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Miro Palma
Publicado em 18 de outubro de 2017 às 04:00
- Atualizado há um ano
Quando li o tweet da Folha de S. Paulo após o jogo do Bahia no domingo: “Erros derrotam o Corinthians na Bahia e vantagem pode cair para sete pontos”, eu comecei a imaginar a torcida, com as mais de 20 mil pessoas que estiveram presente, recebendo os jogadores do Sport Club Corinthians Paulista e do Erros Futebol Clube. Porque, vamos combinar que o tricolor baiano não entrou nessa equação. Seria mais um caso de um veículo do Sul/Sudeste reduzindo um time do Nordeste a coadjuvante. Mas é pior. Porque, dessa vez, o Bahia foi excluído da cena.
Recentemente, tratei aqui nesta coluna da bronca muito bem dada pelo técnico Vagner Mancini a um repórter da rádio Bandeirantes. Na época, o Vitória tinha sido o alvo do desdém do jornalista depois de um triunfo sobre o mesmo Corinthians, até então invicto no Campeonato Brasileiro.
Aí, hoje, um colega jornalista veio até mim com a mea culpa de que, por aqui, fazemos o mesmo. Por estarmos em veículos nordestinos, destacamos em nossas manchetes os times locais, em detrimento ao triunfo ou derrota. Isso é verdade e é parte do critério de noticiabilidade de um fato. Mas, até para isso, há um limite. Afinal, o erro não joga, não comete uma ação, como bem lembraria um diretor de redação com quem trabalhei.
No ambiente virtual, a resposta a mais esse bairrismo não demorou a chegar. Entre os mais de 1,3 mil comentários, torcedores de todos os cantos contestaram a manchete. “Foram os erros ou foi o @ECBahia? Sou torcedor do @ECVitoria mas essa imprensa #sulmaravilha me deixa enojado”, disse um. “Sou torcedor do Sport e automaticamente rival do Bahia a nível Nordeste, mas essa turma do Sul acha que só existe futebol lá... VERGONHOSO!!”, desaprovou outro. “O @ECBahia ganhou e ganhou com autoridade, essa manchete é tendenciosa e absurda, vamos ser mais profissionais e deixar de bairrismo”, lamentou mais um.
Para compensar o deslize, a Folha mudou o título da matéria no site para “Com erros repetidos, Corinthians perde para o Bahia”. E ainda fez uma errata bem humorada em seu perfil no Twitter: “Erros derrotam o título da Folha ¯\_(?)_/¯. Parabéns pela vitória sobre o líder, @ECBahia (o título foi corrigido, podem clicar)”.
Para não correr o mesmo risco outra vez, a matéria sobre o empate do rubro-negro baiano com o Peixe paulista teve um título mais realista: “Santos é dominado pelo Vitória e não sai do empate no Pacaembu”.
É lamentável que ainda tenhamos que lidar com esse tipo de regionalismo. Primeiro, porque isso diminui um lado para enaltecer o outro e, com isso, descredita o trabalho de profissionais, desprestigia o esforço de torcidas e apequena a imagem de toda uma região. Mas, também, porque é inconcebível em uma comunicação, a cada dia mais globalizada, ver veículos que se projetam como nacionais e, por que não, internacionais, reduzirem seus olhares.
Minha crítica hoje não é somente por ser nordestino e por ser um torcedor apaixonado pelo futebol baiano, mas, principalmente, por ser um jornalista. Como comunicador, vejo com pesar que muitos de meus colegas do Sul/Sudeste ainda não perceberam que a informação não tem – e nunca deve ter – fronteiras.