O Bahia entreouvido na galera

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Publicado em 22 de março de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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“Kayke está jogando pelo nome do time de onde ele veio, só pode”, diz a torcedora, referindo-se ao atacante que em 2017 atuou no Santos. “Kayke está de férias, não é possível”, reclama o outro. “Edigar tenta, mas a fase é miserável”, constata um terceiro. Um tempo de jogo e dois gols de Edigar Junio depois: “Kayke nunca mais. Deixa Edigar centralizado”.

No que um quarto torcedor completa: “Bahia uma desgraça. Mas na hora que o bicho pega quem resolve é Edigar. Guto é muito largo” - no sentido de sortudo, que fique claro. Registro do quinto elemento: “O primeiro tempo foi pavoroso. No segundo tempo, o time muda. É estranho o time do Bahia”.

Os relatos acima foram “entreouvidos na galera”, como diria o saudoso Armando Oliveira, cronista esportivo referência na Bahia, falecido em 2005 (não confundir com Armando Nogueira, também cronista e referência, morto em 2010). Mostram que o time do Bahia - seja personalizado no treinador ou no centroavante em má fase – ainda não conseguiu criar uma empatia com seu torcedor.

Uma parcela dessa falta de empatia vem da mágoa. Parte dos tricolores não perdoou Guto pela ida ao Internacional em 2017 logo depois de ser campeão da Copa do Nordeste, no auge da lua de mel. Mas não dá para colocar tudo na conta da emoção. Há também razão para as críticas às atuações do time. O Bahia versão 2018 oscila e ainda não convenceu seu torcedor, que reage como é possível a ele: pedindo o emprego do treinador ou de quem deveria ser o homem-gol.

Os exemplos do jogo contra o Altos, na terça, nem são os melhores, já que o segundo tempo da equipe foi altamente produtivo, com cinco gols marcados e outros tantos perdidos na cara do gol. Mas bastaram alguns minutos atrás no placar para desencadear tudo que estava preso no peito. E mesmo depois da virada e da goleada, o coro de “Adeus, Guto” continuou. Virou birra.

Conversando com um amigo que se intitula  “da geral”, daqueles  que perdem a paciência na primeira derrota e pedem a cabeça não só do treinador, como do diretor de futebol e do presidente, tive uma surpresa. Dele vem o voto de confiança a Guto Ferreira. Abre aspas: “Lembra o tempo que Guto levou para encaixar o time no ano passado? Não foi tão fácil assim, demorou para deixar o time redondo. Ele ainda está nesse tempo agora”, comentou, pacientemente.

Realmente, em 2017, Gordiola só conseguiu achar o ajuste do Bahia no final de abril, a partir das semifinais do Nordestão, quando a lesão de Hernane e a expulsão de Gustavo levaram o técnico a posicionar Edigar Junio como centroavante. Se o tempo necessário for o mesmo, o torcedor do Bahia ainda tem um mês de teste de paciência pela frente.

O público de 5.275 pagantes registrado contra o Altos foi o segundo pior do Bahia como mandante na temporada. Passou janeiro, passou o Carnaval, e a torcida continua distante da Fonte Nova. Em oito jogos, a média de público tricolor é de 6.883 pagantes por partida. Há de se considerar que estadual e fase de grupos do Nordestão não são lá tão atraentes e, como o time não convence, coloca o ingrediente que faltava para deixar o estádio vazio.*Herbem Gramacho é editor do Esporte e escreve às quintas-feiras