as autoridades para prestar irrestrita colaboração.

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, disse que as gravações foram vazadas de forma parcial e seletiva e que pretende esclarecer todos os fatos na Justiça.

A assessoria do senador Aécio Neves, do PSDB, disse que ele jamais encaminhou qualquer sugestão a Joesley Batista para nomeação em cargo público, nem tem responsabilidade sobre conversas de terceiros. Disse ainda que o diálogo citado é uma indução criminosa de Joesley para obter benefícios com a delação.

O PRB não quis se manifestar. O Jornal Nacional informou que não conseguiu contato com o senador Ciro Nogueira, do Partido Progressista, nem com a Vale.