O futebol é muito desigual

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  • Miro Palma

Publicado em 18 de abril de 2018 às 07:26

- Atualizado há um ano

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Tá pra nascer ambiente mais desigual... Calma, eu não estou falando do Brasil. Poderia, talvez esteja falando dele também em algum nível, mas na verdade estou falando mesmo do futebol. De um lado um Neymar, o jogador mais caro do mundo, vendido por 222 milhões de euros, quase um bilhão de reais, um bi-lhão. Do outro lado um Wallace, meia de 19 anos do Fortaleza, que mal tem condições de comprar uma chuteira.

Wallace não é o único, assim como Neymar. Mas, sabemos que há muito mais jogadores como o meia cearense, leia-se muito mesmo, do que como o craque do PSG. A desigualdade social que racha em um abismo profissionais da mesma área tem raízes nas nossas próprias mazelas sociais e galhos longos na estrutura do futebol brasileiro.

O nosso futebol é feito para poucos. Fato. Poucos jogadores conseguem jogar, poucos times conseguem alcançar índices consistentes e poucos profissionais conseguem trabalhar o ano inteiro. E se não há trabalho, não há patrocínio, não há cotas de investimentos corporativos e de TVs, não há remuneração.

Dos 267 clubes que participaram da primeira divisão de todos os campeonatos estaduais e do Distrito Federal, 190 têm calendário profissional apenas até junho. Isso representa que, para 71% desses times que estão na elite dos seus estados, o ano de competições só tem seis meses. Os números são de um levantamento feito pala Rede do Futebol em parceria com o globoesporte.com, que mostra ainda que dos 8.863 atletas registrados na CBF em 1º de março, 43,5% tinham contratos temporários com prazo de, no máximo, 180 dias.

Ou seja, para esses 3.863 jogadores,  o futebol é um dos outros tantos trabalhos que eles precisam desempenhar ao longo do ano para poder sustentar as suas famílias. Talvez por isso tenha sido tão difícil para o jogador do Fortaleza comprar uma chuteira, dividindo o pagamento do produto que custou R$ 400 em três vezes no cartão da tia. Wallace foi revelado pelo Floresta enquanto disputava o Campeonato Cearense. Essa é a primeira vez que o clube disputa a primeira divisão da competição. Neste ano, também, o Floresta – time que foi profissionalizado em 2015 – vai disputar a Copa do Brasil.

Só que dos 80 clubes que fazem parte das fases iniciais da Copa do Brasil, 60 são eliminados ainda em fevereiro. Em meados de abril, aponta o levantamento da Rede do Futebol e do globoesporte.com, apenas dez deles seguem na disputa. Com isso, mais jogadores, técnicos e outros profissionais precisam arrumar um sustento que o futebol não é capaz de dar.

E não dá porque não quer, porque a mente dos que comandam a engrenagem do esporte é pequena. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que se os jogadores que atuam durante quatro meses por ano jogassem o ano inteiro, existiria uma geração de 25 mil novos empregos e R$ 600 milhões por ano no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Traduzindo: fazer as nossas ligas crescerem, criar novas e aumentar os calendários dos clubes dá dinheiro. E esse dinheiro – além da geração de emprego, da movimentação econômica nas cidades entre outros benefícios – poderia ser uma ponte para ligar o abismo que hoje separa jogadores como Wallace e Neymar.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras