O Catar e o mundo do futebol

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras

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Publicado em 9 de agosto de 2017 às 05:31

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Um cheque de 222 milhões de euros (aproximadamente R$ 821 milhões) que circulou pela Espanha e depois foi aceito pelo Barcelona demonstra a ascensão do poder do Catar no futebol mundial. Um país com pouco mais de 11 mil quilômetros de extensão (Sergipe tem o dobro, acreditem!), que não vê limites para suas fronteiras econômicas. Mas onde Neymar entra nessa história à la mil e uma noites?

O craque brasileiro é mais um elemento em um projeto geopolítico que tem como único objetivo a expansão da já gigante economia catariana. E vamos combinar que para mexer com grandes cifras, o mundo da bola é o segmento perfeito para os investidores.

A partir da Primavera Árabe, em 2011, o Catar começou a se reajustar politicamente, o que vem gerando atritos intensos com os vizinhos Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e Bahrein, que renderam ao país um embargo desde junho deste ano que inclui não só o fechamento do espaço aéreo e das fronteiras dos vizinhos para o comércio até de camelos, como, também, a suspensão da transmissão do sinal da emissora de televisão catariana Al-Jazeera e sua filial esportiva beIN.

No entanto, mais uma vez o apelo do esporte demonstrou sua força e há pouco mais de uma semana, por pressão popular, os Emirados Árabes voltaram a transmitir o sinal da beIN. Com isso, fica ainda mais fácil de entender o porquê do dedo do Qatar Sports Investments, encabeçado pelo xeque Nasser Al-Khelaïfi, no comando do Paris Saint-Germain.

O fundo de investimentos comprou o PSG em 2012 por 253 milhões de euros. Dois anos antes, o Catar foi o mais votado para sediar a Copa do Mundo de 2022 e, mesmo depois de investigações de compra de voto, segue firme como  país-sede e já entregou o primeiro estádio, o Kalifha, e conseguiu até mudar a tradicional data do evento para o mês de novembro devido ao forte calor no Verão.

É nessa esteira que Neymar aparece. Em sua missão por influência global, o pequeno gigante árabe apostou no futebol e precisava de uma estrela para seguir imbatível. A aposta foi no brasileiro que, em quatro temporadas no Campeonato Espanhol, mostrou que é o mais promissor jogador em atividade. Se sem Neymar o PSG já estava disputando holofotes nunca antes imaginados pelos franceses, com o apelo publicitário do camisa 10 da Seleção Brasileira e as caravanas de torcedores que seus dribles e golaços podem aglutinar, isso seria ainda maior. E como um plus, o craque do time francês – e catariano, por que não? – pode ainda se tornar a grande estrela do Mundial de 2022.

E aí, meu amigo, a missão estará cumprida. Porque se tem um mercado poderoso e com grande trânsito em quase todos os países do mundo é o mercado da bola. Se você domina esse mercado, seu poder é imensurável. E em se tratando de extravagâncias e total falta de noção dos limites, os xeques do Catar, com seus iates com mais de 280 pés, suas Lamborghinis banhadas a ouro e seus tigres de estimação, são especialistas.

O mundo da bola, cada vez mais capitalista, aos poucos perde um pouco da sua essência. É um caminho natural da evolução, porém preocupante. O futebol não se tornou um esporte apaixonante por causa do dinheiro. Espero, de verdade, que isso nunca aconteça.